Exame IN

Nova vertical: em sua maior aquisição, Creditas compra a Minuto Seguros

Com a aquisição da startup, que é pioneira em seguros digitais no Brasil, a fintech de crédito marca sua entrada no mercado de seguros

Sergio Furio, fundador e presidente da Creditas: “Sempre fiquei empolgado com a possibilidade de criar uma plataforma completa que juntasse crédito e seguros”
 (Germano Lüders/Exame)

Sergio Furio, fundador e presidente da Creditas: “Sempre fiquei empolgado com a possibilidade de criar uma plataforma completa que juntasse crédito e seguros” (Germano Lüders/Exame)

CI

Carolina Ingizza

Publicado em 21 de julho de 2021 às 05h00.

A Creditas, unicórnio brasileiro conhecido pelas soluções de crédito digitais, está entrando de cabeça no mercado de seguros. Seguindo sua estratégia de construir um ecossistema de produtos financeiros, a fintech acaba de adquirir a operação da insurtech Minuto Seguros, líder em seguros digitais no país.

A transação é a maior já feita pela Creditas, segundo disse o fundador e presidente Sergio Furio ao EXAME IN. O valor exato não foi revelado pelas companhias, mas Furio garante que o total investido é “significativamente maior” que o último investimento anunciado da Creditas, de R$ 95 milhões na startup de motos elétricas Voltz.

Entrar no mercado de seguros sempre esteve nos planos da Creditas — e era uma cobrança dos investidores —, mas a empresa percebeu que seria mais rápido e eficiente adquirir um negócio com uma grande carteira de clientes do que começar uma nova operação do zero. A Minuto Seguros foi a candidata ideal.

Fundada em 2012 por Marcelo Blay, há 30 anos no setor, a insurtech tem mais de 160.000 clientes e fatura por ano R$ 250 milhões com os prêmios dos seguros. “O Marcelo Blay é uma referência no mercado de seguros. A Minuto surgiu com outras 20 corretoras digitais, 90% delas não progrediram, mas ela escalou ao longo dos últimos 10 anos”, diz o presidente da Creditas.

A Minuto fornece a cotação em tempo real com 16 seguradoras parceiras e permite que os clientes façam a contratação e a gestão dos sinistros de forma digital. A startup trabalha com seguros para casas, viagens, vidas, eletrônicos e empresas, mas tem o seguro auto como carro-chefe da operação.

Desde sua criação, acumulou mais de US$ 60 milhões em aportes, principalmente dos fundos Redpoint eventures, sediado em São Paulo, e da Intact Ventures, com sede em Toronto, no Canadá (ambos seguem como acionistas da Creditas). Na sua última rodada, em 2019, foi avaliada em US$ 133 milhões.

A aquisição pela Creditas veio em um momento em que o mercado de tecnologia brasileiro, inspirado pelos exemplos internacionais — como a americana Lemonade, que abriu capital em 2020 — está empolgado com as possibilidades do universo de seguros. Investidores e empreendedores acreditam que este mercado gigantesco e concentrado na mão de poucos players pode viver um movimento parecido com o das fintechs, dando origem a alguns "Nubanks" das apólices.

Oportunidade não falta. Mesmo rendendo bilhões de reais por ano, os seguros têm pouca penetração no Brasil. O seguro de vida, por exemplo, é usado por 15% da população brasileira contra 44% da americana. Apesar da baixa adesão, as receitas desse mercado mais do que dobraram de tamanho na última década: passaram de R$ 95 bilhões em 2009 para mais de R$ 273 bilhões no ano passado, segundo a CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras). Movimentos de flexibilização do mercado por parte da Susep (Superintendência de Seguros Privados), como o lançamento do sandbox regulatório, também animam as empresas do setor.

Essa movimentação fez os holofotes do mercado se virarem para a Minuto, que está há uma década com uma operação digital de seguros funcionando. Segundo Marcelo Blay, a startup foi assediada ao longo do último ano por bancos interessados em intermediar operações de M&A. A ideia de vender o negócio não parecia atrativa ao fundador até que a Creditas, também investida pela Redpoint, chegou com uma proposta no começo de janeiro. "Não poderia haver uma transação em melhor momento e com melhor parceiro. Conheço o Sergio há oito anos e somos muito alinhados em termos filosóficos, de transparência", diz Blay, que passa a ser sócio da Creditas e o vice-presidente da nova unidade de seguros da companhia.

