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CVC sobe 20% e vira protagonista da bolsa mesmo com turismo congelado

Presidente do conselho, Silvio Genesini, contou que definição sobre capitalização só virá após fim da investigação interna e do balanço auditado de 2019

 (CVC/Divulgação)

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GV

Graziella Valenti

Publicado em 2 de junho de 2020 às 20h08.

Última atualização em 3 de junho de 2020 às 00h45.

A operadora de turismo CVC foi a protagonista dos últimos pregões da B3. Só hoje a ação subiu 20% e fechou em 18,60 reais, ainda que nada se saiba sobre o futuro do setor de turismo. O valor de mercado da empresa voltou ao patamar anterior ao início do isolamento social no Brasil, do início de março: 2,76 bilhões de reais. Nos dois últimos dias, o ganho acumulado é de 30%.

A companhia tem uma lista de novidades para apresentar ao mercado. As altas, à espera dessas informações, contaram também com a crescente aposta dos investidores de que o mundo não enfrentará uma segunda onda de contágio do novo coronavírus, ou seja, nenhuma temporada extra de isolamento à vista. É a crença do dia.

Um novo grupo de acionistas formou uma posição importante na empresa nos últimos meses e o time inclui Pátria e Brasil Capital, segundo Silvio Genesini, presidente do novo conselho de administração da companhia. A maior participação, contudo, é disparada do Opportunity, com 10,15% do capital. Os demais não aparecem no formulário de referência disponível no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o que indica fatias pulverizadas e inferiores a 5%.

Da lista de tarefas da CVC, segundo Genesini afirmou ao EXAME IN, primeiro serão resolvidas as questões ligadas à investigação interna, a respeito dos erros contáveis encontrados nos balanços dos últimos anos, para que então as demonstrações financeiras auditadas de 2019 possam ser apresentadas (e a dos anos anteriores reapresentadas). Essas questões estão interligadas, mas podem ter prazos diversos, pois é preciso submeter o balanço às auditorias.

Só a partir daí será definida a questão da capitalização do negócio — ao longo do segundo semestre. Genesini demonstrou simpatia pelo modelo da Natura, uma capitalização privada, com garantia firme dos atuais principais sócios e mais uma fatia de fundos de mercado.

A empresa anunciou no fim de fevereiro que, ao preparar as demonstrações de resultado do ano passado, encontrou problemas na contabilização de valores transferidos a fornecedores de serviços turísticos. A estimativa era, na ocasião de um impacto de 250 milhões de reais, nas receitas registradas de 2015 a 2019. Desde então, a CVC Brasil, maior operadora de turismo do país, vive uma crise (particular) dentro de uma outra (pandemia), ainda maior.

A discussão sobre a capitalização, segundo Genesini, envolverá consultas aos fundos que consolidaram participação importante na companhia recentemente e indicaram três dos sete membros do conselho de administração. A posição foi montada após o anúncio dos problemas na contabilidade e durante o início do período de isolamento. Para obter recursos novos para fortalecer o caixa, o Itaú BBA foi contratado para assessorar a companhia.

O modelo e o valor, explicou ele, estão em discussão nesse momento e não há nenhuma decisão sobre se os recursos virão dos sócios atuais, de novos ou do mercado, de forma pulverizada — ou ainda tudo misturado. “O aumento de capital da Natura é um ótimo exemplo”, comentou.

“Tem que ter muito cuidado para falar de preço da ação na bolsa. Mas quanto mais o papel se valorizar, melhor é, pois reduz a diluição dos atuais acionistas e facilita nas conversas”, comentou. A ação ainda acumula queda de 60% no ano. Mas, em relação ao piso pós-pandemia, a valorização é de quase 200%.

O mercado estima que a CVC demandaria em torno de 1 bilhão de reais. O valor leva em consideração a pretensão da empresa de usar os recursos para fortalecer o negócio, para o mundo pós-covid-19, mais vencimentos da ordem de 900 milhões ao longo deste ano, na soma de empréstimos mais debêntures. O caixa da companhia estava em 365 milhões no fechamento de dezembro, conforme números não auditados apresentado pela empresa. Genesini, contudo, não forneceu um valor. “Vamos definir tudo isso com calma e juntos com os atuais acionistas. Neste instante, está tudo em aberto.”

A CVC não tem apenas um conselho novo, tem uma diretoria nova também. Leonel Andrade assumiu como presidente no fim de março, após o anúncio dos problemas contábeis no balanço.

No dia 21 de maio, foi realizada a primeira reunião do novo conselho de administração. O encontro, segundo Genesini disse ao EXAME IN, durou praticamente o dia todo. Na ocasião, os conselheiros tiveram oportunidade de interagir com todos os assessores que estão envolvidos nas diversas frentes de trabalho atuais e também com o novo presidente.

O conselho de administração também discutiu melhorias nos controles internos e a formação de comitês de assessoramento do colegiado, para fortalecimento da governança: comitê de estratégia e inovação; de pessoas e remuneração; e de auditoria e partes relacionadas.

O prazo final estabelecido para apresentação das demonstrações financeiras auditadas é 31 de julho, mas pode ser que ocorra antes. “O quanto antes possível”, disse Genesini. Muitos acreditam que, a despeito da crise duplicada, a CVC pode sair melhor no médio e longo prazo, devido à natural posição de vantagem frente às empresas do ramo de menor porte. “Nesse momento, não estamos pensando por esse lado. Nosso foco é querer a sobrevivência de todos, pois precisamos de todos estruturados na cadeia para o bom funcionamento do setor. A pandemia vai passar e os destinos turísticos vão continuar existindo.”

 

 

 

 

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