Warren Buffett e o amor por Coca-Cola: executivo de 92 anos já disse tomar cinco latas por dia (Rick Wilking/Reuters)
Graziella Valenti
Publicado em 4 de maio de 2020 às 07h29.
Última atualização em 4 de maio de 2020 às 14h47.
O preço em bolsa da Kraft Heinz, dona do icônico ketchup Heinz e do cream cheese Philadelphia, está cada vez mais descolado – e para baixo – do valor pelo qual a Berkshire Hathaway marca o investimento em seu balanço. No fechamento de março, a distância era de 40%, ante a 24% em dezembro.
Com todos os holofotes voltados à fala de Warren Buffett, presidente do conselho da Berkshire, na assembleia anual de acionistas realizada via Internet no sábado, a informação passou batida no balanço publicado na sexta-feira. O que o mundo esperava era a receita do Oráculo de Omaha para a crise da covid-19. Ele explicou, por exemplo, por que vendeu as ações que tinha nas companhias aéreas.
A mensagem geral do evento foi positiva, mas pouco específica. Com uma posição de caixa recorde, de 137 bilhões de dólares, o megainvestidor ainda não encontrou algo que o levasse às compras. Mas seu recado foi claro: “Nunca aposte contra a América”. E depois da Coca-Cola, que além de grande investidor, Buffett é também consumidor, há poucas companhias tão a cara dos Estados Unidos quanto a dona do ketchup com mais de 150 anos de idade.
A holding do bilionário Warren Buffett tem 26,6% da Kraft Heinz e é sua principal acionista. Por se tratar de uma posição com perfil de controle, ela não fica marcada a preços de mercado na Berkshire. A 3G Capital, do trio Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, vendeu 9% do que tinha no negócio em setembro e reduziu sua fatia de 22% para 20%.
Desde 2018, o investimento está registrado no balanço da Berkshire por 13,8 bilhões de dólares ou 5,5 bilhões de dólares a mais do que o mercado pagava por essa fatia ao fim de março. É a segunda vez que a Berkshire tem que avaliar se é o caso de fazer um “impairment” dessa participação, ou seja, uma baixa no valor de registro por não mais acreditar na perspectiva de recuperação desse montante.
Mas, assim como em dezembro, a firma de Buffett deixou a Kraft passar no teste e disse que diante de sua capacidade de manter o investimento no longo prazo ainda não vê necessidade do ajuste. Contudo, alerta que poderá vir a fazê-lo no futuro, conforme o cenário.
A trajetória da Kraft em Nova York é declinante desde o pico atingido em fevereiro de 2017, quando a cotação da ação marcava 96,65 dólares. No último pregão, o papel encerrou em 29,38 dólares. A companhia estava avaliada em 36 bilhões de dólares.
Buffett comprou 50% da Heinz em 2013 e, dois anos depois, uniu-se à 3G Capital para fomentar a união com a Kraft. No ano passado, o bilionário admitiu que pagou muito caro na operação.
“É um caso de turnaround que, em bases relativas, é defensivo nesses tempos de crise do coronavírus. Mas a gestão tem muito trabalho pela frente para voltar a ganhar participação de mercado e desalavancar a empresa”, comentou Renato Mimica, diretor da Exame Research.
Defensivo, entre outros motivos, porque todos continuaremos comendo. Na quinta-feira, a companhia anunciou em balanço que as vendas superaram as expectativas e subiram 3,3% no primeiro trimestre. A alta foi em parte causada pela corria aos supermercados em março pela pandemia do coronavírus. Mas a Kraft segue no vermelho — o prejuízo diminuiu de 405 milhões de dólares para 378 milhões de dólares.
Há muito trabalho, e muita incerteza pela frente. Mas Buffett segue confiando.