Valentina Garcia: planos para crescer e para encontrar caminhos de perenizar plataforma (Valentina Garcia/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 6 de outubro de 2021 às 16h52.
Última atualização em 6 de outubro de 2021 às 17h12.
A vida começa aos 40. Quem, ao entrar na casa dos ‘enta’, nunca ouviu essa expressão? Mas ela não serve para Valentina Garcia, retrato de uma nova geração. Aos 17 anos, a estudante do 2º grau, de Goiânia, acumula uma lista de feitos. Nos estudos, é claro, mas como empresária precoce também. Apaixonada por programação desde os 12 anos, Valentina é o que se pode chamar de uma jovem inquieta. Nem a pandemia a segurou. Muito pelo contrário. A encheu de ideias e ela já tem seu próprio negócio.
Nas férias de 2020, ainda no auge das incertezas em relação à crise sanitária do novo coronavírus, Valentina se inscreveu num curso do Insper, onde teria de entregar um protótipo de um projeto para avaliação em uma espécie de concurso. O tema era: soluções para o contexto educacional para o Brasil pós-covid.
“Eu estava muito sensibilizada pela pandemia. Vi de perto o que ela estava fazendo comigo e com meus amigos. O isolamento social afetou as pessoas e, além disso, muitas pessoas próximas sofreram perdas familiares”, conta ela ao EXAME IN. Foi assim que a estudante decidiu que um dos maiores desafios desse cenário seria o desgaste emocional e decidiu se debruçar sobre formas de democratizar o suporte para estudantes, em especial aqueles em fase pré-vestibular, bastante pressionados.
Nasceu, então, o embrião da plataforma de atendimento a estudantes por psicólogos chamada “Me Conta” que, em menos de 100 dias de existência, sem esforço de marketing, já recebeu mais de 1.700 visitas. Mas ali foi apenas a largada. A faísca. O projeto ganhou destaque no programa de verão do Insper. Contudo, ainda teve de aguardar mais um tempo e, naquele momento, Valentina ainda não tinha certeza de que tudo aquilo sairia do papel, ainda que vontade não faltasse.
No mesmo 2020, ela também participou de um Bootcamp da Inteli, faculdade criada por André Esteves e Roberto Sallouti (que fazem parte do grupo que controla a Exame). Foi a mais jovem participante. “Tive de me dedicar muito. O mais jovem depois de mim tinha 22. Passei noites em claro. Mas valeu a pena. Foi onde aprendi a programar”, conta ela que também é pianista e tira músicas de ouvido, além de ter suas próprias composições.
O amor pela programação aproximou Valentina de outro aprendizado nessas experiências extra-curriculares de 2020: empreender. “O que o empreendedor faz é olhar para a sociedade e propor soluções. É o que eu mais gosto de fazer. Esse é meu objetivo de vida. Solucionar os desafios da sociedade contemporânea”, diz, com a certeza dos ‘enta’ que ainda não está nem perto de alcançar.
No começo de 2021, Valentina entrou em contato com Clara Tripodi, de Salvador, que conheceu durante o curso de verão no Insper, uma das pessoas então integrantes de seu grupo de trabalho. E se dedicaram de forma entusiasmada a fazer o projeto acontecer de verdade.
E conseguiram. A “Me conta” é uma plataforma de atendimento psicológico para jovens estudantes, em especial os mais carentes, pois até o momento é totalmente gratuita. O atendimento tem três principais vertentes: o acolhimento, em situações de estresse agudo e emergências, o desenvolvimento do autoconhecimento, e a psicopedagogia.
Hoje um negócio a pleno vapor, a Me conta tem equipe de TI, de marketing, de desenvolvimento, jurídica, além é claro do corpo que faz o atendimento — são 76 pessoas no total. No início de setembro, tinha 344 usuários, com um total de quase 600 sessões realizadas.
Agora, as sócias fundadoras estão pensando em formas de encontrar fundos para dar perenidade à iniciativa que deu para lá de certo em pouquíssimo tempo. Até o momento, nem um único tostão foi gasto. O atendimento na plataforma é feito por estudantes de psicologia, que se voluntariaram e foram selecionados após uma oferta para o projeto realizada via LinkedIn.
“Nós percebemos que a oferta de estágio para esses futuros profissionais era escassa e ficou ainda mais na pandemia”, conta a jovem empreendedora. "Mas deu muito certo. E o interessante é que esse estudante de psicologia ainda tem muito viva a experiência do vesticular e dessa fase." Todo o projeto foi desenvolvido após consulta ao Conselho Federal de Psicologia e conta ainda com uma rede 12 mentores, profissionais seniores, para dar orientação aos estudantes da profissão. Nesse curto período de tempo, a rede já chamou atenção de uma profissional brasileira que vive na Itália e que está interessada em replicar o modelo naquele país.
A ideia agora é crescer e seguir com a tarefa de atender quem precisa. Valentina conta cheia de orgulho que mais de 75% dos estudantes usuários pertencem à rede pública, onde ela entende que estão os maiores desafios e a maior dificuldade na busca por ajuda. "Ainda é um serviço muito elitizado." Nos próximos passos da Me conta estão a busca por financiamento e o estudo das soluções de crowdfunding, assim como meios de cobrar pelo atendimento, mas garantindo que continue sendo um serviço acessível.
“Não esperava que em tão pouco tempo ter esse resultado”, comenta ela, já com tom de empreendedora e executiva, enfatizando que é chegado o momento de investir mais em tecnologia para melhorar ainda mais a plataforma e o canal. “Minha vida mudou e minhas perspectivas também.”
Seu feedback é muito importante para construir uma EXAME cada vez melhor.