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CVC registra piso histórico na B3, com vendas em 71% do nível pré-pandemia

Reservas confirmadas em abril e maio somam R$ 2,6 bilhões, 152% do volume de igual período do ano passado

CVC: depois de enfrantar pandemia, companhia precisa lidar com ambiente de taxa de juros para lá de salgadas (Germano Lüders/Exame)

CVC: depois de enfrantar pandemia, companhia precisa lidar com ambiente de taxa de juros para lá de salgadas (Germano Lüders/Exame)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 19 de julho de 2022 às 21h16.

Última atualização em 19 de julho de 2022 às 21h18.

O caos aéreo conquistou as manchetes de jornais e sites no Brasil e no mundo. E bem no meio do aquecimento da demanda pós-pandemia, quando finalmente a procura por viagens parece ter explodido, as ações da CVC (CVCB3) alcançaram o piso histórico. No começo da semana, o papel fechou a R$ 6,44 — abaixo de seu pior momento no auge da pandemia, que foi a R$ 7,43, em março de 2020. Hoje, a recuperação foi quase pífia: alta de 1,71%, levando a cotação a R$ 6,55. A companhia está avaliada em R$ 1,8 bilhão na bolsa. Na oferta de ações realizada no fim de junho, quando a empresa levantou R$ 400 milhões, as ações foram vendidas a R$ 7,70. A fotografia na B3, portanto, está pior do que antes da capitalização, terceira operação para reforço de caixa desde que o novo coronavírus dominou o mundo.

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Após o fechamento do pregão desta terça-feira, 19, a CVC repetiu para o mercado alguns dados que já havia antecipado há cerca de 40 dias sobre o segundo trimestre, na forma de um fato relevante. As reservas confirmadas de abril e maio somaram R$ 2,6 bilhões — é quase o mesmo volume do primeiro trimestre inteiro e representa 152% das vendas de todo segundo trimestre de 2021. As novidades da empresa, mesmo positivas, não estão sendo suficientes para encorajar os investidores. O valor em bolsa está pouca coisa acima da soma de tudo que a empresa levantou com vendas de ações desde o começo da crise: quase R$ 1,5 bilhão.

“O crescimento nas reservas confirmadas deve-se, principalmente, à retomada da demanda por viagens de turismo e de eventos corporativos, flexibilização de restrições para viagens nacionais e internacionais, reabertura da temporada de cruzeiros 22/23, retomada de eventos culturais e corporativos, recomposição de malha aérea e ampliação da oferta de voos exclusivos”, afirma a empresa no comunicado ao mercado.

Mas por que, então, as ações não reagem? Ao contrário, só caem. Bem, o pessimismo está tão alto que alcançou o pior nível da história no que diz respeito à expectativa de crescimento e rentabilidade para a temporada de balanço nos Estados Unidos, conforme pesquisa mensal realizada pelo Bank of America. O levantamento mostra que os fundos do mundo todo assumiram posições tão ou mais conservadoras do que no ataque às Torres Gêmeas, em setembro de 2001, e na quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008.

Para completar, embora as cenas dos aeroportos mostrem milhares de pessoas viajando, a lotação e o caos são fruto, principalmente, do encolhimento do staff. Mesmo com o forte crescimento, as vendas de abril e maio da CVC ainda representam 71% do total registrado no mesmo período de 2019, antes das restrições de mobilidade causadas pela crise sanitária. Há uma melhora importante em relação ao primeiro trimestre, quando esse indicador estava em 54%, afetado pela Ômicron. Mas ainda está abaixo dos 89% verificados no terceiro trimestre de 2021, por exemplo.

O aumento da taxa de juros — e agora a piora nas expectativas, com analistas apontando que o ciclo de alta da Selic ainda não chegou ao fim — atinge em cheio o negócio. E, apesar de a empresa ter sinalizado que a oferta de ações do fim de junho foi o encerramento de sua reestruturação financeira, o mercado ainda não está tão certo disso.

Entre janeiro e março, a CVC teve o primeiro Ebitda positivo desde o quarto trimestre de 2019, num total de R$ 33 milhões. Contudo, ainda houve queima de caixa. Mais uma vez, apesar de a tendência ser positiva, a leitura dos investidores é que ela ainda não é tão positiva quanto necessário para dar conta da dívida. Em especial agora, que as taxas de juros vão deixar as despesas financeiras salgadas. A companhia possui títulos emitidos a um custo de CDI mais 6% ao ano. Em uma conta simples, se a Selic alcançar 14% e lá ficar por um período considerável, equivale a um custo de capital de 20% ao ano.

Ao fim de março, antes do novo reforço de caixa, a CVC tinha R$ 1,15 bilhão em dívida bruta — R$ 356 milhões em compromissos líquidos. A companhia deve mostrar uma fotografia melhor no segundo trimestre, tanto pelo lado das vendas, conforme antecipado, como da situação financeira. A questão, para além do pessimismo, é que uma vez superada a pandemia, a CVC agora vai enfrentar um cenário de demanda mais fraca, agora impactada pelo CDI, e aumento nas despesas com dívidas.

As notícias são boas, mas para trazer otimismo, num cenário de aversão ao risco em níveis altíssimos, elas precisariam ser melhores. O balanço do segundo trimestre completo será divulgado em 9 de agosto, após o fechamento do mercado. Será ele suficiente para dar fim, ou pelo menos amenizar de forma relevante, as preocupações?

 

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