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Bom ou ruim? Marfrig troca comando da BRF, mas não acaba com incertezas

Miguel Gularte assume como novo CEO da dona de Sadia e Perdigão

Frango: diferença com bovinos na cadeia produtiva é desafio para novo CEO (THEGREENJ/Getty Images)

Frango: diferença com bovinos na cadeia produtiva é desafio para novo CEO (THEGREENJ/Getty Images)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 30 de agosto de 2022 às 10h46.

Última atualização em 30 de agosto de 2022 às 19h01.

Veio a tão esperada troca de comando na BRF (BRFS3), depois que a Marfrig (MRFG3) assumiu a gestão do negócio. Sai Lorival Luz e entra Miguel Gularte, que estava à frente da operação de bovinos para América do Sul. A companhia dona das marcas Sadia e Perdigão, cada vez mais, ganha contornos de uma empresa que tem dono: e é Marcos Molina. Essa é a parte positiva. Mas os sentimentos em relação à mudança são mistos.

O desafio de Gularte pela frente não é pequeno, nem em tamanho, nem em complexidade. É bem maior, na visão de analistas, do que foi arrumar a casa da operação da Marfrig abaixo da linha do Equador. Antes, a empresa era evidentemente menos eficiente que suas concorrentes e o executivo tem o mérito de ter colocado o negócio nos trilhos.

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No segundo trimestre, dos R$ 21,6 bilhões de receita líquida da Marfrig em carnes, R$ 7,1 bilhões vieram da América do Sul, com aumento de 42% em receita e de 275% no Ebitda. A BRF, por sua vez, teve R$ 13 bilhões em receita líquida, 11% a mais que no mesmo período de 2021.

Gularte fez toda sua carreira no setor de carnes bovinas. Agrada que o executivo tem uma história industrial, tipo de liderança que a BRF não tem há muitos anos. Mas preocupa o fato, de mais uma vez, a BRF não ter um CEO que entenda da cadeia de frango e suínos. O último foi José Antônio Fay, que veio depois de Nildemar Secches. Desde então, e já se vai quase uma década, todos os presidentes da empresa não eram do ramo: Pedro Faria, da era Abilio Diniz e Tarpon, Pedro Parente, que veio apagar o incêndio, e depois Luz, que o sucedeu. E não são poucos aqueles que atribuem os problemas históricos da BRF à ausência de alguém que tenha conhecimento dos meandros do negócio.

Para quem pensa que é tudo proteína animal basta lembrar quantas vezes Sadia entrou e saiu do negócio de boi e que a própria Marfrig não teve sucesso com a Seara. Aliás, a JBS conseguiu fazer a Seara decolar porque tem ali Gilberto Tomazoni, que veio da Sadia antes de assumir, dentro do grupo da família Batista, a Frangosul (ex-Deux).

O mandato de Gularte para a BRF é rentabilidade e ganho de marke-share, outra crítica que a BRF sofre nos últimos anos, uma vez que tem as marcas tidas como as mais potentes do mercado. Aliás, eficiência operacional, logística e comercial (neste caso, com ênfase para a BRF) é o direcionamento estratégico dado pelo conselho de administração da Marfrig para todas as operações.

No comparativo, porém, as diferenças de cadeia são relevantes. É tudo proteína animal, mas longe de serem o mesmo bicho corporativo. Enquanto as empresas de carne compram o boi criado, em aves, a produção é toda integrada. Além disso, os mercados de exportação nos quais o Brasil é forte também são diferentes. Há muita especificidade de cortes para cada região.

O fato de a BRF finalmente ter um dono é algo visto como bastante positivo. Mas as dúvidas pela frente têm origem também no estilo Molina. Tido como um empresário desconfiado em suas relações, o temor de investidores é que a escolha tenha se pautado na confiança que deposita em Gularte. Na Mafrig, para a posição deixada pelo executivo, entra Rui Mendonça, que estava à frente de industrializados. O discurso aqui é de continuidade e, quando esse é o assunto, não escapam as coincidências que faz com que os dois — gaúchos e com a mesma idade — se conheçam desde muito tempo antes de estarem na mesma empresa.  Gularte é veterinário e Mendonça, engenheiro.

Aproveite e conheça um pouco mais de Gularte. Ele esteve faz pouquinho tempo no talk show do EXAME IN: 

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