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Com investigação contábil, trading ADM vive seus dias de Americanas

Ações da empresa, gigante do comércio de commodities, caíram mais de 20% com saída de CFO por inconsistências no balanço; problema teve origem na divisão de nutrição

ADM: negócios de nutrição vieram para diversificar receita da companhia - um plano que não deu certo (Lucas Ninno/Getty Images)

ADM: negócios de nutrição vieram para diversificar receita da companhia - um plano que não deu certo (Lucas Ninno/Getty Images)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 23 de janeiro de 2024 às 13h59.

Última atualização em 23 de janeiro de 2024 às 14h12.

Uma das maiores tradings de commodities do mundo está vivendo seus dias de Americanas. As ações da gigante ADM  – que faturou mais de US$ 100 bilhões em 2022 – caíram mais de 20% depois que a companhia anunciou a saída de seu CFO por conta de “investigações envolvendo certas práticas contábeis” e adiou a divulgação do balanço, previsto para esta semana.

O documento não dá detalhes sobre as tais investigações – assim como aconteceu na comunicação oficial da Americanas sobre “inconsistências contábeis” em janeiro do ano passado. Afirma apenas que o problema foi encontrado na sua divisão de nutrição e que um conselho externo está conduzindo o processo, depois que a SEC, xerife do mercado de capitais americano, pediu mais esclarecimentos.

Por enquanto, o executivo demitido será substituído por Ismael Roig, ex-presidente da divisão Ásia Pacífico da ADM. "O conselho leva esses assuntos muito a sério", afirmou Terry Crews, conselheiro da companhia, no documento aos investidores.

Ainda com poucas informações, é difícil estimar o tamanho e a origem do problema, mas é pouco provável que ele seja do tamanho do enfrentado pela Americanas, onde um esquema de fraudes sistemáticas acabou resultando em distorções de mais de R$ 25 bilhões nos balanços ao longo de anos, segundo números fornecidos pela própria empresa.

O segmento de nutrição é pequeno perto do porte de ADM – que, junto de Bunge, Cargill e Louis Dreyfus, forma a sigla ABCD, usado para se referir às empresas que dominam o multibilionário setor de trading de commodities no mundo. A divisão responde hoje por 7,5% da receita da ADM e 11% de seu lucro operacional. Mas se tem um termo que arrepia qualquer investidor é ‘investigação contábil’, e a pressão deve seguir pelo menos até que a companhia faça novos esclarecimentos.

Junto com a notícia sobre os problemas contábeis, ADM cortou levemente o guidance para os resultados de 2023, de um lucro por ação de US$ 7 para US$ 6,90. Os analistas de sell side, no entanto, fizeram cortes bem mais substanciais no preço estimado para a ação ao fim do ano. O Goldman Sachs reduziu de US$ 90 para US$ 67, enquanto a BMO cortou de US$ 80 para US$ 66, citando que as incertezas se somam a um cenário mais desafiador, com queda nos preços commodities em geral depois de um boom no pós-pandemia e com a Guerra da Ucrânia.

Visto como uma forma de diversificar as receitas, a divisão de nutrição é o foco dos investimentos da ADM desde 2014, com a compra da fabricante europeia de ingredientes naturais Wild Flowers, por US$ 3 bilhões. Quatro anos depois, a ADM comprou outra empresa, de nutrição animal, por US$ 1,8 bilhão.

Num setor que faz parte da espinha dorsal do comércio internacional, não é a primeira vez que a ADM se envolve em polêmicas. Na década de 1990, foi considerada culpada num processo sobre manipulação de preços. Hoje, está no centro de investigações envolvendo também negociações de algodão e etanol.

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