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Copom: traído pela inércia da inflação e pela semântica

Ata confirma Selic a 7% e explicita política monetária contracionista, risco de inércia inflacionária e necessidade de ancorar expectativas

BC vê recuperação robusta da atividade ao longo do 2º semestre e composição desfavorável da inflação (Gil Ferreira/Agência CNJ/Divulgação)

BC vê recuperação robusta da atividade ao longo do 2º semestre e composição desfavorável da inflação (Gil Ferreira/Agência CNJ/Divulgação)

AB

Angela Bittencourt

Publicado em 10 de agosto de 2021 às 09h56.

A palavra tem poder. Sabem os oradores, os pregadores, os políticos e os bancos centrais. A palavra escrita vale ainda mais. Dizem, tem poder de lei. Não é à toa, que as atas das reuniões de política monetária de qualquer banco central são ansiosamente aguardadas e analisadas com lupa pelos mercados financeiros no mundo inteiro. Aqui não é diferente. Inclusive, porque o Banco Central do Brasil de Roberto Campos Neto prima por uma transparência que entrega em seus documentos. A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) – que elevou a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 5,25%, na maior alta em 18 anos – é objetiva e clara quanto ao propósito do BC e, por tabela, quanto à trajetória da taxa básica de juro: a inflação ainda é uma ameaça e o juro continuará subindo.

Na ata publicada nesta terça-feira, o Copom confirma a necessidade de “elevações de juros subsequentes, sem interrupção, até patamar acima do neutro para que se obtenha projeções em torno das metas de inflação no horizonte relevante”. Aponta 7% como taxa a ser alcançada para que a expectativa de inflação fique ancorada. O documento reconhece como apropriado um ciclo de elevação do juro para patamar consistente com “política monetária contracionista”. E também alerta que a longa sequência de choques e revisões das expectativas de inflação numa única direção – para cima – pode gerar um aumento da percepção de inércia inflacionária.

Para quem duvida da transparência do BC, a ata sugere que o Copom foi traído pela semântica. A exemplo da ata da reunião de junho, o documento divulgado nesta terça repete “inflação” 31 vezes e “fiscal” 2 vezes. Caindo em desuso, “neutro”, como patamar para taxa de juro, é mencionado 1 vez. Em junho, foram 2 vezes. Nesta ata de agosto, porém, o comitê estreou “inércia” referindo aos riscos colocados pela persistente inflação; também trouxe ao texto a política monetária “contracionista”. E não economizou quanto às “expectativas”. O substantivo foi repetido 8 vezes, quase três vezes mais que na ata anterior.

A ata do Copom, ao lado do Relatório Trimestral de Inflação, é o documento de maior impacto elaborado pelo Banco Central e as novidades semânticas apresentadas ou reforçadas nesta edição de agosto não poderiam ser mais apropriadas. Afinal, a inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA que é a referência para a nossa política de metas de inflação, chegou a 8,99% em 12 meses. Numa “conta de padaria”, pela simplicidade, o juro real é negativo em mais de 3%.

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