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Bolsa: fundos têm menor exposição ao crescimento do Brasil desde o impeachment

Percentual da indústria de fundos alocado em ações cai abaixo de 10%

Carteiras: indústria sofre saques e preocupações com Brasil levam à redução do interesse por ações (DircinhaSW/Getty Images)

Carteiras: indústria sofre saques e preocupações com Brasil levam à redução do interesse por ações (DircinhaSW/Getty Images)

Graziella Valenti
Graziella Valenti

Editora Exame IN

Publicado em 10 de abril de 2023 às 10h47.

Última atualização em 10 de abril de 2023 às 18h50.

A percepção dos gestores brasileiros de fundos de investimentos, que cuidam de um patrimônio de R$ 5,8 trilhões, sobre o próprio país está nesse momento tão negativa quanto na época do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Essa leitura pessimista e cautelosa com o Brasil afeta a demanda por todos os ativos, de títulos públicos de dívida até fundos imobiliários. Nada escapa. Mas é no mercado de ações que fica mais perceptível, pois reflete também a temporada de alta dos juros e a preocupação com o de crescimento das empresas - ou mais precisamente, a falta dele. A alocação do patrimônio dos fundos em ações caiu para 9% do total, ou R$ 523 bilhões, conforme dados da Anbima divulgados na quinta-feira, pré-feriado de Páscoa. Esse percentual só foi visto entre os anos de 2015 e 2017, em toda a série histórica acompanhada pela associação (desde 2006). 

Para se ter uma ideia do tamanho do encolhimento, esse percentual estava em 15% ao fim de 2020. Era o auge da pandemia e da incerteza sobre as empresas, mas também o piso da taxa de juros, que chegou a ser de 2% ao ano, devido à tentativa do Banco Central de auxiliar um movimento de expansão da economia. Em dezembro daquele ano, havia R$ 760 bilhões investidos em ações, para um patrimônio total de R$ 5 trilhões.

Grandes gestores de investimento estão cautelosíssimos com o Brasil. E o novo arcabouço fiscal ainda não ajudou a aliviar o cenário, pois não há confiança de que as projeções  para a dívida pública, divulgadas junto com as novas regras, serão atingidas.

A Ibiuna Asset Management, fundada por Mário Torós e Rodrigo Azevedo, é um exemplo claro disso. A gestora está com uma exposição em Brasil da ordem de 20%, comparado a um histórico entre 50% e 70%. Na carta do fundo Ibiuna STH Hedge divulgada ao fim de março, a casa aponta que, quando o tema é a economia local, além do cuidado se manter, a preferência é por uma alocação em moeda, ou seja, no Real, do que na Selic ou em bolsa.

Os fundos multimercados, ou hedge, são os que mais contribuíram para a redução da alocação em bolsa. Quando a taxa de juros começou aceleradamente a subir, as carteiras sofreram muito, pois estavam com grande exposição em ações. O desempenho ruim e a perspectiva de rentabilidade de dois dígitos com a Selic fizeram os fundos dessa categoria acumularem resgates de R$ 89 bilhões no ano passado e mais R$ 37 bilhões nos três primeiros meses de 2023, de acordo com os dados da Anbima.

Nos fundos de ações também houve um encolhimento do segmento pelo acúmulo de resgates. Depois de captar apenas pouco mais de R$ 5 bilhões em 2021, essas carteiras sofreram saques de R$ 27 bilhões em 2022 e já acumulam saída superior a R$ 23 bilhões neste ano.

Na SPX, de Rogério Xavier, a história da exposição ao Brasil também é de redução. Desde 2022, a estratégia clara foi de reduzir as apostas no Brasil. A diminuição dos investimentos em bolsa, inclusive, começou gradualmente em 2021. E Luis Stuhlberger, considerado o oráculo brasileiro, diminui sua aposta em bolsa local a partir de novembro do ano passado, já preocupado com a questão fiscal e a trajetória da taxa de juros. Apesar de reconhecer a existência de oportunidades no mercado, as últimas cartas divulgadas pela gestora Verde destacam a falta de perspectiva de melhora dos preços ao menos no curto prazo. No Opportunity, a lógica é a mesma, porém com movimento ainda mais radical. A casa está zerada de qualquer exposição ao Brasil. Essa estratégia ganhou evidência já meados do ano passado.

Se a bolsa brasileira está barata e o momento é de oportunidade, por enquanto, os gestores de recursos preferem não pagar para ver - ao menos os profissionais à frente das carteiras multimercado. A explicação para isso é simples: em geral, gestores profissionais preferem maior clareza de cenário para fazerem movimentos estratégicos significativos. Eles entendem que é melhor passar um pouco do timing perfeito a errarem a mão e sofrem as consequências negativas, como perda relevante dos valores investidos e, consequentemente, saques.

Já os gestores de ações não têm tantas opções assim sobre o que fazer. Para aproveitar distorções de preços, nesse momento, a única opção é sair de uma posição e trocar por outra. Sem dinheiro novo, na média, fica muito mais difícil surfar oportunidades. A dúvida que fica é: será esse mais um prato cheio para a pessoa física com visão de longo prazo? Os investidores diretos de bolsa foram os primeiros a aproveitar o saldão de 2020, quando em março daquele, a bolsa vivia dias de sucessivos circuit-breaker. Mas, por enquanto, nem o investidor está com esse apetite.

Para onde está indo o dinheiro, então? Com a Selic em 13,75%, quem está captando dinheiro mesmo são os bancos, com CDBs, ou ainda com papéis isentos, como as Letras Imobiliárias Garantidas (LIGs). Os investidores migraram seus recursos especialmente para papéis isentos de imposto de renda, o que ajuda a indústria de fundos encolher. Não por acaso, a indústria está vivendo uma onda contrária ao que ocorreu nos últimos cinco anos: de saída dos fundos, os investidores individuais estão colocando seus recursos nos grandes bancos ou alocando diretamente nos papéis, via plataformas.

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