Tsunami de dinheiro: semana tem 9 pedidos de IPOs, que somam quase R$ 20 bilhões (Viaframe/Getty Images)
Graziella Valenti
Publicado em 28 de agosto de 2020 às 23h46.
Última atualização em 29 de agosto de 2020 às 23h13.
O ano de 2020 está ficando curto para a lista de ofertas iniciais de ações (IPOs) mais as subsequentes em andamento. Na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o número de companhias que pegaram lugar na fila para listar ações na B3 não para de crescer. A semana terminou com 44. Só desde dia 24, foram onze pedidos de registro: as quatro incorporadoras imobiliárias CFL Inc, Emccamp Residencial, HBR Realty e Urba Desenvolvimento e as cinco sortidas Mosaico, Aeris, Havan, Drogaria Nissei e Le Biscuit. Também foram à autarquia pedir para vender seus papéis o Banco Votorantim e a Navios South American Logistics. Só nesta semana, as ofertas solicitadas têm planos de movimentar perto de R$ 20 bilhões.
O mês de agosto acumulada 23 solicitações para ofertas iniciais ao regulador — mais da metade da lista, portanto. E para quem se assusta com esse número, há outro para saber: o total de mandatos de ofertas de ações circulando no mercado está entre 75 e 80, de acordo com bancos de investimento consultados pelo EXAME IN. Quanto é isso em dinheiro? Bastante mais que 100 bilhões de reais, senhores. Portanto, investidores, preparem suas agendas: 2021 já começou. Os bancos começam a admitir que, muito provavelmente, não será possível realizar tudo neste ano — e estamos falando apenas do que já está na fila. Há mais, bem mais para vir.
Por curiosidade, as 40 empresas na fila equivalem a ampliar o número de companhias listadas e negociadas em 12%. Pensar em concretizar isso em quatro meses parece mesmo, quando nessa perspectiva, algo desafiador.
Há ainda que se considerar que junto com tudo isso Petrobras quer se desfazer de 9 bilhões de reais em ações da BR Distribuidora, a Caixa quer vender papéis da Caixa Seguridade, a Elo também planeja uma mega-operação e o BNDES pode fazer novas vendas em bloco de suas giga-posições em Petrobras, Suzano, Klabin e outras. E não esqueçamos das menores: Ômega fará uma oferta, Banco Inter também e JSL anunciou sua intenção — e mais alguns nomes por aí. Menores, a esta altura, é tudo que não se fala em bilhão.
Quem se impressionou com o mercado absorvendo como uma esponja 8 bilhões de reais em ações da Vale — na sua máxima história — vendidas em leilão direto na bolsa pelo BNDES em um período de uma hora e meia na primeira semana do mês, ainda não viu nada. Aliás, é uma constatação cada vez mais admissível: ninguém nunca no Brasil viveu nada parecido com a presente circunstância.
Esqueçam a euforia dos IPOs de 2007. O presente é maior, muito maior. Quanto disso vai acontecer ainda dentro de 2020? Essa é a única resposta com divergências. Depois de conversas com bancos de investimento e gestores de recursos, o EXAME IN chegou a uma conclusão: “tantas quantas couberem”. Mas a parte mais importante é que — se a questão fiscal e a política não atrapalharem — isso não importa. A atividade do mercado daqui para frente será contínua.
O desafio para 2020 é que na velocidade em que estão surgindo, os bancos de investimento — com a atual estrutura que possuem — não dão conta de vender. As gestoras de recursos não dão conta de comprar: não falta dinheiro, falta braço e cérebro para avaliar tudo. A porta é estreita — uma expansão está em andamento — para todos passarem de uma só vez. Dinheiro vai ter: é o que se diz. Falta mesmo mão de obra e calendário para tudo isso.
No caso do setor imobiliário, o EXAME IN já destacou que o total planejado para 2020 é o equivalente ao que foi realizado em cinco anos, entre 2005 e 2009 — em número de companhias e em volume almejado, em estilo Juscelino Kubitschek. O mais quente da semana é, certamente, o pedido de registro da Havan, uma das operações mais aguardadas do mercado. Os números envolvidos são todos superlativos: o maior IPO em avaliação de empresa e a uma das maiores ofertas de uma estreante no mercado. Mas, nenhum deles está cravado na pedra.