Musk: desafio dobrado com a Tesla em 2022 (Ted Talk/Reprodução)
Karina Souza
Publicado em 9 de junho de 2022 às 15h30.
Última atualização em 9 de junho de 2022 às 15h36.
Elon Musk enfrenta um novo período turbulento com a Tesla. Depois dos problemas de 2018 com a produção da montadora de veículos elétricos, hoje, o combo de desinvestimento em empresas de alto crescimento e os lockdowns na China dificultam a vida de um dos empresários mais polêmicos dos Estados Unidos. Isso se reflete na forma como ele se comporta, de modo a atrair atenção para si, em uma tentativa de tirar os holofotes sobre o momento atual para a companhia, como defende um artigo publicado pelo Business Insider nesta quinta-feira.
Colocando os fatos em números, as ações da Tesla despencaram 40% do início do ano até agora, em mais um movimento do mercado de colocar dinheiro em ativos mais ‘seguros’ em termos de geração de valor. Ao mesmo tempo, a competição aumenta, com montadoras como Ford, Renault, Hyundai e Volkswagen desenvolvendo novos veículos elétricos em série, que têm dividido a atenção de clientes. “O mix de veículos da Tesla está ficando velho, e dada a propensão da companhia a atrasar prazos de entrega, não há uma data clara para quando o Cybertruck — que deveria ter sido lançado no ano passado — estará de fato disponível”, escreve a jornalista Linnete Lopez.
Ainda em relação à competição, um outro ponto destacado na matéria é o fim da venda de créditos fiscais por parte da Tesla. Em linhas gerais, se uma companhia produz mais veículos elétricos do que o benchmark do governo estipula, ela recebe créditos que podem ser vendidos para outras empresas que não conseguiram atingir o mínimo necessário. De novo, mais competição significa menos necessidade de compras desses créditos.
Para completar esse cenário, a China enfrenta lockdowns em série e já não há uma clara perspectiva a respeito de quando (e se) a companhia vai atingir a meta de crescer 5,5% neste ano. As fábricas da Tesla fecharam e há uma estimativa, segundo o artigo, de que 50 mil carros deixaram de ser vendidos. Em abril, foram 1.512 veículos chineses vendidos, uma queda de 98% em relação ao mês anterior. Além disso, os incentivos para comprar veículos — num esforço de fazer a economia voltar a girar — com redução de impostos valem somente para veículos que custam menos de US$ 45 mil, o que deixa de fora a maior parte dos veículos da Tesla na região.
É um momento completamente oposto ao enfrentado pela companhia há pouquíssimo tempo. Em 2020, a empresa valia US$ 117 bilhões de acordo com a capitalização de mercado e, no fim do mesmo ano, estava avaliada em mais de seis vezes esse valor, a US$ 658,39 bilhões. Em outubro de 2021, a companhia ultrapassou o trilhão em capitalização de mercado.
Diante de todos os problemas no meio do caminho, Musk se ressente. E o temor sobre a opinião de investidores se transforma, quase como uma válvula de escape misturada com cortina de fumaça, em posts no Twitter. É um comportamento que vem desde 2018, segundo o Business Insider — época em que a Tesla enfrentou desafios gigantescos de fabricação ao tentar implantar uma fábrica totalmente autônoma.
É um solavanco, mas ainda há certa perspectiva positiva sobre o futuro do mercado asiático de veículos elétricos. Um estudo feito pela KPMG no último ano mostra que esses veículos vão representar metade das vendas nos Estados Unidos, Japão e China e 49% na Europa. No fim de 2021, as vendas representam 10% do total de vendas. Ainda assim, o desafio permanece: conseguir fazer com que os veículos demorem menos de 30 minutos para carregar e saber o que será feito com o descarte das baterias são pontos incertos não só nesses mercados, mas em escala global.
De olho em superar pelo menos um desses desafios, a Tesla planeja formar uma parceria com a fabricante chinesa de baterias BYD, ‘queridinha’ de Warren Buffett. Um relatório divulgado pela empresa aponta que ela e a Tesla agora têm “uma boa relação de amizade”, nas palavras do CEO descritas no comunicado.
Ainda nesta manhã, o banco UBS recomendou a compra das ações da montadora, após a queda dos papéis desde o início do ano. Em seus comentários, Patrick Hummel definiu um preço-alvo de US$ 1,1 mil por ação, um upside de 50% para a companhia, cujos papéis estão avaliados em cerca de US$ 700.
“A companhia teve queda de 35% nos papéis, em linha com outras ações de tecnologia, mas nós acreditamos que o aspecto operacional da companhia é bastante positivo, principalmente graças a fatores como a construção de novas fábricas, aumento da margem bruta e a reestruturação gradual da cadeia de suprimentos, que deve resultar em mais crescimento e rentabilidade”, diz o analista.
É um olhar otimista para o futuro. Por outro lado, existe a dúvida sobre como Elon Musk vai lidar com a nova crise e quando a companhia vai, enfim, dar lucro. Por enquanto, o que fica é a certeza de que a dor de cabeça do fundador da montadora não deve ir embora tão cedo.
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