Renata Generoso: "mulheres preferem ser atendidas por outras mulheres, na área de investimentos" (Necton/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 8 de fevereiro de 2021 às 12h11.
Quem acha que o slogan da rede de departamento Marisa, “de mulher para mulher”, é bom só para vender roupas e acessórios é porque ainda não conheceu o que ele pode fazer na indústria de investimentos. A corretora Necton, fundada em 2018, já descobriu.
A casa surfou a onda do forte crescimento dos investidores diretos da B3, mercado que dobrou de tamanho em 2020 e alcançou 2,6 milhões de CPFs cadastrados para negociação, donos de 3,2 milhões de contas em corretoras.
A receita líquida mensal da Necton terminou o ano com um aumento de 70% sobre o ano anterior, ao atingir um patamar da ordem de R$ 15 milhões. O desempenho é resultado da expansão anual de quase 50% no total de ativos sob custódia, para R$ 18 bilhões em dezembro, e da alta de 40% na base de clientes, que terminou ano passado próximo a 70 mil CPFs.
Mas os resultados da casa guardam um segredinho extra. A corretora apostou forte em diversidade. Ali não cola a perspectiva de que mercado financeiro é lugar para homens. Marcos Maluf, em entrevista ao EXAME IN, conta que 45% dos colaboradores — “315 e contratando” — são mulheres. Mais do que isso, 40% das posições de liderança são ocupadas por mulheres.
“Quem planta, colhe”, diz um desses ditos populares que atravessa gerações. Com essa decisão de apoiar a diversidade interna, a Necton vem percebendo que isso também se reflete — e não é pouco — na diversidade externa.
Do total da base de clientes ativos, 40% são mulheres e elas respondem por 30% do montante sob custódia. O índice é bastante superior à média do mercado — quase 60% mais alto. O estudo da B3 sobre os investidores pessoas físicas aponta que 25,5% do público que aplica diretamente na bolsa são do sexo feminino, conforme os dados atualizados no fim do ano passado.
Para a Necton, essa fotografia é música, uma vez que esse mercado cresceu ligeiramente acima do total. A participação das mulheres no total de contas abertas saiu de 22%, em 2018, para 25,5%, ao término de 2020. Ao fim de 2018, as mulheres tinham 179,4 mil contas e essa soma pulou para 809,5 mil no fechamento do ano passado.
A expectativa, porém, é que esse mercado cresça muito mais, uma vez que a população feminina do país equivale a 52% do total. É isso que mais anima. A combinação entre os dados do IBGE e da B3 indica que, embora a diversidade de gênero tenha melhorado nos indicadores na bolsa, o número ainda tem muito espaço para mudanças.
Renata Generoso, que é diretora comercial da Necton, explica que as mulheres preferem ser atendidas por outras mulheres na assessoria de investimentos. “Elas se sentem mais à vontade, sem medo de perguntar e demonstrar o que não sabem. As mulheres são, naturalmente, mais acolhedoras no tratamento.” Essa proximidade surtiu um efeito fenomenal no ano passado, pois o número de clientes mulheres cresceu 143% — muito acima do que média total da corretora.
Na opinião da executiva, essa mudança no mercado, com expansão da presença feminina está apenas no começo. Mas, segundo ela, a melhoria dos indicadores de gênero e sua velocidade vão depender muito de quem está na linha de frente do atendimento. As mulheres representam 80% dos agentes autônomos que são plugados à Necton.
“Há uma diferença de perfil do investidor entre feminino e masculino, sim. É claro que as mulheres estão aprendendo ao correr mais risco. Mas é um público mais estável, mais consistente para o médio e longo prazo. É importante saber com quem você está falando”, destaca ela.
Quando lê que a data de fundação da Necton é o ano de 2018, o leitor não deve confundir essa informação com ser um novato do mercado. A realidade é bem o contrário disso. A Necton é a marca que surgiu após a fusão entre as corretoras Spinelli e Concórdia, que teriam hoje 68 e 35 anos de vida, respectivamente. Depois disso, vieram aquisições de outros nomes tradicionais. Em 2019, comprou a carteira da Coinvalores e, no ano passado, da Lerosa e da Mundinvest.
A fusão uniu os sócios Marcos Maluf e Rafael Giovani. Para terminar o agito de 2020, o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) adquiriu a casa em outubro, por R$ 348 milhões. A vida da corretora, porém, vai seguir independente, com marca e estratégia decidida pelos sócios da fundação.
A Necton não quer ser conhecida como uma casa “para mulheres”. O público continua sendo multigênero. Porém, de acordo com Renata Generoso, existe um plano de reforçar as qualidades da corretora para lidar com o público feminino ao longo deste ano. Entre os produtos próprios, tem um fundo cuja equipe de gestão é pioneiramente só formada por mulheres. A carteira terá uma campanha específica. Além disso, a ideia é retomar um programa em vídeo chamado “rompendo a resistência”.
Apostar na diversidade de gênero para os quadros da casa, a princípio, não tinha outro objetivo a não ser refletir a população brasileira. Mas, o resultado forte sobre a base feminina, levará a empresa a buscar outras formas de atrair ainda mais mulheres.
Maluf também destaca que sempre foi uma preocupação da corretora uma comunicação simples e fácil, dado que muitas pessoas acham o tema investimentos complicado. Na opinião dele, essa preocupação ajudou muito no crescimento total da casa.