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Com IPO da GetNinjas, empresas de tech somam R$ 32,6 bi na B3

Desde a bem sucedida abertura de capital da Locaweb em fevereiro de 2020, outras nove companhias de tecnologia já fizeram sua estreia na bolsa brasileira

GetNinjas: empresa foi avaliada em R$ 1 bilhão no IPO (Juan De Leon/Divulgação)

GetNinjas: empresa foi avaliada em R$ 1 bilhão no IPO (Juan De Leon/Divulgação)

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Carolina Ingizza

Publicado em 14 de maio de 2021 às 10h16.

Com as ações precificadas em R$20, quase 20% abaixo da faixa de preço sugerida, o GetNinjas conseguiu garantir sua abertura de capital, captando pouco mais de R$ 550 milhões. O IPO da plataforma que conecta prestadores de serviços com clientes marca a volta das startups à B3 em um período difícil para as ofertas públicas. De janeiro até agora, 31ª companhias decidiram adiar suas listagens devido a instabilidades do mercado — a última a se juntar ao clube foi a Athena Saúde, que suspendeu o pedido na última terça-feira, 11, quando iria precificar as ações. 

Nesse contexto, a listagem do GetNinjas é um feito. Avaliada em R$ 1 bilhão, a companhia se junta ao clube de empresas de tecnologia que estão mudando a cara da bolsa brasileira. Até o começo de 2020, só líderes de importantes setores da economia, com números operacionais gigantescos, se aventuravam na B3. A mudança de paradigma começou com o bem-sucedido IPO da Locaweb, que movimentou R$ 1,32 bilhão em fevereiro de 2020 e indicou que havia apetite no Brasil por ativos de tecnologia. Antes disso, fazia sete anos que uma empresa do segmento não abria capital no país as últimas haviam sido Linx e Sinqia, no primeiro semestre de 2013.

Se a Locaweb mostrou que havia demanda para tech, a Méliuz, que fez seu début em novembro, provou que havia interesse também nas startups — empresas de tecnologia menores, mas com alto ritmo de crescimento. A companhia levantou R$ 662 milhões com sua oferta. De lá para cá, Enjoei, Neogrid, Westwing, Bemobi, Mobly, Mosaico e Infracommerce também abriram capital na B3 — juntas, as empresas de tecnologia que abriram capital de 2020 para cá levantaram mais de R$ 7,6 bilhões com os IPOs.

Para as startups, a possibilidade de abrir capital no Brasil é atrativa. "O IPO traz a possibilidade de liquidez para tanto os fundadores como para investidores e fundos que entraram antes, além da chance de buscar múltiplos mais atrativos para valorização da empresa. Além disso, a empresa acessa investidores diferentes do mundo de venture capital, como pessoas físicas e investidores institucionais”, diz Gustavo Gierun, fundador do Distrito, empresa que monitora o mercado de inovação.

Já para os fundos, a estreia de uma investida na bolsa adianta o horizonte de saída do seu investimento — normalmente, os investidores de capital de risco demoram até dez anos para conseguir retorno. Com a liquidez trazida pelo IPO, o mercado também se beneficia, já que existe uma tendência dos investidores aplicarem parte do capital recebido em novas startups nascentes, fazendo a roda girar.

Mesmo com o número recorde de empresas de tecnologia na bolsa, ainda há bastante espaço para crescimento. Somadas, as dez empresas do setor que estrearam na bolsa de 2020 para cá valem cerca de R$ 32,6 bilhões, nem 1% do valor total das companhias listadas na B3. Se a ambição for replicar o sucesso que a Nasdaq teve nos Estados Unidos com as empresas de tecnologia, o mercado brasileiro vai ter que comer muito feijão com arroz. Por lá, só as big techs Apple, Microsoft, Amazon, Google e Facebook somam valor de mercado de US$ 8 trilhões, oito vezes o tamanho de todas as empresas da B3 somadas.

O desafio é que, para além de inspiração, a Nasdaq pode ser uma competidora para o mercado local. Por reunir as gigantes globais do setor, a bolsa americana de tecnologia concentra a maior piscina de capital disponível para esse tipo de investimento, o que atrai empresas do mundo todo que estão em busca de valuations mais altos. Só nos últimos cinco anos, as fintechs brasileiras PagSeguro, XP e Stone e as empresas de educação Afya e Arco se listaram em Nasdaq. Mesmo com o movimento de tecnologia na B3, as companhias seguem olhando para Estados Unidos em busca de múltiplos maiores. A próxima na fila é a empresa de meios de pagamentos PicPay, que deve estrear em Nasdaq em junho.

Para não ficar para trás, a B3 tem se aproximado do ecossistema de inovação brasileiro. Ao longo do ano passado, a bolsa organizou cursos sobre o mercado de capitais com a Endeavor, ONG de fomento ao empreendedorismo, e o Cubo, hub de startups mantido em São Paulo pelo Itaú. A ideia é mostrar as possibilidades do mercado nacional para as próximas Méliuz e Enjoei. Mas enquanto a iniciativa não dá frutos, a bolsa trabalha com dupla listagem para trazer os ativos ao Brasil e atender parte da demanda dos investidores nacionais por tecnologia.

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