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Braskem: todos interessados querem caminhos para cheque sem prêmio

Queda no preço das ações na bolsa abriu espaço para nova discussão de aquisição de controle

Braskem: lista de interessados tem gestora de private equity Apollo, holding J&F, Unipar e mais recentemente até grupo Ultra (Braskem/Divulgação)

Braskem: lista de interessados tem gestora de private equity Apollo, holding J&F, Unipar e mais recentemente até grupo Ultra (Braskem/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 15 de abril de 2022 às 13h27.

Última atualização em 15 de abril de 2022 às 13h55.

Depois da tentativa frustrada de uma oferta das ações preferenciais da Braskem e com o mercado global fechado e sacudido por uma guerra, a controladora Novonor e seus bancos credores voltaram a conversar sobre a venda do controle da petroquímica. A lista de interessados que acenaram para esse diálogo começa com o fundo de private equity Apollo, que carrega o sucesso da formação da Lyondell Basell em seu histórico. Mas tem também J&F, holding da família Batista, a pequena Unipar, de Frank Geyer, e mais recentemente o grupo Ultra, após uma tímida sondagem.

Apesar da ansiedade dos investidores ser significativa, não há até o momento nenhuma proposta na mesa com valores estabelecidos. Nada, nadinha de nada. A expectativa é que elas comecem a chegar nas próximas semanas. Assim, no mês que vem, a Novonor e os credores poderiam ter uma clareza maior sobre quais conversas teriam potencial de avançar realmente.

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A companhia está avaliada perto de R$ 35 bilhões na B3, com as ações pouco acima de R$ 43. No segundo semestre do ano passado, o papel chegou a ultrapassar R$ 70 (em um único pregão, é verdade) e a petroquímica valia, então, ao redor de R$ 55 bilhões. Pouco antes dessa máxima, quase não havia interessados pelo controle da Braskem e quem apareceu no processo formal de venda tentou coisas diversas como aquisição parcial de ativos. As propostas? Das poucas por toda empresa, teve até R$ 39 por ação.

Mas foi justamente a queda recente dos papéis na bolsa para patamares entre R$ 40 e R$ 45 que abriu espaço para uma nova conversa sobre controle. Até então, os valores eram considerados salgados demais. Os controladores da Braskem estão bastante cientes disso.

É por essa razão que, apesar de uma disposição para buscar prêmio em uma eventual negociação, a essa altura já estão todos esclarecidos que dificilmente algo diferente desse intervalo será alcançado. Especialmente porque a petroquímica carrega em seu balanço as provisões para os afundamentos em Alagoas pela exploração das minhas de sal-gema (um risco contido, provisionado, mas com a solução ainda em andamento), e agora a expectativa de um ciclo petroquímico não tão brilhante.

Em 2021, o Ebitda da Braskem alcançou US$ 5,5 bilhões e a estimativa é que neste ano fique entre US$ 2,5 bilhões e US$ 2,7 bilhões.  Não há como não esperar que isso fique de fora da conta de qualquer interessado.

Vale esclarecer aqui que não há um processo formal de venda em andamento, como o que foi realizado em 2021. Ou seja, não existe um cronograma que interessados devam seguir. Isso dá liberdade para que Novonor e a sócia Petrobras, ao menor sinal de uma virada de mercado, possam ser ágeis para voltar a tentar uma oferta pública de ações.

As sócias querem manter todas as portas abertas ao mesmo tempo. E o que se sabe é que elas devem trabalhar juntas nessa direção, de forma garantida, até o fim deste ano. Já tem gente nesse núcleo de envolvidos pensando nos “e se” da vida. “E se o PT é eleito e a Petrobras tem uma nova gestão que decide manter a Braskem?”.

Para além dos grupos que querem comprar o negócio para manter e da gestora Apollo, quem está na fila esperando a vez do Plano B chegar é o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame). A instituição está à frente de uma estrutura financeira para a transação que passa pela compra da dívida dos bancos credores da Braskem — antes da aquisição das ações.

Credores

O grupo de cinco bancos que possuem direitos sobre as ações da Braskem — Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, BNDES e Santander — somava um crédito de R$ 15 bilhões contra a Novonor no início de 2021, entre principal e juros acruados. Esse valor, deverá cair para algo entre R$ 12 bilhões e R$ 12,5 bilhões até junho deste ano, em razão de dividendos pagos pela petroquímica no ano passado e neste ano.

Essa conta importa para os interessados no controle da Braskem. Não é apenas o BTG Pactual que tem em vista uma estrutura que coloca mais foco na dívida do que nas ações. Todos os interessados começam a conversa questionando se existe espaço para comprar as ações da Novonor, que detém pouco mais de 50% das ações ordinárias, sem adquirir as de Petrobras — apesar do acordo de acionista que une as sócias.

O caminho para isso passaria por assumir os créditos dos bancos e manter tudo como está por um tempo — seja para ganhar fôlego e levantar um cheque final maior, para comprar Petrobras e investidores, seja para aguardar um bom momento para vender os papéis. Nesse cenário, é bom que os investidores estejam preparados para não ver nenhuma oferta de 'tag along', ao menos, não imediata. E ter a consciência de que o preço correria o risco de ser estabelecido pela execução da troca da dívida pela posse das ações.

Novonor e credores têm dito que o jeito mais simples e do qual se extrai mais valor da aquisição é deter 100%. “E daí, por que não sonhar com uma mudança de domicílio da Braskem, para uma listagem internacional no futuro?”, disse uma das fontes que acompanha o processo. Mas a conta de comprar a Braskem é salgada para todo mundo, não tem jeito. A preços de mercado, 100% seriam R$ 35 bilhões. Somente Petrobras e Novonor, R$ 27 bilhões.

Por isso, quem conhece o tema de perto costuma brincar que os investidores não deveriam estar iludidos: há espaço para muita criatividade de estrutura na aquisição da Braskem. Alguém já pensou na compra da fatia da Petrobras (que possui menos de 50% das ações ordinárias) e mais a dívida dos bancos, sem que ela seja imediatamente trocada pela posse dos papéis da Novonor? Haveria ‘tag along’ nesse caso? Quando? E prêmio?

A gestora Apollo, até onde se sabe no momento, é a melhor preparada para uma aquisição integral da Braskem. Mas é também quem faria a due dilligence mais longa. E o risco de uma diligência profunda, por ser demorada, todo mundo que acompanha a empresa já conhece: Novonor, Petrobras e investidores. Por outro lado, J&F e Unipar, e não são poucos os que enxergam isso, podem enfrentar dificuldades para a transação, especialmente com a Petrobras. A estatal, pelo escrutínio ao qual é submetida hoje em dia, evitaria negócios a família Batista e com Frank Geyer, pois todos passaram por acordos de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF).

A Braskem continua sendo uma noiva cobiçada, mas difícil.

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