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Ciclo do frango, M&As, listagem nos EUA: Até onde vão as ações da JBS?

Com alta de 90% em 12 meses, mercado ainda vê espaço para novas altas e já especula alvos para aquisição

JBS: Dos R$ 9,9 bilhões de Ebitda, cerca de R$ 6 bilhões vieram de Seara e Pilgrim's Pride (JBS/Divulgação)

JBS: Dos R$ 9,9 bilhões de Ebitda, cerca de R$ 6 bilhões vieram de Seara e Pilgrim's Pride (JBS/Divulgação)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 22 de agosto de 2024 às 15h27.

Última atualização em 22 de agosto de 2024 às 15h28.

Após uma alta de mais de 90% nos últimos 12 meses, gestores e analistas de bancos de investimento ainda veem espaço para a ação da JBS subir mais. Mesmo que o ritmo de alta não seja mais tão intenso.   

O salto foi provocado pelo ciclo favorável para a carne de frango, mas mostrou ir muito além de um voo de galinha.

A magnitude e duração de uma dinâmica de preços baixos para os grãos e bons volumes de venda surpreendeu os bancos de investimento, provocando uma rodada de revisão de preços-alvo que levou a cotação aos maiores patamares históricos.

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Só nesta semana, o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) subiu o preço-alvo de R$ 35 para R$ 47, reiterando compra. O BofA, subiu suas previsões de R$ 40 para R$ 45 para os próximos 12 meses e o Citi aumentou de R$ 36 para R$ 46.  

Menos otimista, o Itaú BBA tem preço-alvo de R$ 39, mas ainda reiterando a compra. Na mesma linha, o Goldman elevou seu preço de R$ 38,7 para R$ 39,9. A ação negocia hoje (22) na casa dos R$ 36,50.  

A grande questão agora é até onde vai o fôlego da carne de frango. Analistas já começam a ver uma reversão a partir do começo do próximo ano, o que deve levar a um EBITDA menor em 2025, em meio às margens pressionadas. 

De toda forma, com um movimento de desalavancagem acontecendo mais rápido que o esperado, o mercado já começa a especular sobre uma possível volta de movimento de M&As (uma das fortalezas da JBS, que desde o IPO fez 40 aquisições).  

Empresas de alimentos processados nos Estados Unidos sendo apontadas como alvos potenciais – entre elas a Oscar Meyers de embutidos, que foi colocada à venda pela Kraft Heinz.    

Outro potencial gatilho para os papéis pode ser a listagem dos Estados Unidos, gestada há anos para destravar o valor da companhia e a colocar em pé de igualdade em termos de múltiplos com relação aos seus pares internacionais.  

Embora “sem pressa no processo”, nas palavras do CEO Gilberto Tomazoni, o tema tem sido tratado com “muita prioridade”. A principal aposta entre analistas e gestores é de que listagem venha em 2025 – se ela acontecer, já que ainda há muito ceticismo no mercado.  

“Se aplicar os múltiplos nossos com peers internacionais, você vê que a JBS tem grande potencial de entregar valores aos seus investidores”, diz o CEO.   

“Está descontada em relação aos pares lá de fora, mas o espaço para upside já está menor”, pondera um gestor.  

Aposta em diversificação 

Os números da primeira metade de 2024 sugerem que a estratégia da JBS de diversificar seus negócios está se pagando e deixando a companhia mais resiliente do que em 2014 e 2015, período do último ciclo de alta da proteína de frango.    

Há dez anos, os negócios ex-carne bovina representavam 35% da receita, hoje estão na casa de 45%, com mais produtos de valor agregado.  

Agora, o bom momento de Seara e Pilgrim’s Pride e da US Pork (de suínos) vem justamente quando o segmento de carne bovina dos Estados Unidos, um dos maiores mercados, segue pressionado.  

