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De app a forno com AirFryer: novo chefe da Whirpool aposta em inovação e projeta mercado melhor

Gustavo Ambar, que está na companhia há quatro anos, assume cadeira em meio a ambiente desafiador de mercado

Gustavo Ambar: executivo projeta crescimento de um dígito para o ano (Whirlpool/Divulgação)

Gustavo Ambar: executivo projeta crescimento de um dígito para o ano (Whirlpool/Divulgação)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 22 de maio de 2023 às 17h03.

Última atualização em 22 de maio de 2023 às 18h09.

Nas contas da Whirlpool (com base em dados da consultoria GfK), o setor de eletrodomésticos linha branca deve crescer entre 5% e 6% no Brasil em 2023 — um ritmo que a companhia, dona da Brastemp e Cônsul, deve seguir. É o que diz Gustavo Ambar, o novo Gerente Geral da operação brasileira, em entrevista exclusiva ao EXAME IN. Com 25 anos de experiência, o executivo chega ao cargo em meio a um período desafiador de demanda, com juros altos e redução do poder de compra do consumidor. Mas, na visão dele, o ambiente futuro, especialmente do segundo semestre para frente, é melhor do que o de 2022 e de 2021, com a redução das incertezas na cadeia de distribuição e a perspectiva de queda de juros no futuro.

Enquanto os bons ventos não chegam, a saída para se aproximar do consumidor -- e que deve ganhar ainda mais força diante de um ambiente mais animador em vendas -- é investir em inovação. "Mesmo que o consumidor esteja com o bolso mais apertado, vendemos itens necessários para o dia a dia dele. Se o comprador precisa trocar geladeira, fogão e máquina de lavar, ele pode não trocar os três agora, mas certamente um deles será substituído", diz Ambar.

No ano passado, a Whirlpool fez o maior evento de lançamento de produtos desde 2019, com 33 novidades lançadas ao mercado ao mesmo tempo. A missão era a de atrair tanto a atenção do consumidor com maior poder aquisitivo que buscava por inovação quanto a do consumidor de menor renda, ao oferecer produtos mais baratos e versáteis. Essa toada continua em 2023. "Estamos atentos aos hábitos do consumidor. Lançamos recentemente, por exemplo, um forno com air fryer que foi um sucesso de vendas, dado o apego do brasileiro a esse eletrodoméstico", diz o CEO.

Além de novos produtos, o investimento em inovação também contempla serviços. Neste início de ano, a companhia lançou ao mercado um aplicativo de receitas, chamado Yummly. Basicamente, trata-se de uma oferta que veio a partir de uma startup adquirida pela Whirlpool fora do Brasil e que fornece opções filtradas e personalizadas para os usuários, com base nas preferências alimentares, além de receitas passo a passo com a possibilidade de selecionar os ingredientes que se tem em casa. Ao todo, são mais de 6 mil receitas dentro do aplicativo, que cobra uma mensalidade de R$ 9,90.

Todos esses investimentos estão contemplados no plano de investimento da empresa, que contempla cerca de 3% a 4% da receita direcionados a inovação. Um olhar de lupa sobre os últimos inícios de ano da Whirlpool mostra que o patamar se mantém estável, na esteira da falta de crescimento da primeira linha do balanço.

De janeiro a março de 2023, a receita líquida caiu 2,7% na comparação anual, para R$ 2,6 bilhões. O resultado reverte o ciclo de crescimento em que a empresa estava desde 2018 (olhando para os períodos correspondentes, ou seja, os primeiros três meses do ano, tradicionalmente mais fracos em demanda).

A receita menor, somada às despesas financeiras e à perda de eficiência da operação (com menos vendas, os ganhos de escala diminuem),fez  o lucro líquido da Whirlpool na América Latina ficar 44% menor do que o dos primeiros três meses de 2022, em R$ 69 milhões. Em um olhar de curto prazo, o Brasil ainda tem uma demanda estável, enquanto o México começa a mostrar os primeiros sinais de crescimento, como afirmou Mark Robert Bitzer, CEO global da Whirlpool, a analistas na divulgação dos dados do primeiro trimestre.

É em meio a esse novo ambiente, de patamares de demanda diferentes entre países, que a Whirlpool também fez uma mudança importante no seu C-level. O novo Gerente Geral do Brasil acumula, também, o cargo de vice-presidente da América Latina. O foco é, justamente, aumentar a interação e o aprendizado entre mercados. "Por exemplo, enquanto o Brasil tem uma versatilidade maior de geladeiras, o México tem de fogões”, diz Ambar. 

O movimento completa o investimento realizado no último ano, de uma nova fábrica para produção de cerca de 300 mil lavadoras frontais por ano, na Argentina. Mais de 70% dos itens fabricados por lá deve vir para o Brasil. O investimento vem para completar a capacidade de produção local: hoje, a Whirlpool tem três fábricas no país, em Rio Claro, Manaus e Joinville.

Mais cooperação entre os países pode, no fim das contas, trazer ganhos para a operação brasileira daqui para frente. Um desafio não só para a Whirlpool, mas para todos os fabricantes locais. "Estamos tentando entender em que momento nós nos encontramos e o que deve vir daqui para frente. Em 2020, tivemos um ano excelente em demanda com as pessoas em casa, na pandemia, mas a partir de setembro de 2021 a demanda começou a ficar mais fraca, com um crescimento de 0,5% em 2022", diz Jorge Júnior, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros).

Na visão do porta-voz, ainda é cedo para cravar que 2023 será um ano de recuperação. O veredito, mesmo, deve vir a partir do meio do ano, com o primeiro semestre fechado. O raciocínio é que, tendo em vista que os primeiros seis meses do ano são de demanda mais fraca, um aumento de julho a dezembro, na comparação anual, poderá indicar uma recuperação. É com esse caminho, o de um mercado melhor pela frente, que a Whirlpool conta para crescer.

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