Marcelo Vasconcelos e Marcelo Abritta, fundadores da Buser: empresa tem 4 milhões de usuários cadastrados e opera em mais de 400 cidades brasileiras (Buser/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 10 de junho de 2021 às 06h20.
Última atualização em 10 de junho de 2021 às 06h26.
Nem mesmo a pandemia de covid-19 conseguiu tirar a startup mineira Buser da sua rota. Dois anos depois de concluído uma rodada liderada pelo SoftBank, a empresa de intermediação de viagens de ônibus anuncia uma nova captação milionária.
A companhia levantou um investimento de R$ 700 milhões liderado pelo fundo de impacto social LGT Lightrock (ex-LGT Lightstone), que investe também na Creditas e na Cargo X. Iporanga Ventures e alguns antigos investidores, como Softbank, Monashees, Valor Capital Group, Globo Ventures e Canary, também participaram da rodada.
A Buser não revela o seu valuation na operação, mas segundo apurou o EXAME IN, a startup ainda não ultrapassou a marca de US$ 1 bilhão que lhe daria o título de unicórnio — mas está perto.
Fundada pelos amigos de adolescência Marcelo Abritta e Marcelo Vasconcelos em 2017, a Buser começou como uma plataforma online de fretamento coletivo. A empresa ficou famosa por unir passageiros com o mesmo destino a empresas de ônibus executivos, o que garante viagens em média 60% mais baratas que as oferecidas pelas viações tradicionais. Em quase quatro anos de operação, a startup já opera em mais de 400 cidades brasileiras.
“Há uma clara tendência mundial na abertura de mercado com a entrada de novos players, o que tem contribuído para reduzir os preços e melhorar a segurança dos passageiros. E a Buser saiu na frente no Brasil, com quase 4 milhões de usuários em sua plataforma”, afirma Marcos Wilson Pereira, sócio-diretor da LGT Lightrock.
Assim como as demais empresas de turismo e transporte brasileiras, a startup sentiu os efeitos da pandemia na sua receita em 2020, mas pouco a pouco foi recuperando o volume de passageiros. Em dezembro do ano passado, por exemplo, aproveitando o momento mais controlado da pandemia no país, a empresa intermediou 300.000 viagens, o triplo do registrado em dezembro de 2019.
Esses dados dão confiança para sócios de que quando a pandemia melhorar haverá um boom no mercado de turismo brasileiro. Por isso, planejam usar o aporte e parte do faturamento da empresa para investir R$ 1 bilhão na operação brasileira ao longo dos próximos dois anos. A projeção deles é que o negócio cresça 10 vezes até o final de 2022.
"Assim como o Nubank quer ser a fintech mais relevante do país e chacoalhar o mercado bancário, a Buser vai continuar sua luta pra democratizar o transporte rodoviário e acabar de vez com o oligopólio das velhas empresas de ônibus que emperram as inovações e a abertura do mercado", diz o presidente Marcelo Abritta ao EXAME IN.
O caminho que a empresa encontrou para seguir crescendo foi diversificar seu negócio para além do modelo de intermediação de fretamento. Desde o começo de 2021, a startup está vendendo passagens rodoviárias de companhias tradicionais na sua plataforma, em um modelo de marketplace semelhante ao adotado por companhias como ClickBus e BlaBlaCar. Em menos de seis meses, o serviço conquistou 40 empresas parceiras e cerca de 3.000 passageiros transportados por semana.
Mas o marketplace é só o começo. Para diversificar as fontes de receita, a Buser vai investir em uma linha de transporte de mercadorias nos ônibus, no financiamento de veículos novos para as empresas de fretamento parceiras e em um modelo alternativo para o transporte urbano — ajudando concessionárias ou prefeituras de cidades médias, com de cerca de 150.000 habitantes, a usar a tecnologia para a gestão logística.
Todas essas iniciativas estão sendo testadas pela empresa e serão ampliadas com parte importante do capital recebido na rodada. Só na frente de crédito para veículos, a projeção da companhia é investir R$ 200 milhões do R$ 1 bilhão prometido para os próximos dois anos.
O desafio é que, agora, a Buser terá mais competidores diretos no Brasil. No ano passado, o grupo Grupo JCA, dono de empresas tradicionais de viação como Auto Viação 1001, Viação Cometa e Viação Catarinense, lançou sua própria plataforma para disputar esse segmento, a WeMobi. Em 2021, a alemã Flixbus, conhecida por ter mudado o modelo de viagens de ônibus europeu, planeja iniciar suas operações no mercado brasileiro, trazendo consigo um recém-captado aporte de US$ 650 milhões.
Já na parte regulatória, depois de inúmeras brigas na Justiça com as companhias rodoviárias, que alegam que seu modelo de fretamento se assemelha ao do transporte regulado, um ponto que chama a atenção da startup é o Projeto de Lei 3819, que tramita na Câmara dos Deputados.
O texto aprovado pelo Senado no final do ano estabelece normas para as empresas interessadas em operar linhas rodoviárias, como a necessidade de especificar o itinerário, ter frota própria para operar pelo menos 60% das linhas pretendidas e capital social de no mínimo R$ 2 milhões — o que poderia dificultar a operação das pequenas empresas de fretamento.
Na visão da companhia, a aprovação da proposta atual "seria um retrocesso para a sociedade brasileira, pois tornaria mais lento o processo de abertura do mercado – que democratizaria o sistema e traria inúmeros benefícios para os usuários, como preços mais baixos e mais segurança viária".
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