O ciclo da carne bovina nos Estados Unidos vive os menores patamares históricos de margem a oferta de gado é baixa, pressionando os custos da matéria-prima. “Não há uma perspectiva de que esse mercado melhore antes do segundo semestre de 2025”, avalia um gestor ouvido pelo INSIGHT.  

O time do BTG é ainda mais enfático e diz ser “pouco provável que haja uma melhora antes de 2027.” 

Em meio a preços mais altos da carne bovina, os consumidores têm dado preferência a outras proteínas. É o caso da US Pork, por exemplo, que se beneficiou desse movimento de trade down e reportou rentabilidade 10% acima da registrada na última década. 

Um voo de galinha 

Enquanto isso, a Seara e a Pilgrim’s Pride se destacaram. Dos R$ 9,9 bilhões de Ebitda, cerca de R$ 6 bilhões vieram dos dois negócios: R$ 4,1 bilhões da Pilgrim’s, o negócio de carne de aves nos Estados Unidos, e outros R$ 2,2 bilhões de Seara.  

Os dois negócios têm se beneficiado de um ambiente forte de consumo combinado com custos mais baixos, o que tem engordado as margens.  

No entanto, grande parte do mercado já começa a considerar que o excepcional ciclo do frango perderá força a partir do próximo ano.  

A expectativa é de que já haja uma correção a partir do primeiro trimestre de 2025, com maior oferta de pintos de corte e com aumento dos preços dos grãos, “fechando o espaço para as margens”, diz um gestor, que acompanha o papel. 

Essa combinação deve resultar em um EBITDA menos expressivo em 2025, ainda em meio a margens fracas da carne bovina nos Estados Unidos, um de seus principais mercados.  

Para o time do BTG, o EBITDA em 2024 deve chegar a R$ 32,4 bilhões, 23% acima do que era estimado antes – mas ainda abaixo dos R$ 35 bilhões que seriam o “valor justo” considerando a média da última década e a receita projetada para 2024, justamente pelo efeito negativo da US Beef.  

Com o ajuste esperado para o segmento de aves e um ambiente ainda apertado para a rentabilidade da carne bovina em 2025, a expectativa da equipe é de que o Ebitda de 2025 seja de R$ 29,55 bilhões.  

Ainda assim, em Seara o ganho de rentabilidade – a margem chegou a 17,4%, a maior desde 2015 – tem a ver mais com melhoria estrutural do que o curto prazo, defende o CEO, Gilberto Tomazoni. 

Os ganhos de volume são fruto de investimentos de R$ 5 bilhões feitos ao longo dos últimos anos, diz ele. O primeiro foco da Seara foi o trabalho na parte de agropecuária, da produção de animais e na parte de processamento.

"Agora nós entramos numa segunda fase, que é de melhorias nos sistemas comerciais. Temos bastante oportunidade numa gestão científica de pricing e gestão de mix. A perspectiva da Seara é que ela continua tendo melhoria dos seus processos operacionais", disse Tomazoni em resposta aos analistas que acompanham a teleconferência de resultados na semana passada. 

Ainda que o horizonte indique um 2025 de menor crescimento do que o ano de 2024, o bom momento operacional, com forte geração de caixa e alívio de pressão da dívida, motiva parte da tese mais construtiva sobre o papel.  

Com a alavancagem no patamar incômodo de 4 vezes o EBITDA há pouco mais de um ano, a companhia esperava na época chegar um patamar de endividamento confortável em 18 meses.  

A recuperação foi mais rápida do que a própria empresa esperava: no terceiro trimestre, passou a 2,7 vezes em dólar, com a sinalização de terminar o ano a 2 vezes. A ponto de a companhia voltar a remunerar seus investidores, com um dividendo de R$ 4,4 bilhões após os resultados do segundo trimestre.  

Com ciclo do frango ou sem ciclo do frango, é mais poder de fogo para a empresa, que já teve seu acrônimo inclusive revisado pelos analistas da XP para abarcar o otimismo: Justified Bullish Sentiment.  

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