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BC veste a camisa da autonomia e fala em emprego e atividade econômica

Copom confirma o esperado, mantém alerta sobre política fiscal e ainda introduz atividade e pleno emprego em seu comunicado

Roberto Campos Neto, presidente do BC: decisão de quarta-feira, 6, foi a primeira com nova direção no formato autônomo (Bruno Coelho/Bloomberg)

Roberto Campos Neto, presidente do BC: decisão de quarta-feira, 6, foi a primeira com nova direção no formato autônomo (Bruno Coelho/Bloomberg)

AB

Angela Bittencourt

Publicado em 6 de maio de 2021 às 11h33.

O Copom confirmou o esperado, aumentou a Selic para 3,50% ao ano e bateu na mesma tecla: sem reformas e ajuste fiscal permanente a economia não terá crescimento sustentado e o juro sobe mais. O script do Banco Central, comandado por Roberto Campos Neto, não mudou e o cumprimento da meta de inflação é o foco. Contudo, o comunicado do Comitê marca a mudança institucional representada por sua autonomia. “Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de estabilização de preços, essa decisão [de aumento da taxa básica] também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.”

A inclusão de “atividade” e “emprego” no comunicado da reunião realizada ontem, e que elevou a Selic pela segunda vez consecutiva, mostra que o BC assumiu os mandatos conferidos pelo Congresso e sancionados pelo presidente da República. Conter a deterioração das expectativas de inflação é o primeiro lance de uma batalha que a instituição parece disposta a enfrentar. Colecionar adversários é praxe em ciclos de alta de juro — capítulo não encerrado por aqui como indica o Comitê.

A escalada da Selic afetará naturalmente a estrutura de juros e, por tabela, a precificação de títulos públicos e privados. O Tesouro Nacional tem um colchão robusto de recursos para enfrentar a rolagem da dívida pública, mas também tem um árduo trabalho pela frente: a renovação de operações equivalentes a 22% do PIB este ano, numa combinação de dívida que estará vencendo mais o déficit projetado. “Não é pouca coisa. A renovação ocorrerá, mas há custos. E o desinteresse dos investidores pelo Brasil é uma derivada da nossa fragilidade fiscal”, disse ao EXAME IN um gestor com experiência de governo na condição de anonimato.

Esse executivo afirma não ter visto, em décadas de trabalho, tamanho desinteresse do investidor externo pelo Brasil como agora. Lembra que os estrangeiros chegaram a deter 20% do estoque de títulos federais entre 2014 e 2015, posições que foram encolhendo e, há anos, rondam 9%. “Não vamos conseguir que estrangeiros financiem nossa dívida. O Brasil é o país com a maior dívida pública e o maior déficit público entre os países emergentes. Não à toa, as condições financeiras do país estão muito deprimidas”, avalia o gestor.

O câmbio, a inclinação da curva de juros, os preços dos ativos embutem prêmios consideráveis. Isso quer dizer que a política fiscal é uma questão central a ser discutida, pondera o executivo que aponta outra fragilidade que tampouco passa despercebida dos investidores: a queda do PIB potencial. “O Brasil não tem como crescer a plena capacidade como os países desenvolvidos. Talvez esse seja o maior comprometimento que a conta fiscal explosiva impõe.”

Sobre taxa de juro, o interlocutor do EXAME IN entende que o Copom não apenas subirá a Selic mais do que o esperado até recentemente, mas também executará ajustes muito mais rápidos. “É provável Selic a 6% até o fim deste ano. Considerando taxa de real de 2% a 3%, hoje apontada como ‘juro neutro’ podemos chegar a Selic entre 6% e 8% ao final do ciclo.”

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