Água: transformações no tratamento de esgoto na Iguá Saneamento renderam reconhecimento à gestora (Getty Images/Getty Images)
Repórter Exame IN
Publicado em 30 de junho de 2023 às 18h42.
Última atualização em 13 de dezembro de 2023 às 19h24.
“ESG in action” é um dos termos mais falados pela gestora de private equity IG4 desde que Paulo Mattos (ex-GP Investimentos e ex-BNDES) tirou a empresa do papel no fim de 2016. Significa, basicamente, colocar os critérios de sustentabilidade, governança e sociais junto aos indicadores de desempenho das empresas que recebem um investimento da gestora. Sete anos depois de colocar a estratégia em prática, a 'fórmula' conquista reconhecimentos importantes também da porta para fora. Nesta semana, a gestora recebeu um prêmio para a própria atuação na Iguá Saneamento e a empresa investida Opy Health, plataforma de ativos de infraestrutura e serviços não essenciais da área hospitalar, conquistou a certificação de empresa B.
Com US$ 1,2 bilhão sob gestão, a firma reforça a tese de que empresas que conseguem colocar os critérios de sustentabilidade, governança e sociais no dia a dia valem mais do que as demais. "Companhias que estão mais bem posicionadas em rankings consagrados, como o MSCI, por exemplo, têm até 1,2 vez EV/Ebitda a mais do que as pares do setor", diz Gema Esteban Garrido, diretora global de ESG da IG4, ao EXAME IN.
É um trabalho visível no caso da Iguá Saneamento. Em 2017, quando a gestora comprou o controle da então CAB Ambiental dentro do processo de recuperação judicial da Galvão Engenharia, o Ebitda da empresa estava abaixo de R$ 200 milhões. Em 2022, o indicador passou para R$ 800 milhões, impulsionado pela licitação da Cedae, do Rio de Janeiro. E ainda há apetite para mais, muito mais. Carlos Brandão, CEO da Iguá, afirmou ao EXAME IN no ano passado que o objetivo final é quintuplicar o negócio, tomando como base o cenário encontrado há seis anos.
O ESG é parte intrínseca a esse processo. O reconhecimento oferecido à IG4 , no oitavo prêmio anual de acordo ESG de capital privado latino-americano da Associação para Investimento Privado da América Latina (LAVCA) está ligado ao negócio central da companhia investida: tratamento de água.
Na prática, em vez de usar o processo tradicional para separar os dejetos da água, que envolve principalmente o uso de químicos (e a consequente liberação de metano), a Iguá começou a usar bactérias para fazer esse mesmo processo. A inovação levou à redução de emissões, contribuindo para a meta da IG4 de se tornar carbono neutro em 2040.
Além disso, a Águas Cuiabá, concessionária do grupo, usa o material produzido a partir do lodo das Estações de Tratamento de Esgoto da capital do Mato Grosso para transformá-lo em fertilizante agrícola de alta qualidade. A iniciativa, além de tratar a qualidade do solo, aumentou em até 150% a produção leiteira.
Além de Cuiabá, outras quatro concessionárias da Iguá também adotaram um método sustentável para o descarte do lodo gerado no processo de tratamento de água e esgoto, transformando-o em tijolos ecológicos e argila para a produção de cerâmica, diminuindo o impacto ambiental e encerrando o ciclo do esgoto.
Em uma ponta menos tecnológica e mais social, está o case da IG4 com a Opy Health. A certificação de empresa B -- na qual, além do retorno aos acionistas, o negócio, os produtos e os serviços oferecidos devem trazer benefícios para a sociedade e ao meio ambiente -- foi obtida no nível mais alto para o setor de hospitais em todo o mundo (lembrando que há apenas 3 empresas, contando com a Opy, nesse segmento) veio principalmente de um trabalho de treinamento.
Ao atuar em áreas acessórias de um hospital, por exemplo, segurança e alimentação, a gestora colaborou para promover treinamentos dentro da companhia, fundada há apenas três anos. O resultado? Nota 93 no NPS dos hospitais em que está presente, lembrando que são todos públicos.
Além disso, a Opy colocou em prática a aplicação de estratégias de economia de energia e eficiência no uso de água nas próprias instalações, investiu em diversidade, com mais de 50% dos colaboradores mulheres e certificação dos serviços ONA e ISO 9001.
“Entendemos que o capitalismo pode ser sustentável na medida em que enxergamos em nossa responsabilidade socioambiental uma oportunidade não só de fazer melhor, mas de investir no impacto do negócio para as futuras gerações. Em qualquer empresa e especialmente na nossa, responsável pela gestão de contratos de longo prazo, é fundamental uma visão mais abrangente do investimento para garantir um sólido retorno à sociedade", afirma Otávio Silveira, CEO da Opy Health, em nota.
Todo esse trabalho deve ser continuado nos futuros investimentos da gestora, que hoje tem outros três fundos abertos para captação: o IG4 Private Equity Special Situations Fund III, que tem como meta captar US$ 500 milhões e está em vias de chegar a um first closing, o IG4 Credit Solutions Fund, que tem como meta captar US$ 300 milhões, e o IG4 Infrastructure Value Fund, que objetiva US$ 1 bilhão.
O terceiro portfólio, em vias de fechar, terá a mesma estratégia que os dois primeiros. O foco são sempre companhias que precisem passar por uma transformação, normalmente que exigem uma reestruturação financeira e operacional ao mesmo tempo. A IG4 é quem monta tanto a reorganização da dívida como da estratégia. Para isso, trabalha apenas com oportunidades nas quais possa ser controladora ou co-controladora.
Dentro do que está na carteira hoje, a meta, de curto prazo, é trazer reconhecimento às demais três empresas do portfólio: CLI, Adelco (chilena) e Aenza (peruana). Mas não qualquer certificação. Para Garrido, o destaque é o Dow Jones Sustainability Index. "É um dos melhores do mundo, tem muitos recursos. É verdade que tem mais empresas de capital aberto, mas isso não nos intimida. Todas as nossas empresas devem passar por lá", diz a executiva.
Além deste ranking, outro que também se tornou meta para todas as investidas, depois de ser obtido pela Iguá, é o GRESB, um dos mais renomados de infraestrutura no mundo. Isso sem falar na certificação B, obtida inclusive pela própria IG4 em 2018.
E ainda é só o começo. Os planos da executiva, passada a etapa de certificações previstas, envolvem o estudo de métricas que possam cada vez mais correlacionar ESG com geração de valor. "O futuro para mim é muito mais como conseguir essa alavanca de geração de valor. Para que, cada vez mais, fique claro que as companhias que investem nesses critérios não sejam percebidas como as demais”, diz Garrido.