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Cabo de guerra: BC e Fed surpreendem e seguram dólar em R$ 5

Câmara dos Deputados aprova regime de urgência para votação de projeto dos depósitos voluntários de bancos no BC

BCs confirmam inflação transitória, mas sinalizam com elevação das taxas de juros (Toffehoft/Photopin/Divulgação)

BCs confirmam inflação transitória, mas sinalizam com elevação das taxas de juros (Toffehoft/Photopin/Divulgação)

AB

Angela Bittencourt

Publicado em 17 de junho de 2021 às 19h20.

O Banco Central (BC) e o Federal Reserve (Fed) não decepcionaram em suas decisões sobre juros, mas levantaram um cabo de guerra. O BC entregou Selic de 4,25%. O Fed manteve o intervalo inalterado entre 0% e 0,25%. Contudo, ambos surpreenderam em narrativa.

Ambos reconheceram que a inflação é transitória mas pesa e sinalizaram que indicadores mais elevados podem estar à espreita. O BC comunicou que a taxa básica brasileira vai a 5% em agosto, abandonou a “normalização parcial” da política monetária e apontou que vai em direção ao “juro neutro”. O Fed foi direto ao ponto: indicou que o juro subirá duas vezes em 2023. O juro aqui subiu; o dólar lá fora também.

BC e Fed acenaram com maior remuneração de capital agora e daqui a pouco. O BC americano foi mais longe. Promete juro maior daqui a dois anos. Uma promessa e tanto. Os dois poderão disputar capital externo com taxas de remuneração incomparáveis, porém coerentes com o risco oferecido por suas economias. E o risco do Brasil não é zero sobretudo a caminho do eleitoral ano de 2022.

Embora o tempo para a entrada no calendário eleitoral seja curto, pode pesar a favor do Brasil a aprovação célere de reformas. A aprovação pelo Senado, nesta quinta-feira, da medida provisória que viabiliza a privatização da Eletrobras também conta a favor, caso o texto com a “golden share” não afugente investidores.

Já no cabo de guerra monetário que os comunicados dos bancos centrais sugerem, não há dúvida de que o Fed será o vencedor. E, pensando nisso, especialistas em câmbio não ficaram frustrados com a sustentação da taxa de câmbio no patamar de R$ 5 no pós-Copom, quando investidores até apostaram que esse suporte poderia ser rompido com o dólar caindo de vez ao patamar de R$ 4 – pela primeira vez neste ano.

Selic rumo a 6,50% ou mais no fim do ano, Credit Suisse já prevê 7,25%,  favorece o setor bancário como demonstrou o movimento das ações na sessão da B3 pela manhã. Os papéis das principais instituições arrefeceram à tarde, mas sem comprometer a atratividade da taxa de juros.

Foco de atenção é a perspectiva de aumento de juro no crédito. Contudo, os bancos têm estoque de R$ 1 trilhão – um pouco mais ou um pouco menos – aplicados em títulos públicos diretamente da carteira do BC, parte deles tem remuneração alinhada à Selic. No início de março, essas posições alinhadas à Selic eram remuneradas a 2%; agora, após três elevações da Selic em 0,75 ponto, a remuneração é de 4,25%.

De compulsório a voluntário

Esse estoque de dinheiro – conhecido como operações compromissadas do BC com o mercado – é um instrumento de gestão de liquidez da autoridade monetária. Outro instrumento é o depósito compulsório sobre depósitos à vista ou a prazo decorrentes das aplicações em títulos bancários ou poupança. Os depósitos à vista não são remunerados, mas os depósitos à prazo sim.

Uma forma de evitar a retenção desses depósitos compulsórios, em montante de quase meio trilhão de reais, o governo insistiu por seus canais no Legislativo em obter urgência para que o projeto de depósitos voluntários de bancos no BC fosse aprovado na Câmara dos Deputados. O requerimento de pedido de urgência foi aprovado nesta quinta-feira, por 381 votos a 40. Com essa decisão, o projeto pode ser votado diretamente no plenário da Casa, sem passar pela apreciação de comissões. O projeto já foi aprovado no Senado no fim do ano passado, com a autonomia do BC.

Com o sinal verde do Congresso, o BC poderá receber depósitos voluntários das instituições financeiras que poderão ser remunerados pela taxa Selic, em vez de utilizar como lastro das operações títulos públicos emitidos pelo Tesouro, o que aumenta a dívida pública.

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