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BRF traz R$ 3,8 bi de ganho extra e faz Marfrig ter lucro de R$ 4,3 bi

Primeiro balanço da companhia de Marcos Molina a consolidar Sadia e Perdigão tem efeito positivo, mas contábil, sem dinheiro no caixa

Carne: demanda chinesa manteve preços esticados no Brasil e balanço forte na operação da América do Sul (Marfrig/Divulgação)

Carne: demanda chinesa manteve preços esticados no Brasil e balanço forte na operação da América do Sul (Marfrig/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 11 de agosto de 2022 às 19h40.

No primeiro balanço de Marfrig (MRGF3) que consolida integralmente os números da BRF, um dado contraintuitivo: a dona das marcas Sadia e Perdigão trouxe um ganho de R$ 3,8 bilhões na última linha do balanço. Com isso, o lucro líquido da Marfrig ficou em R$ 4,3 bilhões, ante R$ 1,74 bilhão em igual período de 2021.

Na prática, esse número não traz ganhos, em dinheiro, à Marfrig. Trata-se de um efeito contábil que representa, de forma simplificada, que a compra da participação de 33,2% na BRF foi feita com deságio — foi pago menos pelo ativo do que ele vale. A avaliação considera, além do patrimônio líquido, marca, estoques e imobilizados a preços de mercado. É algo que só pode acontecer na largada da consolidação de um novo ativo, fruto de uma aquisição, no balanço de uma companhia.

Junto com o balanço, a Marfrig anunciou um dividendo intermediário de R$ 500 milhões, o que equivale a aproximadamente R$ 0,76 por ação.

A consolidação da BRF tornou os balanços de 2022 e 2021 pouco comparáveis. A receita líquida total aumentou 67,6% para R$ 34,5 bilhões. Considerando apenas a Marfrig, o segundo trimestre é marcado pela relevância que a China conquistou no desempenho dos números, apesar de representar 12% do total.

Confira ao final da matéria a entrevista que Miguel Gularte, CEO para América do Sul da Marfrig, concedeu ao talk show do EXAME IN no fim de julho, em que o tema China é bastante explorado.

Na América do Norte, a receita líquida caiu 7%, para R$ 14,5 bilhões, enquanto na América do Sul houve crescimento de 41,6%, levando o total do período a R$ 7,1 bilhões. É abaixo da linha do Equador onde estão as plantas da companhia que atendem ao mercado chinês, são sete unidades habilitadas entre Brasil, Argentina e Uruguai. "Com essa posição privilegiada de várias plantas, conseguimos aproveitar muito bem a demanda da China", afirma Miguel Gularte, CEO da operação.

Foi ela também a responsável por manter os preços no Brasil em alta, a despeito do valor da arroba do boi ter se mantido praticamente estável na comparação anual, em R$ 310. Enquanto isso, o preço médio no mercado doméstico aumentou 30%. Nas exportações (que responderam por 67% das vendas), houve alta de 42% em dólar. Esse percentual ajuda a entender porque o produto encareceu tanto internamente.

Mas o resultado prático disso tudo é: margem na veia. O Ebitda da operação da América do Sul aumentou 275,3%, para R$ 678 milhões. Entretanto, a queda na operação da América Norte nessa linha, de quase 50% (que possui rentabilidade melhor), fez o consolidado da companhia aumentar apenas 1,6%, para um total de R$ 3,9 bilhões. O crescimento comedido ocorreu mesmo com acréscimo de R$ 1,5 bilhão da BRF.

O crescimento de receita e Ebitda da América do Sul, conforme explicou Miguel Gularte, CEO da unidade, contou não apenas com a alta de preços, mas também com expansão no consumo de carnes com marcas e aumento nas vendas de produtos com maior valor agregado, que têm margens melhores. “O food service está muito forte e já passou dos níveis pré-pandemia. Além dos restaurantes abertos, o ecommerce e o delivery foram adicionados à demanda”, afirma ele.

Sobre a demanda chinesa, mesmo com algum recuo das exportações dentro do trimestre, Gularte acredita que se trata de um movimento consistente e com espaço para crescimento muito maior. De acordo com ele, os chineses consomem em média entre 50 kg e 60 kg de proteína animal por pessoa ao ano, e disso 5 kg são de carne bovina. No Brasil, mesmo com a desigualdade social, o consumo total de proteína é da ordem de 90 kg por pessoa ao ano.

O estrago maior que a BRF fez, contudo, foi na dívida. O endividamento líquido total da Marfrig subiu de R$ 14,4 bilhões para R$ 37,7 bilhões. Apesar do salto em termos absolutos, a alavancagem — que a relação entre a dívida líquida e o Ebitda de 12 meses —  passou de 1,45 vez para 2 vezes.

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