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Benefícios, crédito e open banking: a ambição sem limites do Mercado Pago

Fintech já responde por 34,4% da receita do Mercado Livre no Brasil e acelera o lançamento de novos serviços dentro e, principalmente, fora da aba da empresa-mãe

Mercado Pago: a fintech teve no último trimestre 3,2 milhões de transações por dia fora do Mercado Livre (Mercado Pago/Divulgação)

Mercado Pago: a fintech teve no último trimestre 3,2 milhões de transações por dia fora do Mercado Livre (Mercado Pago/Divulgação)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 10 de agosto de 2021 às 14h30.

Última atualização em 11 de agosto de 2021 às 10h35.

Os últimos números divulgados pelo Mercado Pago, a fintech que nasceu dentro do Mercado Livre, corroboram uma previsão feita muito tempo atrás. Quando a plataforma de pagamentos surgiu para dar suporte aos vendedores e compradores do marketplace digital, em 2004, a ambição era de que ela fosse ganhando vida própria a ponto de virar um negócio independente com potencial de ser maior que a companhia-mãe. A pandemia impulsionou o crescimento e essa hora parece ter chegado. No total, 34% da receita do Mercado Livre Brasil no último ano já veio do Mercado Pago, numa fatia crescente — como mostraram os dados do último trimestre, apresentados na semana passada.

"Foi um trimestre muito forte", diz Tulio Oliveira, vice-presidente do Mercado Pago Brasil, ao EXAME IN. O volume processado cresceu 56% em dólar, para US$ 17,5 bilhões na América Latina. Fora do Mercado Livre o volume de transações já bateu US$ 10,3 bilhões. "O mercado endereçável é muito maior, porque podemos extrapolar o e-commerce, ampliando a presença no mundo físico, investindo ainda mais em pagamentos via redes sociais", diz Oliveira. "A diferença de volumes dentro e fora do Mercado Livre vai seguir aumentando".

O Mercado Pago teve no último trimestre 3,2 milhões de transações por dia fora do Mercado Livre. Já são mais de 8,3 milhões de vendedores e 18 milhões de compradores que utilizam a fintech fora da plataforma do marketplace. Os números também foram fortes na nova frente de cartões já são 12 milhões de cartões emitidos, 3 milhões deles apenas no último trimestre. Desde abril os cartões de débito passaram a comportar também a função crédito e o objetivo do Mercado Pago é que a maior fatia dos clientes utilize a função crédito até o final do ano.

Se os cartões são um investimento que fica no meio do caminho entre o mundo físico e o digital, o avanço das maquininhas mostra que há vida para além do online. O Mercado Pago vendeu mais de 1,1 milhão de maquininhas no último trimestre, 700 mil delas apenas no Brasil, o que coloca a companhia como uma das líderes deste segmento.

As maquininhas (e os códigos QR) são a ponta de lança de uma ambição crescente do Mercado Pago no relacionamento com estabelecimentos e com seus clientes. Os clientes podem utilizar a "frente de caixa" para parcelar suas compras e pegar crédito. Os estabelecimentos também podem utilizar uma gama crescente de modalidades de crédito, que vão de 100% do CDI a novas modalidades de renda fixa e variável. No total, a carteira de crédito cresceu três vezes no último trimestre, para 400 milhões de dólares, atendendo 27 milhões de consumidores, dos quais 14 milhões no Brasil.

Entre as novidades por vir está a possibilidade de os lojistas clientes do Mercado Pago passarem a atuar como correspondentes bancários, sacando e depositando dinheiro em suas contas. Outras novidades devem vir também via Pix, com saque e troco integrado às contas do Mercado Pago. Todas essas frentes estão em discussão no Banco Central, segundo Priscila Faro, diretora jurídica do Mercado Pago Brasil e executiva à frente das discussões para avanço das normas regulatórias.

"São novidades que criam novos caminhos para fazer o dinheiro ser digital e para reduzir a circulação em espécie", diz Oliveira. São também novidades que ajudariam o Mercado Pago a ganhar terreno numa frente que, segundo especialistas, é essencial para o sucesso de longo prazo no concorrido mercado de fintechs: o "cash in", ou a entrada de dinheiro na conta.

O Pix, segundo os executivos, acelerou a migração de dinheiro para dentro da carteira digital e das frentes de investimento do Mercado Pago. Mas a empresa também lançou modalidades mais "tradicionais". Em abril passou a oferecer a possibilidade de portabilidade de salário para dentro das contas do Mercado Pago. Entre as novidades em estudo está a possibilidade de entrar no mercado de benefícios, um negócio de R$ 150 bilhões por ano. "Estamos olhando e analisando", afirma Oliveira. "Estamos participando de grupos de trabalho para abrir o mercado. A tecnologia permite controles efetivos e uma interoperabilidade maior".

O executivo afirma que num mercado em franca transformação todas as possibilidades são analisadas. Entre elas, o bitcoin. De seguro, só os US$ 7,8 milhões que a companhia investiu de tesouraria para entender o fenômeno e aprender sobre as possibilidades à frente. Mas a grande revolução a caminho, para o Mercado Pago, é o Open Banking, que permitirá ao usuário, via app de qualquer instituição financeira, utilizar serviços e transferir dinheiro para outras instituições. A barreira de entrada cai e, na teoria, empresas que oferecem os melhores serviços saem beneficiadas.

"Não quero que meu cliente esteja preso aqui, quero que ele me escolha", afirma Oliveira.

Uma ameaça potencial, para o Mercado Pago e para todas as fintechs e bancos digitais em atuação no Brasil, é uma ampliação do uso do WhatsApp e de outras redes sociais para pagamentos. Neste mercado, tempo de contato com o usuário, e conhecimento de seus hábitos, é um enorme diferencial. O mercado seguirá se transformando. A fintech que nasceu para dar suporte às transações do Mercado Livre já tem vida própria e enorme ambição. Para seguir crescendo vai ter que superar as ambições de dezenas de outros concorrentes alguns deles podem, inclusive, estar nascendo neste exato momento.

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