Exame IN

Casas Bahia tem prejuízo de R$ 1 bilhão, mas interrompe queima de caixa

Fechamento de lojas, redução de estoques e demissões impactaram o resultado; fluxo de caixa livre ficou positivo em R$ 648 milhões em 2023

Casas Bahia: Fluxo de caixa livre foi positivo em R$ 648 milhões em 2023

(Foto: Divulgação) (Casas Bahia/Divulgação)

Casas Bahia: Fluxo de caixa livre foi positivo em R$ 648 milhões em 2023 (Foto: Divulgação) (Casas Bahia/Divulgação)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 25 de março de 2024 às 22h08.

Última atualização em 26 de março de 2024 às 11h36.

Em meio à reestruturação a Casas Bahia amargou mais um trimestre de perdas. O prejuízo líquido somou R$ 1 bilhão, mais de cinco vezes maior do que um ano antes, refletindo os custos para ajustar a operação. O plano de reorganização do negócio anunciado em agosto levou ao fechamento de 55 lojas deficitárias até o fim de 2023 e o fechamento de 8,6 mil posições -- ou 20% do quadro total de funcionários, com os cargos de liderança sendo reduzidos em 42%.

Medidas importantes para a retomada, mas que ainda pressionam o curto prazo. Foi no quarto trimestre que a maior parte das despesas relacionadas à reestruturação foi lançada. Entre os impactos negativos não recorrentes também estão R$ 197 milhões na linha de outras receitas e despesas operacionais, e R$ 24 milhões no resultado financeiro vinculadas à riscos tributários relacionados ao Difal. Excluindo esses impactos, o prejuízo teria sido menor, na ordem de R$ 400 milhões. 

A expectativa, conta o CEO, Renato Franklin, é de que isso passe a ser revertido ao longo do ano, mas o balanço do quarto trimestre já traz sinais positivos de que o aperto de cinto dos últimos meses tem sido exitoso. “Quando começamos o trabalho tivemos a surpresa positiva de que o mato era maior do que pensávamos, então ainda tinha mais espaço para buscar economias”, diz ele. As despesas de pessoal foram cortadas em 18% no quarto trimestre e o investimento ficou 60% menor em todo o ano de 2023 quando comparado a 2022.  

No trimestre, a empresa fez mais ajustes de estoques, o que totalizou R$ 1,4 bilhão de redução quando comparado ao segundo trimestre de 2023, quando o plano de transformação começou. Essa redução de estoques, que também aliviou o capital de giro: os estoques que antes estavam em 120 dias chegaram a 76 dias – abaixo até mesmo da projeção de 80 dias.  

Isso, no entanto, impactou a linha de receita. A receita líquida caiu 11,8%, para R$ 7,41 bilhões, bastante afetada pelo varejo on-line, onde a decisão de sair da venda direta em 23 categorias se fez sentir mais do que nas lojas físicas, que eram mais concentradas nos negócios principais da varejista: linha branca, televisores, móveis e celulares. Nas operações, o avanço de 5,8% da receita do marketplace é o destaque positivo, com o take rate chegando 12,1%, 1,2 ponto percentual maior do que no quarto trimestre de 2022. Essa melhora é fruto da busca por maior rentabilidade e do maior número de serviços oferecidos nas plataformas, como logística e crédito.  

O indicador que deve concentrar atenção do mercado, porém, é o fluxo de caixa. Depois de três anos com queima, a empresa reportou um fluxo de R$ 648 milhões positivos de caixa livre em 2023. “O ano de 2024 é muito melhor que 2023, mas o ano passado já ficou melhor que a expectativa”, diz Franklin, ponderando que o ambiente macroeconômico ainda não é favorável. Apesar de o ano ter começado bem para as vendas, em fevereiro perdeu forças, se aqueceu na primeira quinzena de março e agora voltou a se estabilizar. “Preparamos a empresa para um mercado desafiador, se melhorar, vem ganhos adicionais”, argumenta.  

De acordo com Franklin, foi essa posição mais sólida de caixa que deu credibilidade à empresa para conseguir o alongamento de dívida com os bancos. No fim de fevereiro, a empresa conseguiu negociar dívidas que venciam entre este ano e 2025 para daqui a três anos, afastando especulações sobre recuperação judicial. Hoje, com um caixa de R$ 3,56 bilhões, a companhia tem vencimentos de R$ 1,77 bilhões nos próximos 24 meses. Sem o alongamento, seriam R$ 3,14 bilhões de dívidas vencendo em dois anos. No período, a empresa também fez captações bancárias de R$ 682 milhões. 

Novas fontes de receita

“Estamos mais leves em ativo e mais forte em caixa, o que deu fôlego em trabalhar a melhora com mais calma. Podemos pensar na venda de ativos non-core com mais calma”, argumenta Franklin. Uma das vendas previstas é o CNPJ da CNova, herança ainda da época de controle da empresa pelo GPA. O negócio tem créditos ficais na casa de R$ 500 milhões por prejuízos reportados. “É um ativo líquido que achamos que podemos vender melhor”, observa, destacando que outras ativos, como empresas compradas em gestões anteriores, estão em análise para venda.  

Outra fonte de recursos extras para a companhia é a monetização de tributos, que superou expectativas no quarto trimestre, somando R$ 682 milhões. No ano, a monetização de ativos tributários somou R$ 1,3 bilhão e ainda há um saldo de R$ 2,7 bilhões. “Até o final de 2022 não conseguia ter monetização líquida, em 2023 monetizou mais do que se acumula. Como fizemos redução grande de estoque, isso ajudou.” 

A companhia também anunciou a criação da Casas Bahia Ads, uma frente para anúncios segmentados que tem ganhado espaço na estratégia das varejistas. É o caso do Mercado Livre, Magazine Luiza e GPA, que têm apostado nessas atividades como fonte extra de receitas. O lançamento foi feito apenas para a audiência online, com mais de 20 contratos já fechados no ano. “Em breve lançaremos também o offline, para a loja. Isso pode trazer alguns milhões de reais ao negócio.” 

Na véspera da divulgação do balanço, as ações caíram 2,94%, para R$ 6,60. No ano, acumulam queda de 40,5%.   

Acompanhe tudo sobre:BalançosEmpresasCasas BahiaVarejo

Mais de Exame IN

Mais Porto, menos Seguro: Diversificação leva companhia a novo patamar na bolsa

Na Natura &Co, leilão garantido e uma semana decisiva para o futuro da Avon

UBS vai contra o consenso e dá "venda" em Embraer; ações lideram queda do Ibovespa

O "excesso de contexto" que enfraquece a esquerda