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Descarbonização e inteligência artificial: os fatores-chave para um novo ‘superciclo’ econômico

Estrategista-chefe para mercados globais do Goldman Sachs defende tese em novo livro "Any Happy Returns"

Foram necessárias reformas políticas importantes para garantir uma democracia genuína durante Revolução Industrial; o mesmo desafio nos confronta hoje
 (Stanislaw Pytel/Getty Images)

Foram necessárias reformas políticas importantes para garantir uma democracia genuína durante Revolução Industrial; o mesmo desafio nos confronta hoje (Stanislaw Pytel/Getty Images)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 27 de janeiro de 2024 às 10h58.

Última atualização em 27 de janeiro de 2024 às 14h19.

Após anos de juros baixos, a próxima década está fadada a taxas mais elevadas – ou pelo menos sem quedas tão abruptas quanto aquelas que vieram após a crise financeira de 2008.

Esse cenário, juntamente com o aumento do risco geopolítico em tempos de guerras na Ucrânia e em Israel, e maior protecionismo, revertendo o cenário de globalização, mostra uma ruptura em relação ao ‘superciclo’ de crescimento econômico que se viu ao longo dos últimos 35 anos.

Ainda assim, o avanço da inteligência artificial e da descarbonização devem pavimentar o caminho para um novo tipo de superciclo ao longo das próximas décadas. Essa é a tese de Peter Oppenheimer, estrategista-chefe do Goldman Sachs para mercados globais e pesquisador dos longos ciclos econômicos. 

O tema é objeto de seu segundo livro, "Any Happy Returns", que desenha os impactos e as lições dos últimos superciclos para o mercado financeiro. A obra se segue a “The Long Buy”, dedicada a estudar esses ciclos e os fatores que os afetam.

“A abordagem de dividir ciclos em longos períodos sugere que, enquanto podem existir flutuações de curto prazo em economias e mercados financeiros, há também tendências de longo prazo que podem ser levadas por grandes inovações e que trazem desdobramentos em aspectos sociais e políticos”, diz Oppenheimer.

O ciclo anterior, chamado de "Moderno", de 1982 a 2020, é um marco em relação a todos os que vieram antes dele, por ser extremamente longo e caracterizado por baixa volatilidade macroeconômica, além de um custo de capital em queda. Essa fase acabou, na visão do autor.

Ele resume as diferenças em relação à 'era' anterior em oito fatores: aumento no custo de capital; queda no crescimento populacional; mudanças de globalização para a regionalização; aumento no custo de trabalho e de commodities; maiores gastos do governo; aumento de gastos em infraestrutura; envelhecimento da população de países desenvolvidos; e aumento de tensões geopolíticas.

"Acredito que as próximas décadas podem ser mais similares a algo que vimos no fim do século 19”, disse o economista em entrevista à CNBC, fazendo alusão aos efeitos mais intensos da revolução industrial.

No centro da sua tese estão os avanços de produtividade que devem acontecer na economia por conta da revolução a ser causada pela IA. Além disso, com os avanços tecnológicos, será necessário investir cada vez mais em energia. Em um mundo dominado por preocupações com o clima, cada vez mais economias devem se reestruturar e modernizar, de olho em garantir o atendimento da demanda com energia verde.

"As mudanças no mercado de trabalho e no de energia vão criar vencedores e perdedores. Assim como nos anos 1970, altos custos de trabalho e de commodities devem gerar mais investimentos de companhias para se tornarem mais eficientes", diz o autor. "Uma transição bem-sucedida para um mundo net zero geraria não apenas benefícios de saúde, mas abriria as portas para o custo de consumo de energia ficar próximo de zero".

No livro, o autor cita dados da Comissão de Transição Energética, think tank internacional. A projeção da firma é que o investimento de capital necessário para atingir emissões net-zero globalmente seria de US$ 3,5 trilhões entre 2020 e 2050, três vezes mais do que é gasto hoje, em torno de US$ 1 trilhão. A Comissão estima que 70% disso é exigido para geração de energia de baixo carbono, transição energética e distribuição. 

Junto a essas tendências que surgem a partir de um mundo com novas necessidades, o autor também aponta oportunidades do "velho mundo" que devem ficar em alta no novo ciclo econômico. A principal delas está em infraestrutura, tendo em vista tanto o aumento de gastos com Defesa quanto com novas fontes de energia. "Nada disso poderá ser feito com o desenvolvimento de apps ou software. Será necessário investir em infraestrutura", diz o autor.

Olhando para o mercado financeiro, Oppenheimer afirma que já há oportunidades a serem capturadas. Segundo ele, as companhias de tecnologia voltadas para atender o mercado de IA, direta ou indiretamente, ainda estão baratas.

Hoje, as sete maiores empresas de tecnologia no S&P 500 relacionadas a IA têm um uma relação de preço e lucro média de 25. Na bolha pontocom, do fim dos anos 1990, esse indicador era de 52, para as maiores companhias de tecnologia da época. Na bolha Nifty Fifty – quando um grupo de grandes companhias como Xerox, Polaroid e IBM tiveram retornos acima da média e se beneficiaram da crença de que eles poderiam ser mantidos no longo prazo –, esse indicador era de mais de 34..

“Um ponto muito relevante em relação à bolha das ponto-com é que as líderes em IA já são rentáveis”, aponta Oppenheimer.

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