BRF: ações em alta de 1,5% na bolsa, com chapa indicada por Marfrig para conselho de administração (Rodolfo Buhrer/Reuters)
Graziella Valenti
Publicado em 22 de fevereiro de 2022 às 14h38.
Quem guardava alguma dúvida de que a Mafrig, companhia controlada por Marcos Molina, assumiria a frente da gestão da BRF viu elas se dissiparem por completo nesta terça-feira, dia 22. A companhia, que agora tem mais de 33% do capital da união entre Sadia e Perdigão, vai mostrar que comando se assume de fato, ainda que não se tenha o controle majoritário.
Hoje, a Marfrig apresentou sua chapa para um novo conselho de administração da BRF, cuja eleição está marcada para assembleia em 28 de março. O colegiado sugerido já teve aprovação dentro da própria BRF, pois é ela quem submete à votação — nove votos a favor e uma abstenção.
Com Molina como chairman da chapa proposta, a Marfrig ganha o protagonismo sobre o comando dos negócios. Em uma empresa de capital — por enquanto — pulverizado como a BRF, o conselho de administração é o órgão máximo de gestão e governança.
As ações da BRF registravam alta na bolsa há pouco, com ganho de 1,5% e a empresa avaliada em pouco menos de R$ 20 bilhões.
Molina encontrou obstáculos no aumento de capital da BRF, que levantou R$ 5,4 bilhões, para ampliar sua participação. A resistência foi apresentada pela fundação Petros, acionista histórica do negócio, desde os tempos da Perdigão. Mas, tudo indica, isso não alterou nenhum um pouco o curso dos acontecimentos até o momento. Ter uma fatia maior da operação seria — ou será — especialmente importante no caso de uma combinação societária das empresas. Destino que muitos acreditam já estar traçado.
A chapa apresentada pela Marfrig traz Sérgio Rial, atual chairman do Santander Brasil e membro do conselho do Santander na Espanha, como vice-presidente. O grupo tem um total de dez membros como o atual, sendo três mulheres.
O que mais despertou atenção no mercado é o fato de, pela primeira vez em décadas (se considerada a matriz da Perdigão), os fundos de pensão Previ e Petros estão de fora do poder de influência na administração, bem como membros das famílias fundadores da Sadia — permanecem como acionistas, com seus direitos como tais. Portanto, nada de rivalidades internas para permear as decisões.
Se eles saem mesmo, só a assembleia de BRF dirá, uma vez que existe sempre a possibilidade de que algum acionista peça voto múltiplo e que haja concentração de votos em um ou dois eventuais candidatos.
A chapa completa proposta tem ainda: Oscar Bernardes, ex-CEO global da Bunge, conselheiro da Dasa, Localiza, Mosaic (nos Estados Unidos); o pecuarista Pedro Camargo Neto, que negociou o acordo do algodão na Organização Mundial do Comércio (OMC) e é também ex-presidente da Abipecs e da Sociedade Rural Brasileira; Márcia Marcal dos Santos, sócia e vice-presidente da MMS Participações, controladora da Marfrig, com experiência na área financeira e de auditoria; Déborah Stern Vieitas, que durante anos trabalhou em bancos é hoje CEO da Câmara de Comércio Americana (Amcham); Eduardo Picetti, membro do conselho da Mahle Metal Leve e do conselho fiscal da Marfrig; e Altamir Silva, ex- diretor do Safra e do JP Morgan no Brasil e em Nova York, especialista em mercado de capitais e fusões e aquisições. Foram indicados para reeleição, ou seja, para permanecer no conselho Augusto Cruz, ex-presidente do grupo Pão de Açúcar, e Flávia Bittencourt, presidente da Adidas no Brasil.
A próxima grande pergunta que fica no ar, mas que talvez ainda seja cedo para uma resposta, é quem será o presidente executivo da BRF, uma vez que o contrato de Pedro Parente termina neste ano e ele quem construiu a presidência atual, com a indicação de Lorival Luz.
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