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State Grid e Eletrobras são favoritas para megaleilão de transmissão de R$ 22 bi

Empresas devem competir pelo maior lote, de R$ 18 bi em investimentos; Alupar pode entrar na disputa por lotes 2 e 3

Linha de transmissão da  State Grid: Chinesa é favorita para o maior lote, com R$ 18 bi de investimentos  (China Daily/Divulgação)

Linha de transmissão da State Grid: Chinesa é favorita para o maior lote, com R$ 18 bi de investimentos (China Daily/Divulgação)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 14 de dezembro de 2023 às 12h05.

Última atualização em 15 de dezembro de 2023 às 11h04.

O maior leilão de transmissão de energia já promovido pela Agência Nacional de Energia (Aneel), a ser realizado amanhã com R$ 22 bilhões em investimentos previstos, deve ter um cenário de competição acirrada, com bons deságios, apontam especialistas.

Mas, com projetos grandes vindo a mercado, a expectativa é que a concorrência fique concentrada em players de maior porte. Empresas tradicionais no setor, como Cteep, Engie e Cemig devem ficar de fora da disputa. A exceção deve ficar por conta da Alupar, que deve fazer oferta pelo lotes 2 e 3.

A maior parte dos investimentos – mais de 80% – está concentrado em apenas um grande lote, o bloco 1, referente a um bipolo de corrente contínua de alta tensão, usado para conectar grandes volumes por longas distâncias. Nesse caso, trata-se de mais de 1.400 km de linhas de transmissão para conectar a energia excedente de renováveis do Nordeste até o Centro-Oeste.

Poucos players têm tanto a expertise nesse tipo de construção quanto a robustez financeira necessária para fazer frente aos R$ 18,1 bilhões de investimentos previstos para erguer o linhão. A expectativa é que apenas Eletrobras e a chinesa State Grid entrem na disputa pelo projeto.

A estimativa da Thymos Energia é que o deságio possa chegar a 40% a 50% em relação a receita anual prevista para os projetos – estabelecida em até R$ 3,7 bilhões para todos os lotes.  “São leilões historicamente competitivos e para os quais avaliamos que esse tipo de deságio faz sentido. Quando esse percentual ultrapassa 60%, começamos a ficar céticos em relação à engenharia considerada”, diz André Fonseca, head de M&A da consultoria.  Investidores e bancos estimam um desconto menor, em torno de 20% a 30%.

Trata-se de um leilão com mais risco do que os anteriores. Nas contas do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), a relação entre o investimento previsto e a receita anual permitida para remunerá-lo está menos que nos leilões anteriores, em 5,7 vezes, ante uma média de 6,3 vezes.

Para o lote 1, a expectativa do banco é que a State Grid leva vantagem, pelo fato de lidar com fornecedores chineses, que estão mais bem posicionados do que os europeus. Hoje, a State Grid opera diferentes linhas de ultra alta-tensão na China e no Brasil (por aqui, transporta energia de Belo Monte por meio de um consórcio com a Eletrobras).

“Além disso, há uma demanda grande no mundo por projetos de transmissão, o que se reflete em aumento de custos para produção dos materiais necessários para torres, fios e isolares”, aponta Luiz Barroso, CEO da consultoria PSR, especializada em energia. Ainda assim, diz ele, a expectativa é de um “bid competitivo”.

Outras empresas do setor de transmissão, como Cteep, Taesa, Cemig, Neoenergia, Engie e Copel devem ficar de fora e devem aguardar para entrar em outro leilão de transmissão previsto para 28 de março — certame que deve exigir R$ 18,2 bilhões em investimentos, em 15 lotes de transmissão.

A exceção é a Alupar, que pode, segundo o banco, disputar os lotes 2 e 3, que somam R$ 2,6 bilhões e R$ 1 bilhão de investimentos, respectivamente para interligações regionais e expansão de capacidade de exportação de energia do Norte e do Nordeste.

A entrada de “aventureiros”, como aconteceu em leilão realizado no começo do ano em que um consórcio batizado de Genesis, formado por players sem experiência no setor levou o principal lote, não deve se repetir dizem os analistas. Sem capacidade de comprovar suas garantias, o lote acabou indo para o segundo player na disputa, a Cteep.

“O caso Genesis foi muito isolado. Mudanças feitas pela Aneel nos últimos três anos, exigindo que os players que disputam um leilão executem a obra, já limitaram muito a participação desse tipo de empresa. E, em 2024, novas regras que entram em vigor devem fortalecer ainda mais o ambiente competitivo”, diz Fonseca.

O executivo se refere à medida inserida pela agência no edital do leilão de março de 2024. Resumidamente, a Aneel passou a pedir que empresas comprovem execuções anteriores de empreendimentos que atingiram pelo menos 30% de porte similar em termos das obras, considerando a extensão de linhas de transmissão (na mesma tensão) ou a potência da subestação.

Além disso, agora a previsão é que, se houver inabilitação do vencedor, será feita uma nova seleção, com a convocação dos outros proponentes interessados em assumir a oferta do vencedor ou entrar numa rodada de competição.

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