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Bill Ackman: Sem corte de juros até maio, EUA pode entrar em recessão

Entrevistado por André Esteves, fundador da Pershing Square diz que riscos geopolíticos 'tiram seu sono à noite'

Ackman: "Muitas pessoas concordam comigo, mas estão com medo de serem canceladas" (Crédito: Arte/EXAME) (Arte/Exame)

Ackman: "Muitas pessoas concordam comigo, mas estão com medo de serem canceladas" (Crédito: Arte/EXAME) (Arte/Exame)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 6 de fevereiro de 2024 às 16h18.

Última atualização em 6 de fevereiro de 2024 às 16h42.

As incertezas geopolíticas são um dos maiores riscos hoje para os mercados. Para Bill Ackman, fundador e CEO da Pershing Square, com quase US$ 20 bilhões sob gestão, o cenário é mais dramático do que possa se supor – e tira seu sono à noite.

"Não é só Hamas versus Israel, há problemas com as rotas de navegação e custos de fretes subindo. Estamos muito próximos de uma guerra com o Irã, um país que não está tão distante de material nuclear suficiente para construir uma bomba, e isso não é bom", disse em entrevista no CEO Conference, do BTG Pactual, onde foi entrevistado por André Esteves. "Não é esse o mundo que eu queria para os meus filhos." 

Olhando para a economia americana, Ackman fez coro às perspectivas de outros gestores ao afirmar que os juros nos Estados Unidos devem ter o início dos cortes entre março e maio deste ano. "A economia está enfraquecendo e os juros precisam diminuir. Se eu fosse presidente do Fed, começaria a cortar juros muito em breve. Talvez [Powell] poderia ter aumentado as taxas mais rápido, mas, caso demore para cortar, devemos passar por uma recessão", disse.

Alguns sinais já começaram a ficar claros, com demissões de 3% a 5% do quadro de pessoal em grandes corporações de tecnologia, tendo o Spotify como o exemplo mais recente. Na sua visão, os dados de emprego referentes a janeiro, mais fortes do que o esperado, ainda estão distorcidos por uma visão sazonal.

O principal risco da manutenção das taxas em patamares elevados está nas hipotecas – especialmente aquelas feitas antes da pandemia, em um ambiente de riscos mais controlados. A reprecificação desses ativos já está trazendo estresse para bancos mundo afora, dos regionais nos Estados Unidos ao Deustche Bank e instituições japonesas, e pode trazer reflexos para o mercado corporativo, com o aumento das dívidas de empresas. 

Ackman também se preocupa com o nível de endividamento dos Estados Unidos. Hoje, a cifra está em US$ 34 trilhões, equivalente a 120% do PIB do país, próxima ao maior patamar da história. Tendo em vista as eleições presidenciais, esse patamar deve piorar ainda mais ao longo do ano. E resolvê-lo está longe de ser uma tarefa simples.

O gestor, que já defendeu publicamente uma candidatura de Jamie Dimon, presidente do JPMorgan, à Casa Branca, voltou a questionar o sistema bipartidário do seu país. "Os partidos não estão preocupados com a dívida, só querem manter os próprios lugares", disse.

Com dois lados tão consolidados e "cheios das próprias lógicas", Ackman vê tanto uma disposição menor de empresários para concorrer a cargos públicos quanto desses novos nomes conseguirem efetivamente levar as candidaturas para frente.

Ackman contribuiu para a candidatura de Dean Phillips, empresário e candidato que disputa as primárias pelo partido democrata – apesar de achar que são muito pequenas as chances de que ele tenha algum sucesso dentro do sistema atual. Nesse sentido, acredita que os Estados Unidos estão fadados a uma reeleição de Donald Trump.

"Acredito que Biden deve desistir por volta de maio e nomear a Michelle Obama ou outro candidato. Essa estratégia, na minha visão não deve dar certo, porque não há tempo para outro candidato conhecido ganhar credibilidade. Se fosse arriscar uma previsão, nesse cenário, daria 70% de chance de o Trump vencer. E acredito que Dean Phillips é o único nome no páreo para concorrer", afirmou.

A decisão em outubro vai ditar os novos rumos da disputa geopolítica intensa entre Estados Unidos e China, cada vez mais acirrada desde o pós-pandemia. Independentemente de quem vencer, Ackman mantém uma visão mais bearish sobre o país asiático, estimando crescimento zero ou até negativo, parte de um enfraquecimento gradual da economia local. Além disso, o gestor destaca o ambiente complicado para empreendedores, que estão cada vez mais saindo para outros países, com destaque para Singapura, especialmente depois do episódio do 'sumiço' de Jack Ma.

"Quando se começa a atacar as pessoas mais bem-sucedidas do país e elas somem, quem quer ter sucesso não vai querer ficar. Além disso, nos Estados Unidos, nenhum líder empresarial quer mais depender da China para sua própria produção", disse Ackman. "Com isso, o capital especulativo deve voltar para os Estados Unidos, Europa e talvez até para o Brasil, além de muitos outros lugares".

A disputa acirrada dos Estados Unidos com a China não é a única na cabeça do investidor. O Oriente Médio, como já deixou claro diferentes vezes, também está no centro das preocupações daqui para a frente. Ackman foi uma das vozes mais predominantes ao longo dos últimos meses a respeito do antissemitismo com os conflitos entre Israel e Palestina, com destaque para os pronunciamentos de universidades sobre o tema. 

Além da leitura macro, Ackman também deu seus conselhos de gestão. "Todos os dias buscamos coisas interessantes, de moedas a commodities. Muitos fundos acham que têm de fazer algo sempre, nós só fazemos quando existe uma possibilidade concreta de retorno. A combinação de estar em posições short em eventos de 'cisne negro' e de investir em negócios que consigam tolerar situações adversas", disse. Os quase US$ 20 bilhões sob gestão são alocados por apenas oito profissionais de investimento, numa empresa de 40 pessoas. A fórmula é simples, diz: "Temos uma política clara de não contratar imbecis".

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