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Bolsa lança “Opção de Copom”: investidor ganha se acertar decisão do BC

Novo contrato começa a ser negociado hoje pelo valor fixo de 10 mil reais, disponível para todo mercado, incluindo pessoa física

Prédio do Banco Central em Brasília: Investidor terá contrato para cada reunião do Copom (Adriano Machado/Reuters)

Prédio do Banco Central em Brasília: Investidor terá contrato para cada reunião do Copom (Adriano Machado/Reuters)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 25 de maio de 2020 às 07h03.

Última atualização em 25 de maio de 2020 às 07h05.

Não tem nada a ver com a crise. Já estava tudo programado há mais de um ano. Mas vem bem a calhar. A B3 dá a largada hoje na negociação de contratos de “opção de Copom”. Isso mesmo que você ouviu – no caso, leu. A partir de agora, será possível aplicar na expectativa de decisão para a taxa básica de juros a cada reunião do Comitê de Política Monetária, o Copom, do Banco Central (BC).

Em um primeiro momento, haverá contratos com diferentes ‘strikes’ para as próximas duas reuniões. ‘Strike’, nesse caso, significa o que o investidor entende como resultado do encontro: redução, aumento e manutenção, com os percentuais definidos. O resultado dessa aplicação será de tudo ou nada.

O tudo - que configura o lucro, no caso - pode variar bastante. O nada, é claro, significa perder todo o valor investido.

O valor cheio do contrato é fixo em 10 mil reais cada. O prêmio que cada investidor pagará dependerá da chance que o mercado atribuir àquele evento.

No dia 6 de maio, o comitê decidiu por um corte de 0,75 pontos percentuais na taxa básica de juros do país, a Selic, levando o indicador a 3,00% ao ano. No documento sobre a decisão, o Copom indicou que pode reduzir o indicador em mais 0,75 para levar a taxa anual a 2,25%, ponto que indicou como fim de ciclo.

Por exemplo, se para a próxima reunião do Copom, o mercado creditar uma perspectiva de 65% para um corte de 0,25 pontos, cada investidor que tiver aplicado nessa expectativa terá um lucro de 3,5 mil reais por contrato de opção. Isso porque o aplicador, por ter acertado a aposta, receberá os 10 mil, mas descontará dela o equivalente 6,5 mil reais da aquisição da opção.

Quem errar o resultado perde todo o valor de aquisição do contrato, cujo preço dependerá da certeza embutida nele. Aquele investidor que tiver aplicado em um resultado com 40% de chance de acerto perderá 4,0 mil, se não acertar o movimento do comitê.

O custo de aquisição do contrato vai variar conforme a crença em determinado resultado durante o período de negociação até a reunião ocorrer. Assim, um investidor que, por exemplo, apostar em um resultado com chance de 25% de ocorrer poderá se desfazer dele se a chance dessa opção subir para 65% antes do encontro do BC. Nesse caso, o lucro seria de 4 mil reais, a diferença entre o custo de 2,5 mil reais de quando fez a aplicação para 6,5 mil de quando transferiu sua opção.

Como costuma ocorrer em todos os mercados, quanto mais segura a aposta parecer, menos lucro ela tende a oferecer. Quando mais arriscada, menos provável, maior será o retorno em caso de acerto.

É tudo mera coincidência

Marcos Skistymas, superintendente de juros e moedas da B3, contou ao EXAME IN que esse contrato vinha sendo desenvolvido pela bolsa há cerca de dois anos. O lançamento neste momento, segundo ele, é porque tanto os sistemas da B3 ficaram prontos para essa negociação quanto o mercado se mostra preparado.

“Não tem nenhuma relação com a crise. O lançamento agora é simples coincidência. O mercado estava preparado para isso já, pois divulgamos um cronograma para novos produtos”, explicou. O executivo contou que o desenvolvimento de novos contratos é sempre feito em conjunto com o mercado, no sentido de refletir uma demanda dos investidores.

Até o momento, a B3 não tinha opção de Copom, apenas futuro e opções da taxa DI (Depósito Interbancário). O que baliza esses contratos são o valor das taxas e não as decisões sobre elas. No caso da opção de Copom, o investidor se posiciona em relação à decisão do comitê a cada encontro.

Assim como a crise relacionada à pandemia fez disparar a volatilidade e as negociações com ações e seus derivativos, também houve aumento da procura pelos derivativos de juros. A média diária negociada neste ano, no acumulado até 14 de maio, está em 3,7 milhões de contratos – comparada à média diária de 2,8 milhões de contratos do ano passado. Em março, essa média alcançou 4,5 milhões de contratos ao dia.

Skistymas afirmou que o novo produto é mais uma alternativa de proteção ao investidor para as decisões sobre a taxa de juros. Segundo ele, os contratos estarão disponíveis para todos os perfis do mercado – empresas, investidores institucionais, tesourarias de bancos e pessoas físicas.

O executivo, contudo, faz uma diferenciação que serve de alerta aos investidores. Nas opções de ações, o preço do papel no mercado no dia do vencimento do contrato resulta em lucro para todas as apostas a partir daquele valor. No caso da opção de Copom, apenas uma é executada com lucro.

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