(Germano Lüders/Exame)
Graziella Valenti
Publicado em 17 de abril de 2020 às 13h08.
Última atualização em 17 de abril de 2020 às 17h20.
Os investidores pessoas físicas respondem por 22,7% de tudo que foi negociado na bolsa em abril, até dia 14 – na soma de transações de compra e venda de papéis. É de longe a maior participação que esse público já alcançou no mercado. Essa é a proporção do que os pequenos aplicadores giram diretamente, sem ser pela mão dos fundos de investimento – considerados o principal canal de acesso ao mercado.
A pandemia acelerou a participação dos investidores individuais de forma absolutamente inesperada até mesmo para os maiores especialistas no assunto. Para se ter uma ideia, esses aplicadores foram responsáveis por pouco mais de 18,2% das negociações em bolsa no fim de 2019. Em 2015, foi a menor participação dos últimos cinco anos, com 13,7% - a partir de então essa fatia variou entre 17% e pouco mais de 18%.
A abrupta e forte queda no preço das ações acabou despertando o interesse de compra dos investidores e os encorajando a vôos solos maiores na gestão de suas carteiras. Além disso, é sabido que esse aplicador é mais propenso ao trade, ao giro rápido, do que os profissionais tradicionais da indústria de investimento. A atual volatilidade do mercado, portanto, é um prato cheio para quem gosta de trocar de posições com frequência.
O investidor não só está negociando mais como também está em maior número. Nesses três meses de 2020, a base de CPFs inscritos na B3 aumentou 562.000, passando de 1,681 milhão em dezembro para 2,243 milhões ao fim de março.
Em contrapartida, a movimentação gerada pelos investidores institucionais nacionais despencou de 35,6% em dezembro para 25,6% em abril, indicando que os gestores de fundos estão privilegiando movimentos seletivos – nem compras nem vendas generalizadas.
A retirada acelerada de recursos do Brasil por investidores estrangeiros mantém esse participante ainda com uma gorda fatia dos negócios na B3: 45,8% em abril, proporção bastante em linha com os anos anteriores. Agora, contudo, por motivos ruins. Até o momento, os fundos internacionais já tiraram do Brasil mais de 66 bilhões de reais, só no acumulado deste ano.
Em todo ano de 2019, os estrangeiros tiraram quase 45 bilhões de reais da bolsa brasileira. O saldo geral foi amenizado por compras superiores a 38 bilhões de reais nas ofertas primárias de ações. O atual nível de preço e volatilidade do mercado, contudo, não favorece a realização de captações desse tipo, para atenuar o saldo final. A bolsa vive um ano dos mais difíceis, mas seria pior sem os pequenos.