Projeto sigiloso da OpenAI paga US$ 150 por hora para ex-funcionários de bancos treinarem sua IA (Getty Images)
Editora do Exame INSIGHT
Publicado em 21 de outubro de 2025 às 15h35.
Última atualização em 21 de outubro de 2025 às 15h51.
Com frequência, analistas de bancos de investimento se queixam das longas horas de trabalho maçante, planilhando números que servem de base para transações que vão de reestruturações a IPOs.
Se depender da dona do ChatGPT, em breve, eles não terão do que reclamar.
Documentos obtidos pela Bloomberg mostram que a OpenAI já contratou mais de 100 ex-banqueiros de investimento para ajudar a treinar sua inteligência artificial para construir modelos financeiros, num projeto ainda sigiloso denominado ‘Mercury’.
Os participantes recebem US$ 150 por hora para escrever prompts e construir modelos financeiros para diferentes tipos de transação, de reestruturações a IPOs.
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Segundo fontes ouvidas pelo portal, o trabalho é flexível, e os contratados devem enviar um modelo por semana. As instruções incluem escrever prompts em linguagem simples e depois executar o modelo. Os participantes recebem feedback de um revisor e devem corrigir eventuais falhas antes que o trabalho seja incorporado aos sistemas da OpenAI.
O projeto já atraiu profissionais com passagem por JPMorgan, Morgan Stanley e Goldman Sachs, além de grandes gestoras de recursos como Brookfield e Mubadala, ainda de acordo com a Bloomberg.
Na prática, a ideia é substituir o trabalho feito por estagiários e junior bankers, que estão na base da cadeia de um setor que vende contatos e confiança, mas se alimenta de dados, planilhas e ppts.
Eles não raro varam noites mastigando os números quando estão em grandes transações e são inundados de pedidos de correções e ajustes, conforme os termos e condições das negociações mudam.
A pressão e a carga horária sempre foram grandes – e ganharam notoriedade na época da pandemia, quando uma queixa coletiva feita pelos jovens banqueiros da Goldman nos Estados Unidos viralizou em Wall Street e na Faria Lima.
Numa apresentação que parece ter sido feita para o RH da companhia e que vazou para o mercado, eles afirmavam na época que trabalhavam 100 horas por semana e iam dormir, em média, às 3 da manhã. Muitos deles afirmavam estar à beira do burnout e queriam pedir demissão em até seis meses.
‘Nada novo’, diriam os veteranos do mercado financeiro (ou talvez ‘saudades’, no caso de bancos brasileiros que há anos não vêem um IPO). Mas definitivamente uma mostra de que os mais novos já não topam tudo por dinheiro.
Se não dúvidas de que a genAI vai substituir boa parte das tarefas mais automatizáveis, gerando economias – e menos reclamação –, a grande questão será como formar os profissionais do futuro.
Durante décadas, o aprendizado no investment banking começou com o Excel aberto, o chefe pedindo pela milésima vez ‘só mais um ajuste’ e doses cavalares de café.
As próximas gerações de bankers vão precisar de uma nova pedagogia.
(Sugestão de leitura: Uma hora com Yuval Harari: 'Para entender a revolução da IA, olhe o sistema financeiro'.)