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De agro a energia, os bastidores da visita dos sauditas ao Brasil

O interesse foi direcionado a setores que aliem potencial de retorno com a construção de um futuro sustentável para a Arábia Saudita

BTG e sauditas: banco já administra recursos de diferentes fundos na região (BTG Pactual/Divulgação)

BTG e sauditas: banco já administra recursos de diferentes fundos na região (BTG Pactual/Divulgação)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 10 de agosto de 2023 às 06h00.

Última atualização em 11 de agosto de 2023 às 14h38.

Infraestrutura, agronegócio, energia, mineração, farmacêutico. A ampliada gama de mercados foi o foco de interesse de uma delegação de 150 sauditas em passagem pelo Brasil na última semana.

O país está interessado em mais do que capitalizar os investimentos financeiros nos próximos anos, segundo executivos que acompanharam a comitiva saudita, ouvidos pelo EXAME In. Em uma maratona de reuniões no Brasil, empresários, investidores e políticos sauditas mostraram um compromisso com um projeto de futuro para a Arábia Saudita.

Eles estiveram no Brasil para encaminhar negociações que garantam ao país as ferramentas que no médio e longo prazo diversifiquem a economia e tragam sustentabilidade em alimentos, energia limpa, água e medicamentos. A preferência é por negócios em que possam se associar e garantir a destinação de produtos e tecnologia para o Oriente Médio. São objetivos condensados no Vision 2030, um plano para abrir a economia saudita ao mundo.

Nesse mapeamento, o Brasil entrou na rota por uma soma de fatores. O país é um importante fornecedor global de alimentos e um líder natural na energia limpa. Tem, também, um ambiente político e empresarial aberto e distante dos nós geopolíticos globais.

O PIF, o fundo de investimento do governo saudita, tem como meta investir US$ 1 trilhão nos próximos anos pelo mundo. Caso o Brasil receba 2% do total, já seriam US$ 20 bilhões, volume que explica a agitação que tomou conta da Faria Lima nos últimos dias.

O desafio das empresas brasileiras é originar os negócios, como explica Mario Cavalieri, sócio responsável pela operação do banco BTG Pactual no Oriente Médio. O BTG (do mesmo grupo de controle da EXAME), se consolidou como um protagonista na aproximação entre a Arábia Saudita e o Brasil.

Nos últimos quatro anos, Cavalieri acompanhou André Esteves, sócio sênior do BTG Pactual, em visitas à Arábia Saudita, que incluíram apresentações e encontros com autoridades. Em 2021 e 2022, Esteves participou do Future Investment Initiative (FII), ou 'Davos no Deserto', como é conhecido popularmente o fórum. Neste ano, será um dos principais palestrantes do fórum.

Em 2022, o BTG foi o primeiro banco latino a pedir licença de operação na Arábia Saudita, onde ficará sediado seu headquarter regional no Oriente Médio. O banco está formando uma equipe local de executivos, chefiada por um membro de uma das famílias mais ricas do país do Oriente Médio.

O foco nesse primeiro momento estará direcionado a três áreas, começando por Investment Banking, focado em transações entre Brasil e Arábia Saudita. Entre os negócios desta empreitada está a venda de 13% da unidade de metais básicos da Vale para a saudita Manara Minerals, anunciada em 27 de julho, como parte da estratégia do PIF.

O BTG Pactual ainda vai estabelecer por lá uma vertical de commodities e uma gestora que já tem US$ 1 bilhão em carteira. O banco já administra recursos sauditas faz tempo. Hoje, estão sob gestão recursos do PIF e da SAMA, a autoridade monetária local. A relação com os sauditas, vale dizer, não implica em exclusividade – tanto o banco mantém negociações com outros países da região, como os sauditas têm negociações com outras instituições brasileiras.

A aproximação chega em um momento de transformação para a Arábia Saudita. Mohammad bin Salman, o príncipe herdeiro saudita, tem promovido ações de olho em uma modernização do país de 36 milhões de habitantes. Sua visão é também liderar a atração de investimentos para todo o mundo árabe, o que eleva a população para mais de 1 bilhão de pessoas e turbina o potencial de negócios para as empresas brasileiras.

O interesse estratégico pelo Brasil levou a Arábia Saudita a assinar, em 2019, um memorando de investimento de US$ 10 bilhões junto ao governo do então presidente Jair Bolsonaro. Em 2023, foi o governo de São Paulo quem convidou a comitiva saudita a vir ao Brasil, numa agenda que reuniu encontros com autoridades e eventos privados, como o Summit para 200 convidados organizado pelo BTG.

Os objetivos são de longo prazo, mas empresários ouvidos pelo EXAME In acreditam que cerca de 5 negócios podem ser fechados já no curto prazo, como decorrência das conversas realizadas em São Paulo. Todos eles relevantes tanto para os empresários brasileiros, quanto para o futuro da Arábia Saudita.

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