GamerSafer: a startup usa inteligência artificial para identificar jogadores e evitar assédio em jogos online (RyanKing999/Getty Images)
Carolina Ingizza
Publicado em 26 de abril de 2021 às 12h45.
Última atualização em 28 de abril de 2021 às 07h01.
Com faturamento global maior que o das indústrias de cinema e streaming de vídeo e de música somados, o mercado de videogames é um mar de possibilidades para novas empresas. Enquanto as desenvolvedoras se empenham em criar novos jogos para abocanhar uma fatia do mercado que movimentou US$ 126 bilhões em 2020, algumas funções periféricas que garantem o bom funcionamento dos games, como a moderação e gestão de áudio, são terceirizadas.
É nesse segmento que a startup americana GamerSafer, fundada pelo casal brasileiro Maria Oliveira e Rodrigo Tamellini, atua. A empresa, fundada há quase dois anos no Vale do Silício, é especializada em garantir a segurança e o bem-estar de jogadores profissionais e amadores em jogos online. Com sua tecnologia proprietária, ela conquistou seu primeiro grande cliente, o popular jogo Minecraft, e ainda captou R$ 1,5 milhão em rodada seed liderada pelos grupos de investidores-anjo GVAngels e Harvard Angels.
Segundo estudo do centro de tecnologia e sociedade da Anti-Defamation League, mais de 80% dos 3 bilhões de jogadores do mundo já passaram por problemas como assédio, sexismo, racismo, discurso de ódio, roubo de identidade e fraudes em jogos online.
Enquanto o mercado investe em ferramentas de monitoramento dos chats para banir usuários que causam problemas, a GamerSafer tenta evitar que as interações ruins aconteçam. "Nossa missão é tornar os jogos eletrônicos mais seguros, especialmente para jovens e crianças", diz Maria Oliveira Tamellini, cofundadora e diretora de operações da empresa.
A startup desenvolveu uma inteligência artificial que identifica os jogadores no login pela sua imagem em vídeo, garantindo que são quem dizem ser, e os coloca em salas com outros gamers de perfil semelhante, usando critérios como idade, nível de competitividade e uso de palavras ofensivas. Assim, tenta evitar os principais gatilhos de problemas das interações online. Pelo serviço, ela cobra das desenvolvedoras uma taxa mensal de centavos de dólar por usuário.
A ideia do negócio surgiu de inquietações de Maria e Rodrigo sobre como garantir a segurança dos filhos em um universo de jogos que cada dia está mais baseado nas interações online. A experiência prévia do casal ajudou a dar base para o negócio: Rodrigo trabalhou na divisão de games da Intel no Vale do Silício e Maria fundou e presidiu uma consultoria de gestão de impacto social no Brasil por 12 anos.
Juntos, começaram a pensar sobre alternativas para prevenir problemas de interação social em games e, em 2019, foram aceitos no programa de incubação da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Em seis meses, desenvolveram o primeiro protótipo do produto e receberam apoio financeiro da Fundação Bill e Melinda Gates.
A GamerSafer concluiu a primeira versão do seu produto no ano passado e começou a testá-lo com ligas de eSports dos Estados Unidos. Já na frente de jogos online, o primeiro grande cliente é o Minecraft, jogo que ultrapassa a marca de 130 milhões de jogadores por mês.
A empresa passou o primeiro trimestre de 2021 fazendo testes de integração com o jogo e colocou a solução para rodar agora em abril. "Com a conquista de um cliente tão expressivo, esperamos avançar nas negociações com outras empresas nos próximos meses. Já vemos um efeito de boca a boca acontecendo", diz Rodrigo.
O aporte da GVAngels e Harvard Angels chega para dar fôlego para a startup investir em aquisição de talentos e tecnologia. O negócio, que agora tem 10 funcionários dedicados, deve abrir pelo menos mais quatro vagas até o meio do ano. A meta dos sócios é usar o capital recebido para ganhar tração, adquirir novos clientes e levar a companhia até seu ponto de equilíbrio.
"Ao conhecer a GamerSafer, fiquei impressionado com o tamanho do mercado e do problema que eles resolvem. A única questão era se a solução proposta por eles era copiável. Ora, hoje em dia tudo no mundo é. O grande diferencial é que eles saíram na frente, atuam em um nicho específico e já conquistaram um grande cliente", diz o investidor Marcelo de Castro Fernandes, ex-presidente da C&A Brasil e da C&C, que organizou a rodada com os grupos de anjos brasileiros.