Amil: Fundador da Qualicorp, José Seripieri Junior comprou a Amil no fim do ano passado por R$ 11 bi, entre equity e dívidas (Amil /Divulgação)
Editora do EXAME IN
Publicado em 22 de dezembro de 2023 às 18h04.
Última atualização em 22 de dezembro de 2023 às 19h09.
O United Health Group (UHG) acaba de fechar a venda da Amil e de sua rede de hospitais no país para o empresário José Seripieri Júnior, fundador da Qualicorp, por cerca de R$ 2 bilhões em equity mais a assunção de dívidas.
Júnior concordou em assumir todos os passivos – passados e futuros – da UHG no Brasil, uma das condições estabelecidas pela americana, que queria sair definitivamente do país. A UHG tem R$ 9 bilhões em dívidas, tanto tributárias quanto de contingências provenientes de atendimento médico.
Com uma carteira de mais de 5 milhões de beneficiários entre planos de saúde e dentais e mais de 31 hospitais e 28 clínicas médicas, o Bank of America (BofA) estima que os ativos valem ao todo R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões.
O número exclui a carteira de planos de saúde individuais, que tem sinistralidade acima de 100% – ou seja, mais custos que receitas –, e é um dos principais ralos de dinheiro do grupo. Como os reajustes são tabelados e não é possível rescindir o contrato, Júnior precisará lidar com esse legado.
Em 2021, a UHG chegou a oferecer R$ 3 bilhões para que um comprador levasse a carteira de planos individuais, mas a operação não foi aprovada pela Agência Nacional de Saúde (ANS). Este ano, o grupo decidiu vender todos seus ativos no país.
Júnior é um grande conhecedor do mercado de saúde no Brasil e fundou a Qualicorp, maior administradora de planos do país. Ele deixou o negócio em 2020 e desde então vem trabalhando na oferta de planos por meio da startup QSaúde, que oferece tanto planos individuais – uma das principais lacunas do setor – quanto coletivos por adesão e voltados para PMEs.
Na Amil, terá um amplo turnaround para executar. No acumulado de nove meses, a operadora amargou um prejuízo operacional de R$ 2,6 bilhões, piora de 8% em relação a 2022 – num momento em que todo o setor vem se recuperando.
Os ativos mais atrativos são das redes de hospitais e clínicas médicas. O grupo é dono do segundo maior conjunto de leitos do país, são 3.800 — número inferior apenas ao da Rede D'Or. Uma de suas redes de hospitais mais famosas é a Samaritano, bastante conhecida no Rio de Janeiro e em São Paulo. Uma das estratégias para melhor a operação pode ser apostar na verticalização, como forma de reduzir custos e aumentar a rentabilidade.
Os últimos dias foram marcados por negociações intensas, com diversas trocas de propostas entre os interessados.
Nelson Tanure, controlador da Alliança, de medicina diagnóstica, e a firma de private equity Bain Capital, que fez um investimento bem-sucedido na Intermédica, chegaram a avançar bastante no processo e estavam entre as propostas contempladas hoje pelo conselho de administração da UHG.
No caso da Bain, a assunção dos passivos foi um dos pontos que fizeram a proposta não avançar. A família Bueno, dona da Dasa e que vendeu o controle da Amil para a UHG há dez anos, também corria por fora, bem como a Coruja, gestora de Márcio Schettini (ex-Itaú), que tentou juntar um pool de investidores para o ativo.
A Advent chegou a participar do processo, mas não chegou à fase final, segundo fontes próximas à negociação.
A venda encerra uma experiência malsucedida para a UHG no Brasil. O grupo americano, que fatura mais de US$ 210 bilhões globalmente, pagou US$ 4,9 bilhões pela Amil em 2012 (ou cerca de R$ 10 bilhões ao câmbio da época), no que foi considerada a grande tacada do fundador Edson Bueno, também fundador da Dasa. Sua família ficou com pouco mais de 1% das ações da UHG.
A UHG foi assessorada pelo BTG Pactual e pelo Lefosse Advogados.