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Com receita recorde de R$ 1 bi e selo inédito de controle, Frescatto está aberta a aportes

Com quase 80 anos de história, empresa familiar é a primeira do setor a conquistar o "Selo Mais Integridade" por dois anos seguidos

Peixe: Frescatto vendeu 21 mil toneladas em 2022 para 11.800 clientes (Frescatto/Divulgação)

Peixe: Frescatto vendeu 21 mil toneladas em 2022 para 11.800 clientes (Frescatto/Divulgação)

Graziella Valenti
Graziella Valenti

Editora Exame IN

Publicado em 13 de abril de 2023 às 08h21.

Última atualização em 13 de abril de 2023 às 08h28.

A Frescatto, uma das maiores produtoras de peixe para o varejo (corte, embalagem e distribuição) do país, quer perenizar o negócio familiar, que no ano que vem fará nada menos do que 80 anos. A companhia comemorou nesse começo de 2023 dois marcos inéditos. É a primeira empresa do setor a receber o "Selo Mais Integridade” por dois anos consecutivos, uma certificação promovida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Com isso, poderá a partir de agora destacar a informação na embalagem de seus produtos. Além disso, o fechamento do balanço de 2022 trouxe outro feito histórico para o negócio: pela primeira vez, a empresa teve receita superior a R$ 1 bilhão.

“O selo não diz respeito, diretamente, à qualidade do produto. Mas indiretamente, sim. Ele observa fatores de governança, sustentabilidade e responsabilidade social. Avalia todo sistema de controle da empresa”, explica em entrevista exclusiva ao EXAME IN Thiago De Luca, presidente da companhia e neto do fundador, imigrante italiano que começou como feirante, no Rio de Janeiro.

O Comitê Gestor do "Selo Mais Integridade" é composto por membros instituições públicas e privadas. Além do Mapa, participam a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e até a Controladoria-Geral da União (CGU). Já na esfera privada, compõem o comitê a Alliance for Integrity, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (Ethos), a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e o Instituto Rede Brasil do Pacto Global.

Aos poucos, já com a segunda geração à frente da empresa, o negócio foi se transformando de uma peixaria para algo muito maior, com o advento de novas tecnologias de congelamento do alimento, o que trouxe previsibilidade para entregas ao varejo. E o negócio cresceu. “Outra coisa boa do selo é que a gente pode puxar o restante do setor”, afirma o executivo, que defende uma profissionalização e maior controle sobre a produção dessa proteína, que ainda possui muita informalidade na cadeia.

A companhia vendeu 21 mil toneladas no ano passado, uma expansão pequena frente as 20,5 mil toneladas de 2021. Mas o aumento no preço fez a receita avançar 25% e a principal vitória, para De Luca, foi a expansão de 8% no número de clientes da empresa, que passou para 11.800. A Frescatto distribui seus produtos para São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal e Recife. A companhia não faz a pesca nem o cultivo, via aquicultura, mas se abastece de ambas as fontes e mais importações.

“É tudo certificado e muito monitorado”, enfatiza ele. Apesar do cumprimento de todas as regras, o executivo ressalta que o setor precisa de um novo marco regulatório, mais atual. As regras são da década de 60. Ele acredita que inclusive parâmetros ambientais podem estar obsoletos, até mesmo relacionados às temporadas de pesca. “Quem garante que continua tudo igual tanto tempo depois?”, questiona.

Futuro

De Luca acredita que apesar da informalidade e dos diversos desafios de fiscalização e controle, o setor da proteína de peixe começará uma consolidação em breve. Por isso, está aberto a conversas sobre investimento de fundos ou até de companhias estratégicas. “O grande desafio das empresas familiares é a terceira geração. Nós estamos passando bem por essa fase, com crescimento e investimento. Estamos trabalhando para essa empresa poder seguir com 80 anos, sem precisar estar com a família”, diz ele, que está na empresa há cerca de 20 anos. O negócio hoje pertence integralmente à família.

"“Estamos trilhando nosso caminho. Somos muito apaixonados pelo negócio. Mas vemos a entrada de um sócio como um acelerador do que podemos construir. Estamos abertos a todas as possibilidade e planos de crescimento”, diz De Luca."
Frescatto CEO Thiago De Luca

Thiago De Luca, presidente da Frescatto: "estamos abertos a todos os planos de crescimento" (Frescatto/Divulgação)

O peixe é a proteína cujo consumo per capita mais avançou nas últimas décadas. O último levantamento global aponta que o consumo mundial passou de 9 quilos per capita para 20,5 quilos por pessoa entre 1961 e 2018 – ou seja, mais do que dobrou. No Brasil, ainda há muito espaço para expansão, na visão do executivo. Ele destaca que com a evolução das pesquisas e maior preocupação com a saúde, cada vez mais se fala sobre os benefícios da inclusão do peixe na rotina de alimentação. No Brasil, segundo o presidente da Frescatto, a média nacional deve estar próxima de 10 quilos per capita, ante 23,5 do indicador global (estimativa do executivo, conforme a evolução do setor).

O movimento que De Luca espera para o peixe não é muito diverso daquele vivido pelo setor de carne bovina a partir do início dos anos 2.000, que culminou com a abertura de capital de grupos como JBS, Marfrig e Minerva – o que acelerou ainda mais os movimentos de fusões e aquisições. Embora em estágio bem mais avançado, a chamada carne vermelha ainda é alvo de um esforço das empresas de destacar a importância da marca na hora de o consumidor selecionar os produtos, a fim de garantir o cuidado com a origem.

Um indicador da expectativa de aumento do interesse pelo peixe foi o movimento da própria JBS, que vem diversificando sua atuação não apenas do ponto de vista regional, mas de portfólio também. Em 2021, a empresa adquiriu a Huon, produtora de salmão com sede na Tasmânia, por US$ 315 milhões. “Para gente isso é bom, pois mostra o potencial do peixe”, destaca De Luca.

O fato de ser uma proteína cujo consumo é considerado mais sustentável que as demais, não faz com que o setor não escape de críticas de organizações ambientalistas que apontam excesso da exploração dos mares e oceanos e a falta de controle sobre as embarcações. A certificação da Frescatto, explica De Luca, ajuda para garantir presença em supermercados, que na média são submetidos a maiores controles sobre os produtos comercializados. A companhia trabalha com 30 variedades de peixe, de diversas origens do mundo, e possui mais de 500 SKUs, os tipos de unidade vendida – pode ser fresco, congelado, cortes variados.

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