Ecorodovias: parte dos 21 mil Kms concessionados com sucesso no país (Ecorodovias/Divulgação)
Graziella Valenti
Publicado em 16 de agosto de 2021 às 08h00.
Na era digital ninguém mais precisa se sentir sozinho. Se isso é uma verdade para a vida privada das pessoas, não haveria razão para ser diferente no mundo dos negócios. O BNDES sacou muito rapidamente o paralelo entre os dois mundos.
O banco de fomento que, cada vez mais, quer se aproximar da atuação de um banco de investimento coloca hoje na praça uma novidade: um hub digital com os projetos todos de concessão e privatização para o país no qual os interessados podem ter informações detalhadas. Mas, muito mais do que isso, podem se colocar à disposição para ser contactados por outros que tenham apetite para investir e fazer associações, parceria, consórcios. Quando der match no projeto, pronto! É só começar a conversa.
“A função inicial do hub era ser capaz de mostrar aos investidores toda a carteira do banco, com cerca de 120 projetos. Juntos, eles representam um capex [investimento] da ordem de R$ 260 bilhões. Quando acrescentamos os projetos de Paraíba e Sergipe em saneamento, esse total sobe para R$ 270 bilhões e considerando as outorgas potenciais pode facilmente alcançar ou superar R$ 300 bilhões”, destaca Fabio Abrahão, que está à frente da diretoria de concessões e privatizações do BNDES, em entrevista exclusiva ao EXAME IN.
A inspiração informativa foi um portal de projetos do México. Mas não havia ali nenhuma plataforma de conta. Mas, diante dessa enormidade de projetos no Brasil, não demorou para que o banco percebesse o que isso significava na prática. “Em rodovias, temos entre 17 e 18 mil quilômetros em concessões. Significa quase dobrar o mercado privado, pois o Brasil tem hoje 21 mil quilômetros concessionado”, reforça ele, lembrando que existem hoje no Brasil quatro participantes nesse mercado e que talvez seja necessária a atração de novos entrantes.
O mesmo raciocínio vale para o segmento de portos, onde já existem operações privadas. Contudo, segundo Abrahão, nenhuma delas atua como autoridade portuária — onde estarão as próximas concorrências. Em saneamento básico, com o novo marco regulatório, a realidade não é muito diferente. Hoje, 10 milhões de pessoas são atendidas pela iniciativa privada no país e somente os projetos prontos aos cuidados do banco podem atender 35 milhões de pessoas.
“As pessoas talvez não tenham a dimensão do que tudo isso significa para o país, em várias frentes. Mas, para se ter uma ideia, os contratos da privatização da Cedae foram homologados ontem e hoje [sexta-feira, 13], apenas um dos grupos abriu 700 vagas de emprego. O impacto total esperado é de 45 mil posições”, comenta um Abrahão visivelmente entusiasmado com as novas frentes.
Na plataforma lançada pelo BNDES, os interessados conseguirão não apenas informações sobre as concessões, e mais dados setoriais, como também poderão preencher um cadastro mais detalhado para se colocar à disposição de receber contato de outros interessados. “Todos os dados, claro, serão protegidos por sigilo de informação.”
Abrahão destaca que o BNDES percebeu que, em diversos setores, será necessário atrair novos interessados para operar no Brasil. E, muitas vezes, simplesmente criar um mercado ‘do zero’, como é o caso dos ativos ambientais. O banco tem 40 unidades de conservação para serem oferecidas à iniciativa privada e esse total vai alcançar 50 em breve. “O primeiro leilão será no fim deste ano, o parque de Foz do Iguaçú.” O Brasil não tem um mercado especializado nesse tipo de ativo. Logo, chamar atenção do público externo, facilitando acesso a investidores, é o melhor atalho para o sucesso dos leilões. “Temos de ativar esse mercado”, ressalta Abrahão.
O Tinder do BNDES quer encurtar o caminho de quem procura o capital e do capital que procura um sócio estratégico. "Sempre somos procurados para fazer essas apresentações, mas como agentes públicos, ficamos limitados. Nessa plataforma, os encontros ficam livres para ocorrer conforme o interesse de cada um", encerra Abrahão.
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