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Bolsa de Toronto procura startups brasileiras para levar ao Canadá

Em 2021, até outubro, 192 companhias abriram capital na TSX Ventures, mercado de acesso canadense, e levantaram US$ 7,5 bilhões

Toronto: 13% da capitalização da bolsa, que soma US$ 3,2 trilhões, já é de empresas de inovação (Getty Images/Getty Images)

Toronto: 13% da capitalização da bolsa, que soma US$ 3,2 trilhões, já é de empresas de inovação (Getty Images/Getty Images)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 10 de janeiro de 2022 às 08h30.

Última atualização em 14 de janeiro de 2022 às 11h34.

A Bolsa de Toronto, que se transformou na quarta maior em captação de recursos nos últimos cinco anos em ofertas iniciais, quer levar startups brasileiras em estágio inicial para estrear sua vida como empresa pública (aberta à negociação em bolsa) no Canadá, mais especificamente na TSX Ventures. Só em 2021, todas as estreias de companhias realizadas no país movimentaram mais de US$ 40 bilhões, até outubro. Desse total, quase US$ 7,5 bilhões foram apenas no segmento dedicado às startups de inovação e empresas de pequeno e médio porte. No total levantado nos últimos cinco anos, o país só ficou atrás de China, Hong Kong e Estados Unidos, disputando posição com Reino Unido.

Com forte tradição como país acolhedor para imigrantes, o Canadá agora quer se posicionar como primeiro e maior mercado público para startups do mundo. É quase uma expansão de sua já plural base demográfica. O Brasil é um foco importante, mas o projeto é global. “Vemos o TSX Ventures como o futuro da bolsa canadense”, afirma Guillaume Légaré, diretor da casa para a região da América do Sul, em entrevista exclusiva ao EXAME IN.

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O tamanho para se candidatar? Bem menor do que você, leitor, pode imaginar. A média dos valuations de estreia da TSX Venture é de US$ 20 milhões a US$ 24 milhões de dólares. Dos 371 IPOs ocorridos em Toronto no ano passado, até outubro, 192 foram nesse mercado dedicado à inovação e companhias de menor porte, conta Légaré. “Queremos chegar antes na vida das empresas e ajudar esse empreendedor a aprender a se relacionar com o mercado. Todos gostam de dizer que o IPO não é o final do caminho, é o início. E por que não começar isso mais cedo?”, enfatiza, quando o debate é sobre o papel que cada bolsa pretende ter em um futuro que tende à concentração.

O TSX Venture não é novo. Já são mais de 20 anos de história. Mas inicialmente era um mercado mais focado em mineração — quase uma vocação do país — e agora tem cada vez mais se transformado em um espaço de companhias de tecnologia e inovação, o que tem rendidos frutos à Bolsa de Toronto. Hoje, esse segmento já responde por 13% dos US$ 3,2 trilhões de capitalização de mercado total do país, com mais de 3.400 empresas listadas — um valor muito próximo aos 15% detidos pelas empresas de minério.

“Queremos realmente posicionar melhor a nossa bolsa para startups, mas é um trabalho ainda em estágio inicial por aqui. Temos todo um esforço de divulgação a fazer”, afirma ele. “Eu sei que falar em inovação é muito amplo, mas buscamos empresas com potencial de crescimento de receita entre 50% e 100% e que hoje já faturem algo como US$ 5 a US$ 10 milhões.” A migração para o mercado principal, segundo o executivo, pode ocorrer com uma avaliação a partir de US$ 100 milhões.

Não há restrições, mas os setores mais visados e com maior potencial de interessar os investidores canadenses — e cerca de 50% da população economicamente ativa aplica na bolsa, direta ou indiretamente — são aqueles com receitas recorrentes, como energias renováveis, fintechs, software as a servisse (SaaS), principalmente.

Caminhos

Além da listagem direta, o Canadá, com sua tradicional inventividade, criou um sistema de mini-SPACs para justamente estimular o acesso de empresas de inovação de menor porte ao mercado aberto. Lá são chamadas de Capital Pool Companies (CPCs), algo companhias de piscinas de dinheiro, em uma tradução livre. Existe um estoque de 2.600 empresas desse tipo, detentoras de nada menos do que US$ 6 bilhões, prontas para serem a primeira porta de investimento das empresas e ajudarem elas no processo de listagem. Assim como nos SPACs, elas estão prontas para serem listadas e, por meio de uma incorporação das investidas, podem acelerar o processo das startups interessadas.

Légare explica que a Bolsa de Toronto tem toda uma estrutura pronta para ajudar os empreendedores a fazer a apresentação a esses investidores, inclusive com suporte em português. Mais mastigado, impossível. “Elas podem ser só o começo do processo com aportes pequenos, de US$ 400 mil a US$ 2 milhões. Para daí a empresa se preparar para buscar rodadas maiores.”

Mão dupla

A Bolsa de Toronto não tem pretensão de atuar sozinha. Não concorre para ser o único mercado de listagem das companhias. Ao contrário, sabe que as parcerias são essenciais e ajudam a transformá-la em um caminho cada vez mais interessante para as empresas. “Estamos em conversas com a B3 para ver como podemos trazer mais empresas para cá com BDRs e também como podemos ajudar no desenvolvimento de um mercado para empresas menores”, conta Légaré.

Trazer mais BDRs das companhias listadas no Canadá significa já permitir que as empresas brasileiras coloquem os recibos aqui, e também que as canadenses acessem a liquidez da B3. “A bolsa brasileira é a mais importante da América do Sul, com certeza”, reforça o executivo. Mas, na opinião dele, ainda falta diversificação por aqui e até mesmo o investidor pessoa física — que hoje já somam mais de 4 milhões de contas em corretoras — quer mais alternativas para aplicar seus recursos.

Em 2020, a Aura Minerals, que já era listada em Toronto, estreou na B3, negociada na forma de BDRs,  após uma oferta inicial com esforços restritos — na qual apenas um número limitado de investidores institucionais podem participar. A companhia, uma mineradora que atua no mercado de ouro, até então inédito na bolsa brasileira, captou quase R$ 800 milhões na largada e já realizou uma oferta pública subsquente de pouco menos de R$ 90 milhões, quando passou a poder ser negociada também por investidores de varejo. "A Aura Minerals mostrou um caminho muito interessante que outras empresas podem seguir. É um exemplo concreto de que a listagem prévia facilita o processo", afirma o diretor da bolsa canadense.

Visibilidade

Légaré defende que o mercado de acesso da bolsa canadense, além de dar uma visibilidade maior para as companhias já na largada, facilita a migração para bolsas maiores, como a própria Bolsa de Toronto e inclusive as americanas Nyse e Nasdaq, com quem o país possui um processo de fast track para a documentação. Já existem 130 empresas que começaram no TSX Ventures e partiram, quando mais maduras, para listagem nos Estados Unidos.

Apenas como comparação, a B3 tem menos de 400 empresas abertas listadas em sua totalidade, que são avaliadas em pouco menos de R$ 4,5 trilhões ou cerca de US$ 770 bilhões. Trocando em miúdos, para quem acha a bolsa do Canadá pequena, sua capitalização total é mais de 4 vezes a da bolsa brasileira.

Enquanto uma unicórnio brasileira – empresas que atingem avaliação de pelo menos US$ 1 bilhão – estaria para além da posição 600º nas bolsas americanas, seria uma das top 20 maiores no Canadá. “É muito mais atenção e visibilidade, dos investidores, da mídia, de tudo”, compara Légaré.

 

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