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BP: por que a 'major oil' que encolheu pode estar na mira da Shell

Rumores de uma aquisição pela concorrente voltam a ganhar força e expõem a fragilidade da petrolífera britânica que deu uma recente guinada aos combustíveis fósseis

Britânica tem um dos menores valores de mercado entre as maiores petrolíferas globais (.)

Britânica tem um dos menores valores de mercado entre as maiores petrolíferas globais (.)

Mitchel Diniz
Mitchel Diniz

Repórter de negócios e finanças

Publicado em 25 de junho de 2025 às 17h35.

Última atualização em 25 de junho de 2025 às 18h54.

Não demorou muito para a Shell desmentir que estaria em tratativas iniciais para adquirir a BP, manchete que estampou o noticiário do Wall Street Journal nesta quarta-feira, 25. Esta não é a primeira vez que o rumor circula (e faz preço) no mercado. Dificilmente será a última. A BP é uma major oil cada vez menos... major, e sua derrocada, nos últimos 15 anos, acaba sendo um prato cheio para especulações.

O valor de mercado da companhia, hoje, está em torno de US$ 80 bilhões e faria da suposta aquisição uma das maiores já realizadas na indústria do petróleo. A cifra, porém, equivale a menos da metade do market cap da Shell, de aproximadamente US$ 207 bilhões. E pensar que as duas já tiveram tamanho semelhante não faz muito tempo, disputando mercados à unha.

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A manchete de hoje, inclusive, poderia ser outra, colocando a BP na ponta compradora do deal. Circunstâncias trágicas e decisões questionáveis, porém, criaram um abismo entre as petrolíferas, deixando a britânica em posição frágil entre outras majors.

A explosão da plataforma Deepwater Horizon, em 2010, foi o estopim dos problemas da BP. Condenada por negligência e má conduta intencional, a companhia paga até hoje o custo alto de uma tragédia que ceifou a vida de 11 pessoas e provocou o pior vazamento de óleo da história do Golfo do México. Foram US$ 65 bilhões em multas, custos de limpeza ambiental e compensações. Só naquele ano, a BP perdeu metade de seu valor de mercado e nunca mais retornou ao patamar que tinha antes da explosão.

Outro baque bilionário veio cerca de uma década depois. A BP simplesmente abandonou uma fatia de quase 20% que detinha na estatal russa de energia Rosneft, acompanhando uma debandada de multinacionais que se retiraram da Rússia após a invasão à Ucrânia.

Isso gerou um rombo de US$ 13,5 bilhões nas contas da petrolífera em 2022, mas não impediu que o lucro daquele mesmo ano fosse recorde. A mesma guerra que tirou um investimento estratégico da BP, fez o preço do petróleo disparar, diante da ameaça de uma crise energética.

Para além do petróleo?

A indústria, que vinha reduzindo investimentos em combustíveis fósseis, recalculou a rota a partir dali. Justo num momento em que a BP se mostrava totalmente comprometida em combater mudanças climáticas, deixando o passado de tragédias ambientais para trás. Tinha acabado de retomar, em 2020, uma ideia antiga de ressignificar suas iniciais, de British Petroleum para "Beyond Petroleum". Foi a primeira entre as grandes petrolíferas a estabelecer uma meta de carbono zero até 2050 e, antes disso, em 2030, alcançar uma redução de 40% na produção de petróleo.

Essas metas foram oficialmente revistas no último mês de fevereiro, quando a BP decidiu "pivotar" o negócio. A orientação agora é dedicar US$ 10 bilhões por ano, até 2027, à exploração e produção de petróleo e gás. Assim, a companhia almejar chegar à marca de 2,5 milhões de barris de óleo equivalente (boe) por dia — acima da média de 2,3 milhões de 2024.

Por outro lado, os investimentos em transição energética, que vinham sendo o foco da companhia nos últimos anos, foram reduzidos a menos da metade, com um corte anual de US$ 5 bilhões no capex destinado a esse propósito. Os investimentos nessa frente não devem passar de US$ 2,5 bilhões por ano. A BP, que vinha investindo sobretudo em eletrificação, mudou o foco para hidrogênio e captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês). São fontes que se adequam a sistemas que ainda se alimentam de combustíveis fósseis e as principais apostas das americanas ExxonMobil e Chevron, em suas frentes de transição.

A volta às origens da BP, aliás, teria o dedo de um investidor ativista dos Estados Unidos. A Elliot Investment Management tem uma fatia de pouco mais de 5% na britânica e defendia publicamente uma guinada no negócio ao combustível fóssil. A percepção do mercado é de que seguir à risca os desejos de um minoritário estrangeiro, quando outros de maior calibre condenavam o turnaround, mostra o quanto a BP está vulnerável.

Mas aqui tem outro problema de timing: as novas orientações coincidem com um momento de baixa no preço global do barril do petróleo. A narrativa de fazer estoques para uma possível crise energética mudou para a de um excesso de oferta, em um mundo onde as relações comerciais globais tendem a ser impactadas pelo tarifaço imposto pelos Estados Unidos.

Os investidores percebem as dificuldades, tanto que as ações parecem ter estacionado ao torno dos US$ 30 dólares desde o início do ano. Hoje chegou a subir forte, caminhou para os US$ 33, com a notícia "ressuscitada" de uma aquisição pela Shell. Quase zerou os ganhos com o desmentido, afinal, não foi dessa vez. Ainda.

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