Polo de Camaçari: ciclo de baixa no setor fez alavancagem em dólar alcançar 5,8 em março (Paulo Fridman/Corbis/Getty Images)
Graziella Valenti
Publicado em 20 de julho de 2020 às 16h23.
Última atualização em 20 de julho de 2020 às 16h49.
A Braskem acaba de captar 600 milhões de dólares com a emissão de bônus perpétuos subordinados. O papel pode ser caracterizado como um híbrido de capital, pois o compromisso fica em último lugar na fila dos credores, posição que normalmente é do acionista. Os títulos têm prazo de 60,5 anos e saíram com a taxa de 8,5% ao ano, conforme o EXAME In antecipou na semana passada.
É a primeira emissão desse tipo por uma companhia brasileira. A única empresa que emitiu um papel híbrido semelhante foi a General Shopping. Contudo, esse bônus não era subordinado. A combinação realizada pela Braskem é inédita entre os emissores brasileiros. Pela novidade, a companhia entendeu que valia a pena deixar para a fechar a captação nessa semana. Quando deu a largada nas apresentações aos investidores, alguns analistas de crédito chegaram a estimar o custo da operação entre 9% e 10%.
A Braskem pretendia obter até 1 bilhão de dólares. O livro de ofertas até mesmo superou esse montante e alcançou 1,3 bilhão de dólares, mas a empresa preferiu cortar a operação pela menor taxa, de 8,5%. A empresa perdeu a nota de grau de investimento pelas agências de crédito Fitch e Standard & Poor's, neste mês. Essa nova dívida ajudará na melhoria da percepção de risco, pois o cálculo da alavancagem feito pelas agências considera apenas metade do valor de face desse compromisso.
O modelo do papel permite que a companhia opte por não pagar o serviço da dívida e acrescente o valor ao saldo do principal, caso necessite preservar o fluxo de caixa. Com a subordinação em relação aos demais credores, o bônus oferece algumas preferências sobre os acionistas: a companhia não pode realizar recompras nem pagar dividendo superior ao mínimo legal, se escolher acumular o pagamento dos juros. Conforme informou aos credores, o plano é trocar uma dívida de 200 milhões de dólares que venceria no curto prazo. O negócio enfrenta um forte ciclo de baixa no setor, o que fez a relação entre a dívida líquida e o Ebitda acumulado nos últimos 12 meses alcançar 5,8 vezes, no balanço do primeiro trimestre. O restante deverá fortalecer a posição de caixa. A emissão foi coordenada pelo BNP Paribas, Morgan Stanley e Santander.