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Com mea culpa, BTG rebaixa Vale e alerta: ‘armadilha de valor’

Em meio a impasse sobre comando da companhia e ruídos políticos, banco joga a toalha: 'Estávamos errados há mais de um ano'

 (Germano Lüders/Exame)

(Germano Lüders/Exame)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 5 de março de 2024 às 12h37.

Última atualização em 5 de março de 2024 às 12h40.

Apesar de uma visão ainda otimista para o minério de ferro e os fundamentos da indústria, o intenso ruído político fez o BTG (do mesmo grupo de controle da Exame) jogar a toalha e retirar sua recomendação de compra para a Vale.

“Ainda vemos as ações subvalorizadas, mas agora elas parecem mais uma value trap [armadilha de valor] do que uma história de oportunidade de extração de valor de verdade”, escreveram os analistas Leonardo Correa e Caio Grainer em relatório publicado  na noite de ontem.

Num mea culpa de franqueza rara no sellside, a equipe deixou claro que está “errada no call há mais de um ano” e rebaixou o preço-alvo para as ADRs da Vale de US$ 19 para US$ 16, com recomendação neutra. Negociada próxima das mínimas desde 2021, o papel está cotado a cerca de US$ 13.

Entre os principais fatores pressionando as ações, os analistas elencam principalmente a indefinição sobre os rumos da companhia, que ficou clara com o racha do conselho na escolha do novo CEO. “Isso é preocupante para uma empresa com tantos desafios para frente”, aponta.

Além disso, houve uma piora no fluxo de notícias em torno da repactuação do acordo pelo acidente de Samarco, com o aumento de US$ 1,2 bilhão nas provisões no último trimestre, que agora chegam a US$ 4,2 bilhões.

A possibilidade de surpresas em relação à Mariana e também ao acidente de Brumadinho tem sido um dos principais pontos que vem levando os estrangeiros a vender as ações da companhia nos últimos meses, aponta o BTG.

“Os números podem ser significativamente mais altos e uma resolução final ainda pode levar meses”, ressalta Correa.

Outro ponto negativo foi a série de interrupções de operação que a companhia enfrentou no Pará, nos projetos de Sossego e Onça Puma, neste começo de ano. Todas elas foram revertidas – mas são um sinal claro das hostilidades das autoridades locais em relação à empresa.

"Os riscos internos aumentaram recentemente, pressionando a geração de caixa e o potencial de dividendos, o que nos leva a acreditar que esses riscos ainda não foram totalmente precificados no mercado", dizem os analistas.

Em meio à deterioração no cenário, a Vale tem optado por preservar caixa e acabou não anunciando dividendos extraordinários com o resultado do quarto trimestre, divulgados no último dia 22. Os números, melhores que o esperado, não foram suficientes para dar ânimo para a ação, mostrando o peso da âncora formada pelos ruídos envolvendo os papéis.

Nas contas do BTG, a Vale está negociando a 4,3 vezes seu EBITDA, com um desconto de 15% a 20% em relação aos pares australianos – o que, em sua visão, parece justo, dadas as incertezas que rondam a companhia.

O banco calcula que o yield de fluxo de caixa – considerando os desembolsos previstos para Samarco e Brumadinho – está entre 9% e 10%, o que não é suficiente para acomodar os riscos.

Outro ponto negativo na tese, aponta o BTG, é o fato de que a tese de expansão do prêmio de preço para o minério de maior qualidade da Vale (com mais teor de ferro, e portanto menos poluente) deve demorar mais que o esperado para vingar.

“A indústria chinesa está sofrendo de ampla sobrecapacidade, e pressões de rentabilidade, com margens de conversão negativas nas siderúrgicas. Nesse cenário, o objetivo é corte de custos e sobrevivência e ninguém está pagando preços maiores”, ponderam os analistas.

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