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Brasileiros criam Gaivota, o software para se relacionar com o campo

Startup vai selecionar 100 empresas para fornecer solução gratuitamente e seguir desenvolvendo o produto, pioneiro na cadeia do agronegócio

Mapa de controle da produção de soja no Brasil, estilizado com filtro do EXAME IN: informações serão automatizadas e estarão disponíveis dentro do próprio software (Gaivota/Divulgação)

Mapa de controle da produção de soja no Brasil, estilizado com filtro do EXAME IN: informações serão automatizadas e estarão disponíveis dentro do próprio software (Gaivota/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 30 de novembro de 2021 às 09h31.

Última atualização em 30 de novembro de 2021 às 09h44.

A sede da Gaivota é no Brasil, mais precisamente em São Paulo. Mas o berço mesmo da primeira startup de software vertical para o mercado de agronegócios é Stanford, Califórnia, nos Estados Unidos. Foi lá que três brasileiros, Alexandre Spitz (MBA/MS), Mateus Neves (PhD), e Ram Rajagopal (PhD e professor da universidade), se conheceram e decidiram criar o negócio, ainda em 2016.

Era tudo mato quando eles escolheram atuar em um mercado que movimenta, por enquanto, US$ 260 milhões ao ano no Brasil (software para o agro) dentro de uma indústria que é um dos principais motores do país e gira US$ 200 bilhões anuais — e crescendo todo ano. “Acreditamos que esse segmento pode movimentar sozinho 6 vezes o valor atual. Mas, no mínimo, dava para ser superior a US$ 1 bilhão por ano”, comenta Alexandre Spitz, em entrevista ao EXAME IN.

O espírito por trás da escolha setorial seguiu o desejo dos três criadores de buscar soluções para os desafios que o mundo pode enfrentar nos próximos 100 anos, a partir da tecnologia já existente hoje.

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A Gaivota atua da porteira da fazenda para fora, no mercado ao redor do campo, com fornecedores, clientes e financiadores. Na prática, seus clientes vão desde enormes multinacionais de químicos, passando por tradings, revendedoras e indo até a cadeia de financiamento. É o que o pessoal da tecnologia chama de “enabler”, ou seja, sua proposta não é disruptar o mercado, e sim ser potencializadora das empresas que atuam nele. A ideia é ser um motor de inovação e expansão para as empresas.

O projeto de Spitz, Neves e Rajagopal para o setor é muito maior do que o Brasil. O plano da Gaivota é ser uma solução internacional, uma vez que se trata de um mercado pouco ou nada explorado. “As pessoas enxergam a Amazon como um market place. Mas é muito mais do que isso. Tem uma inteligência de dados enorme por trás que permite que tudo aquilo aconteça. É isso que nós fazemos para o agro”, afirma o executivo.

Há quase cinco anos, a startup atua discretamente, voando abaixo dos radares. É conhecida de grandes players do setor, como a gigante de químicos Bayer, mas ainda não houve nenhum esforço de divulgação de forma mais ampla. A companhia vinha trabalhando quase em segredo dentro de um seleto grupo de companhias que são alvo do seu negócio para desenvolver dentro delas a solução, vendo as necessidades reais.

“Para atuar no mercado B2B do agronegócio, que tem esse tamanho, queríamos nos preparar para chegar de forma robusta”, explica Spitz. O movimento atual ainda é quase como um ‘soft launch’.

A Gaivota selecionará mais 100 empresas nas quais vai entrar gratuitamente para seguir no desenvolvimento da solução e aprimorar ainda mais suas ferramentas. “Não tem um foco específico. Queremos empresas de todos os tamanhos e frentes de atuação para mostrar que o produto serve tanto para gigantes multinacionais como para negócios regionais de menor porte”, reforça o CEO.

Foi só por isso que decidiu levantar um pouco a cortina. O software não cuida do campo, mas gerencia todos os fluxos das empresas clientes com ele. A solução serve tanto para companhias que ainda não se digitalizaram como para aquelas que operam hoje com o que Spitz chamou de “Frankenstein” tecnológico, ou seja, uma colcha de retalhos de ERPs.

Os negócios escolhidos poderão experimentar, sem custo, funcionalidades como inteligência geoespacial e automação de análises socioambientais. Na prática, essas empresas conseguirão acompanhar a safra de soja, por exemplo, a partir de modelos de inteligência artificial, revolucionando a visibilidade que têm de sua região, de seu market share e wallet share, além de conseguir verificar, automaticamente, se áreas e produtores apresentam algum risco socioambiental.

Por meio de soluções proprietária, a empresa usa modelos de inteligência artificial para processar trilhões de pontos de dados por safra, alavancando diversas outras fontes nacionais e internacionais como NASA e Agência Espacial Europeia Gaivota (ESA).

A solução de software na nuvem migra para o digital os principais relacionamentos com os produtores. Com isso, os dados ficam organizados e ajudam no ganho de eficiência e na tomada de decisões estratégicas. As informações ficam disponíveis dentro do próprio software, de forma fácil. “A vida está muito complicada. Cheia de botões para apertar. É preciso ser simples, facilitar.”

Falar de valores ainda não está nos planos da Gaivota, mas a empresa já recebeu aportes de recursos. Primeiro do Canary e, em seguida, do Valor Capital Group.  Mandi Ventures e Alexia Ventures também estão entre seus investidores.

“Ainda estamos na pré-história da revolução tecnológica”, garante Spitz, explicando que as inovações começaram no sistema financeiro, com as fintechs, porque era um setor onde os dados já existiam de forma organizada e digital. “O banco não controla sua conta corrente em uma planilha de excel como muitas empresas do agronegócio ainda fazem.”

O trio é um exemplo concreto do que muitos investidores veem para o futuro: a onda verde vem aí. A digitalização do agronegócio é a próxima fronteira de evolução da humanidade.

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