Com a Creditas, a Minuto Seguros vai poder ampliar seu leque de produtos e investir mais na aquisição de clientes. Afinal, capital não é um problema para a fintech, que recebeu um aporte de US$ 225 milhões em dezembro do ano passado, em rodada que a avaliou em US$ 1,75 bilhão.

Os sócios estão há três meses trabalhando em formas para aproveitar as sinergias entre o mercado de crédito e de seguros. A princípio, a maior integração deve acontecer na frente de automóveis da Creditas — que cresceu em maio deste ano com o lançamento da revenda online de veículos usados e seminovos, para além dos tradicionais serviços de financiamento e crédito com garantia de automóvel. A ideia é que, a partir da aquisição da Minuto, o cliente da Creditas possa comprar em um só lugar o veículo e o seguro.

O inverso também será explorado. A Creditas pretende analisar a situação financeira dos mais de mais de 160.000 clientes da insurtech para poder oferecer seus produtos de crédito e as soluções para casa, automóvel e salário. "O que acreditamos é na junção do crédito com o seguro, com uma vertical alimentando a outra. Não estamos inventando a roda, é o que os bancos já fazem, mas queremos fazer isso de forma digital", diz Furio.

A expectativa é que, com investimentos em marketing e contratações, a Minuto siga os passos da Creditas e dobre de tamanho em 2020. A fintech de crédito, mesmo em um ano de pandemia, duplicou sua operação em 2020 e projeta crescer 2,5 vezes neste ano. Na frente de fusões e aquisições, mais novidades estão a caminho. Furio diz que seu time está constantemente monitorando oportunidades e que a empresa deve anunciar outra transação nos próximos dois ou três meses.

A aquisição é a segunda transação anunciada pela Creditas em 2021. Em janeiro, logo após conquistar o apelido de unicórnio, a empresa comprou a operação da Bcredi, uma plataforma de crédito imobiliário curitibana. Antes disso, em agosto de 2019, comprou a startup de crédito consignado Creditoo.

A visão da Creditas

A Creditas ganhou terreno no mercado brasileiro popularizando uma modalidade de crédito pouco comum no país: o empréstimo com garantia de imóveis e automóveis, que tem taxas de juros mais baixas na comparação com outras modalidades. O negócio foi criado pelo espanhol Sergio Furio, que trocou a vida no mercado financeiro em Nova York pela oportunidade de empreender no Brasil, o país natal de sua parceira e conhecido pelos altos custos de crédito.

Furio desembarcou em São Paulo em 2012 e fundou a startup BankFacil, uma plataforma de educação e prospecção para os grandes bancos. Foi só a partir de 2016 que a empresa entrou no mercado que a tornaria conhecida e passou a adotar o nome Creditas. De lá para cá, já originou mais de R$ 2 bilhões em crédito e expandiu sua área de atuação para além do Home Equity, empregando mais de 2.500 pessoas.

Furio explica que a estratégia da empresa hoje é se aprofundar nas frentes em que já atua, criando um ecossistemas de soluções que tenham os ativos dos clientes no centro. A grosso modo, a empresa se centra na casa, no carro e no salário dos clientes finais para pensar os produtos. Não à toa, hoje a fintech oferece desde produtos financeiros para financiar reformas e troca de carros, até crédito consignado, benefícios flexíveis e financiamento da compra de eletrônicos, como iPhones. "Em cada uma das áreas há muita coisa sendo feita e muita coisa que precisa ser feita. Aos poucos, vamos abrindo pequenas frentes dentro do ecossistemas que estamos criando", diz o fundador.

Assine a EXAME e acesse as notícias mais importantes em tempo real.

De 1 a 5, qual sua experiência de leitura na exame?
Sendo 1 a nota mais baixa e 5 a nota mais alta.

Seu feedback é muito importante para construir uma EXAME cada vez melhor.

Acompanhe tudo sobre:CreditasCréditoFusões e AquisiçõesSeguros

Mais de Exame IN

Renner vem bem no terceiro trimestre – mas não tão bem quanto se esperava

Vinci compra controle do Outback no Brasil em operação de R$ 2 bi

Magazine Luiza lucra R$ 70 milhões no 3º tri e bate (de longe) consenso

Para lidar com juros altos, Assaí reduz alavancagem e fica menos promocional no 3º tri