Superintendência de Produtos de Recebíveis da B3 será comandada pelo engenheiro Fernando Bianchini (Germano Lüders/Exame)
Angela Bittencourt
Publicado em 7 de setembro de 2021 às 09h01.
Última atualização em 8 de setembro de 2021 às 11h51.
A bolsa brasileira – Brasil, Bolsa, Balcão, a B3 – fechou agosto com chave de ouro e esquenta os motores para colocar na praça sua registradora de recebíveis de cartões de crédito. A autorização do Banco Central (BC) chegou na sexta-feira, 27. Ainda não há data cravada para o início efetivo das operações, previsto para até o fim do ano, mas a aposta da B3 neste novo produto é alta. Uma nova unidade foi criada apenas para administrar a operação: a Superintendência de Produtos de Recebíveis.
A B3 terá a quarta registradora de recebíveis de cartões de crédito no Brasil ao lado da Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), fundada em 2001 e controlada pelos grandes bancos; a Central de Recebíveis (Cerc), lançada por um grupo de ex-executivos do mercado financeiro em 2015; e a TAG, criada em 2018, pelo grupo Stone.
Fernando Bianchini é o novo superintendente na B3 e está na casa há dois meses. “Juntou o desejo de rever a carreira, a oportunidade de conhecer ainda mais o mundo das registradoras e da própria bolsa e o meu conhecimento do dia a dia do cliente”, relata o engenheiro em entrevista ao EXAME IN.
Para Bianchini, o “dia a dia do cliente” não é um jogo de palavras ou força de expressão. Ele conhece profundamente, na prática, os clientes das registradoras por uma bem-sucedida carreira na Rede – credenciadora do Itaú Unibanco – e quase uma década de trabalho na tesouraria do Banco Santander.
A Superintendência de Produtos de Recebíveis integra a área de Produtos Balcão e Novos Negócios da B3 que está sob o comando de Fábio Zenaro.
Ao EXAME IN, Fernando Bianchini informa que a autorização do BC para o início das operações está condicionada, porém, ao cumprimento de uma agenda de testes de interoperabilidade com as demais registradoras que já estão em funcionamento desde 7 de junho, quando entraram em vigor as novas regras que disciplinam o mercado de recebíveis ou faturas de vendas de bens e serviços pagos com cartões de crédito.
“Em meados de setembro iniciamos o roteiro de testes e precisamos ter sucesso em todos eles. A partir daí emitimos uma ‘carta de prontidão’ que é enviada ao BC e, sete dias depois, a registradora pode começar a operar. Estamos muito animados com a autorização e estamos tendo reuniões muito produtivas com potenciais clientes”, afirma Bianchini que destaca a importância e a credibilidade da marca “B3” em um negócio que é novo para a bolsa e para o próprio mercado. “Tem sido um grande aprendizado e a expectativa é elevada para o bem maior que é o projeto.”
O superintendente da B3 informa que os clientes das registradoras estão divididos em dois grandes grupos: credenciadoras, subcredenciadoras e markeplaces; e os financiadores onde estão grandes bancos, médios bancos, bancos digitais e fintechs especializadas em crédito.
“Neste momento, estamos mais focados nos bancos médios e fintechs. Nesse grupo é maior a receptividade, inclusive, porque os financiadores podem trabalhar com todas as registradoras. Já as credenciadoras e as subcredenciadoras só podem operar em uma única registradora por determinação regulatória”, explica o executivo.
Para indicar o potencial do mercado de recebíveis de cartões, Bianchini lembra que a projeção da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) é de volume de operações equivalente a R$ 2,5 trilhões neste ano. “Essas operações geram os recebíveis que são utilizados como lastro ou garantia para crédito. E o modelo adotado pelo BC tem o objetivo de ampliar o acesso a mais participantes e ampliar a oferta de crédito e a custos menores.”
Os recebíveis, reforça o superintendente da B3, são uma garantia pública e de boa qualidade, inclusive, porque os devedores são as empresas adquirentes, como Getnet, Cielo, Rede, PagSeguro, entre outras. “Para o credor, os recebíveis são ativos muito sólidos.”
O fato de a B3 ser uma das principais empresas de infraestrutura de mercado financeiro do mundo, com atuação em ambiente de bolsa e de balcão, não torna mais brando os desafios a enfrentar no segmento de registradoras de recebíveis.
“Estamos entrando neste mercado depois de outras três instituições (CIP, Cerc e TAG). Portanto, temos um grande desafio comercial que é trazer clientes para os nossos produtos. Para isso vamos ter que oferecer funcionalidades diferenciadas e atrativas. Um segundo desafio que se impõe é a preparação para lidar com alguns problemas observados no sistema. Precisamos nos preparar para evitar problemas”, pondera.
Não por acaso a nova unidade da B3 é a Superintendência de Produtos de Recebíveis, sem identificar de qual recebível estamos tratando. Fernando Bianchini informa que os próximos dois projetos em desenvolvimento na bolsa brasileira são as registradoras de recebíveis de duplicatas e recebíveis imobiliários.
“O objetivo é o mesmo de recebíveis de cartões de crédito, ampliar a oferta de crédito e baratear seu custo. Os recebíveis imobiliários dependem de alguns normativos regulatórios, enquanto os recebíveis de duplicatas estão na fase de construção de uma convenção pelos participantes do mercado. A convenção precisa ser aprovada pelo BC”, acrescenta Bianchini.
A convenção é um complemento às normas estabelecidas pelo BC que dá às registradoras de recebíveis a tarefa de estabelecerem uma espécie de autorregulação. Numa etapa seguinte também ocorrerão testes de interoperabilidade. Nesse segmento de duplicatas serão sete registradoras de títulos.
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