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Braskem: muita emoção e muitas saídas para a maior petroquímica da AL

Em meio ao ciclo de baixa, companhia vale menos de 40% de seu apogeu com quase R$ 50 bi na B3

Braskem: plano da recuperação judicial prevê valor mínimo de R$ 17 bi para fatia da Odebrecht (FuturaPress/FuturaPress)

Braskem: plano da recuperação judicial prevê valor mínimo de R$ 17 bi para fatia da Odebrecht (FuturaPress/FuturaPress)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 8 de agosto de 2020 às 21h49.

Última atualização em 8 de agosto de 2020 às 21h52.

O destino da Braskem — companhia que hoje vale 19 bilhões de reais na B3, mas que já valeu quase 50 bilhões de reais — está selado há muito tempo: a venda do controle pela Odebrecht. O grupo de origem baiana é dono de 50,1% do capital votante e mais ações preferenciais da empresa, num total de 38,3% do capital total. A Petrobras é sócia no comando, mas por meio de um acordo de acionistas com poucos direitos: tem uma posição de 47% das ações ordinárias, mais preferenciais, em um total de 36,1% da companhia. O controle da petroquímica, com essa dupla, é o coração da Operação Lava-Jato.

Na virada da madrugada de sexta para sábado, a Odebrecht anunciou que retomou o processo de venda do controle da Braskem — pouco mais de dez dias após a Justiça homologar o processo de recuperação do conglomerado fundado por Norberto Odebrecht em 1944. Nada muito fora da expectativa. As emoções para valer, segundo o EXAME IN apurou, estão fora do radar. E podem não demorar. Até agora, tudo que é público está dentro do script.

O futuro da petroquímica, a maior produtora de resinas plásticas das Américas, com receita líquida anual superior a 50 bilhões de reais, começou a ser traçado em 2016. Na ocasião, a Odebrecht decidiu dar o controle do negócio em garantia para cinco bancos credores — Bradesco, Itaú, Banco do Brasil, Santander e BNDES. O motivo? A tentativa de salvação da companhia açúcar e álcool que hoje tem nome de Atvos, e cujo controle é alvo de uma disputa com o fundo americano Lone Star (mas isso é outro capítulo dessa novela, que começou em junho de 2015, com a prisão de Marcelo Odebrecht, então presidente do grupo e condenado pela Lava-Jato por uma coleção de crimes). Nessa época, ainda imperava na Odebrecht um otimismo de que tudo se resolveria bem. Mas, dali para frente, a vida só ficou mais difícil por uma coleção de motivos, que vão além do maior escândalo de corrupção do Brasil.

Agora, a Odebrecht contratou o banco de investimento Morgan Stanley para conduzir um processo formal de venda da Braskem — diferentemente da tentativa iniciada em 2018 por meio de uma negociação exclusiva com a holandesa LyondellBasell, que terminou por naufragar um ano depois e que tinha o Lazard à frente das conversas.

Vender a Braskem tornou-se uma obrigação pelo conglomerado. É parte de todo acordo envolvendo a recuperação judicial do grupo, que reorganizou 55 bilhões de reais em dívidas. A petroquímica cobre um total (considerando principal e juros) de 15 bilhões de reais em dívidas com os cinco bancos já citados — ou não cobre, porque a fatia do grupo vale hoje, a preços de bolsa, 7,3 bilhões de reais.

Ficou combinado com esse grupo de credores — no qual Itaú e Bradesco conquistaram ampla vantagem por terem concedido o único crédito pós-Lavo Jato em 2018, de 2,6 bilhões — que a Braskem teria de ser vendida em até 3 anos para honrar os compromissos garantidos. E que o esforço para isso teria de ser breve. No plano de recuperação judicial, a Odebrecht estima que precisa obter 17 bilhões de reais por sua fatia de 38% no negócio para quitar os bancos e pagar os compromissos tributários advindos da operação.

Todos os participantes têm consciência que este é um objetivo difícil atualmente, pois significa avaliar a Braskem em, pelo menos, 45 bilhões de reais. A Odebrecht já pôde sonhar, nas conversas com a LyondellBasell, em avaliar apenas sua fatia em 20 bilhões de reais. Mas tudo isso ficou pelo caminho. Foram muitas as pedras: desde um balanço atrasado e um relatório à Comissão de Valores Mobiliários americana, a SEC, que não saía nunca por discussões com auditores, até os buracos em Alagoas, com os passivos pela exploração das minas de sal-gema e que atualmente equivalem a provisões de 5 bilhões de reais no balanço da empresa.

O plano da Odebrecht — salvo algum milagre que avalie a Braskem com grande prêmio — não é concretizar nenhuma venda estratégica no curto prazo. O projeto continua sendo 2022. Ate lá, o novo assessor financeiro terá tido tempo de trabalhar com a empresa para fornecer informações sobre a questão de Alagoas, montar um bom data-room, e estar fora do ciclo de baixa. A Braskem perdeu a classificação de investment grade. Conforme o balanço do segundo trimestre, a petroquímica queimou 1,5 bilhão de reais em caixa no primeiro semestre deste ano e fechou junho com a relação entre a dívida líquida e o Ebitda recorrente acima de 7 vezes.

Novo Mercado

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, tem sido para lá de vocal em demonstrar os planos de vender a posição da petroquímica. Esse objetivo é dos tempos em que Aldemir Bendine  e Ivan Monteiro assumiram a estatal. Atualmente, caso a Odebrecht venda o controle, todos os acionistas da petroquímica já têm acesso ao prêmio de controle, o chamado ‘tag along’. O poder da estatal sobre o processo, mais do que no acordo de acionista, está na relação como fornecedora. A Petrobras ainda é a principal fonte de nafta à Braskem. Qualquer que seja o comprador, desejará um contrato de abastecimento de longo prazo para melhor precificar o negócio.

O plano da Odebrecht para uma possível migração da Braskem ao Novo Mercado, cujos capítulos são aguardados para as próximas semanas, é organizar com a Petrobras um novo acordo no qual o conglomerado não perca o poder de controle. Para isso, a Petrobras teria de vincular perto de 13% do capital — dos 36% que possui — em um acordo de acionista, que somaria a maior do capital votante, e ficaria livre para vender o restante. Os direitos da estatal seriam reduzidos conforme sua posição caísse. Mas nada disso está selado e há muitas alternativas sendo avaliadas.

Foi no meio dessa negociação que a Petrobras trouxe o pedido para troca do diretor financeiro Pedro Freitas. A estatal, que têm planos de vender as ações que possui em bolsa, pulverizando a fatia com diversos investidores, parece não estar satisfeita com a queda no valor de mercado da empresa e também das cotações dos bonds de dívida, indicador de solvência.

Porém, essa negociação ainda não teve o fim desejado. A Odebrecht, ao iniciar um processo de venda formal de controle, relembra à Petrobras como pode tomar decisões. A petroleira, por sua vez, tenta reafirmar  seus poderes indiretos sobre o negócio. Por enquanto, nenhuma novidade foi palpitante. Mas, tudo indica, que as próximas semanas podem ter desfechos relevantes.

 

 

 

 

 

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