Roberto Valerio, CEO da Cogna: após Kroton voltar a crescer, plano inclui novas frentes de produtos (Eduardo Frazão/Exame)
Graziella Valenti
Publicado em 10 de novembro de 2022 às 19h28.
Última atualização em 10 de novembro de 2022 às 19h59.
A Cogna, dona da Kroton e da Vasta (antiga Somos), conseguiu reduzir em 43% o prejuízo do terceiro trimestre, na comparação anual, para R$ 211,3 milhões. O resultado foi obtido apesar do ambiente de alta de juros, que fez as despesas financeiras líquidas comerem 22% da receita líquida do período, no lugar dos 16% de igual período de 2021. Mas essa, a melhora na última linha do balanço, não é a principal notícia do intervalo de julho a setembro.
O que é mais importante, conforme apontou Roberto Valerio, presidente da empresa em entrevista ao EXAME IN, está no começo da demonstração financeira: na linha da receita. O faturamento líquido ficou praticamente estável, em R$ 1,06 bilhão. Onde está, então, a novidade que anima o executivo?
O ponto de destaque é que a Kroton, a frente de ensino universitário e pós-graduação do grupo educacional, apresentou o seu primeiro crescimento orgânico de receita em 14 trimestres – desde que veio o encolhimento drástico dos números por causa do FIES e a pandemia. Mais do que isso: antecipou a meta de voltar a crescer, prevista apenas para 2023, para esse trimestre. O faturamento líquido dessa unidade somou R$ 765,3 milhões, de julho a setembro — uma alta de 11,7% na comparação anual.
A captação de alunos avançou 16,6% e chegou a uma adição de 288 mil estudantes, o que fez com a base ao final do período estivesse quase 12% maior, num total de quase 985 mil inscritos.
De volta aos números consolidados, o Ebitda avançou 22%, para R$ 246 milhões. “É o sexto trimestre consecutivo de melhora da rentabilidade”, enfatizou Valerio. Segundo ele, fruto de “disciplina, organização e consistência”. O executivo destacou que o foco em eficiência passou por uma ampla reformulação dos gastos de marketing. A companhia passou a priorizar canais digitais, onde a assertividade das campanhas é maior. Com isso, a economia anual obitda foi da ordem de R$ 200 milhões, na comparação com dois anos antes. “O custo de aquisição de cliente (CAC) está 40% menor.” O efeito disso é amplificado pelo fato e a empresa estar no quinto trimestre consecutivo de expansão de base de estudantes.
E para o futuro, Valerio vê espaço para expansão não apenas continuar, com os esforços realizados para expansão de base de alunos, como também vir de novas frentes, como cursos livres de tecnologia, preparatórios para concursos, e também do desenvolvimento de uma plataforma para criação de conteúdo. Outra “lógica” a ser empregada é um olhar para a possibilidade de expansão de portfólio dentro de um modelo de evolução de carreira, com cursos que permitam o desenvolvimento contínuo dos profissionais em suas áreas.
Na visão do executivo, a força da Cogna está justamente da diversidade de suas frentes de negócio. Além da Kroton, e dos potenciais novos negócios, o grupo é dono da Vasta, operação da Somos listada na Nasdaq, de sistemas de ensino para educação fundamental. A subsidiária, que foi listada nos Estados Unidos, alcançou a promessa de chegar num valor anual de contratos de R$ 1 bilhão. “E nós já vemos um potencial de expansão de 20% para 2023”, enfatizou ele.
A Cogna terminou setembro com R$ 3,1 bilhões de dívida líquida, quase estável frente aos R$ 2,9 bilhões registrados um ano antes. Mas a principal informação está escondida. Ao longo do terceiro trimestre, a companhia amortizou quase R$ 2 bilhões em dívida. Na prática, isso significa, segundo Valerio explicou, uma economia trimestral da ordem de R$ 60 milhões em despesas financeiras, ou cerca de R$ 240 milhões ao ano.
Valerio não titubeou em afimar que se o governo de Luiz Inacio Lula da Silva criar programas de incentivos à educação, como prometeu, a Kroton vai buscar as oportunidades "como sempre fez". Mas, questionado se a companhia faria algo diferente, após o trabalho que deu colocar a casa no lugar com os efeitos misturados de encolhimento do programa e os efeitos da pandemia, afirmou que algumas coisas seriam diferentes. Ele destacou que, principalmente, a companhia não faria contratos de tão longo prazo para criação de polos ou campus estudantis.
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