JBS: Assembleia presencial precisa fechar gap de 25 milhões de votos (Divulgação)
Editora do EXAME IN
Publicado em 22 de maio de 2025 às 12h45.
Às vésperas da assembleia que acionistas que vai decidir sobre a listagem da JBS nos Estados Unidos, o placar está apertado.
A contagem parcial dos votos mostra que a companhia está com 25 milhões de votos a menos do que precisa para que a operação seja aprovada.
Apesar de denotar que a decisão vai ser com emoção, o retrato ainda está longe de ser definitivo: normalmente votam à distância os investidores institucionais que são mais propensos a acatar os pareceres das consultorias de voto.
O mercado vem dando o aval à operação no preço. Desde que anunciou que os planos para listagem na Nyse estavam caminhando por meio de um acordo com o BNDESPar, em 17 de março, os papéis da JBS avançam 34%.
A expectativa é que a exposição a uma gama maior de investidores nos Estados Unidos possa levar a um re-rating que aproxime a empresa dos irmãos Batista dos múltiplos de outras gigantes globais, como a Tyson.
A ISS e a Glass Lewis, as duas mais consolidadas consultorias de proxy vote, no entanto, jogaram água no chope dos comprados. Ambas recomendaram a reprovação da proposta, por conta da estrutura de super voto que dá mais poder para os controladores.
Na parcial publicada hoje, 37% dos que votaram se manifestaram pela rejeição, enquanto 33% deram aval. Até agora, votaram os representantes de um total de 520 milhões em ações, de um universo total de 730 milhões que poderão votar.
Ou seja, ainda há detentores de 210 milhões de ações que precisam depositar seus votos na assembleia presencial que ocorrerá amanhã às 10h, na sede da JBS em São Paulo.
A família Batista, com 48% dos papéis, e o BNDESPar, segundo maior acionista não votam. O braço de participações do banco de fomento fechou um acordo com os controladores, por meio do qual recebe uma espécie de ‘seguro’ caso das ações da JBS não tenham uma valorização pré-determinada (e cujos patamares não foram divulgados) depois da dupla listagem.
Como o benefício não se aplica aos demais minoritários, o BNDESPar se absteve de votar.
Uma venda de ações da JBS feita nesta semana pelo banco de fomento foi interpretada pelo mercado como um movimento para tentar dar alguma folga à aprovação. A abstenção também pode fazer diferença.
O BNDESPar reduziu sua participação de 20,23% para 18,18%, por meio de um block trade liberando 2% do capital para o float – e para o quórum que pode votar na operação. (Não foi exatamente um favor: o banco saiu com um bom retorno.)
A administração da JBS deve passar o dia no corpo a corpo tentando fechar a aprovação. Um call com analistas feito na semana passada – e cujo teor foi relevado pelo TheAgriBiz – mostra o teor dos argumentos.
Na ocasião, o CFO Guilherme Cavalcanti defendeu a estrutura de super voto, afirmando que, na prática, nada muda, porque os Batista já têm votos suficientes para aprovar qualquer matéria no formato atual.
De acordo com ele, a dupla classe de ações dá flexibilidade para que a JBS façam eventuais M&As podendo emitir ações, mas sem que a família perca o controle da operação.
“Vimos exemplos de competidores nossos, com management e pessoas brilhantes no board que não entendiam no negócio, destruindo valor por muito tempo”, disse o executivo, ainda de acordo com o AgriBiz, numa alusão velada à BRF.
“No nosso negócio, é muito importante ter um controle definido por gente que entende do negócio, com um track record”.
“A operação deve passar na assembleia, mas me parece que vai ser com muita emoção”, pondera um gestor que acompanha o papel.
Nesta semana, o JP Morgan divulgou um relatório indo na mesma linha e, por isso, recomendando que os investidores apostando na dupla listagem fizessem um hedge com opções para se proteger em caso de uma reprovação.
As dúvidas sobe a aprovação já fizeram as ações da JBS saírem do high de R$ 45 por ação atingido em abril para as mínimas de R$ 38,90 na sexta-feira passada. Nesta semana, recuperaram parte dos ganhos, chegando a R$ 42.
O price action de hoje da JBS sugere que os investidores estão preocupados, pero no mucho – ou não muito mais do que antes. Por volta das 12h18, perdiam 1,62%, longe de devolver os ganhos desde o início do processo.