Exame IN

Azul prepara negócio para “hibernar” na pandemia

Com 15 bilhões de reais em dívidas, sendo mais de 70% relacionados à frota, empresa suspende pagamentos para reter caixa e se ajustar ao coronavírus

Azul: seu fundador e controlador David Neeleman vendeu a maioria de suas ações preferenciais (Paulo Whitaker/Reuters)

Azul: seu fundador e controlador David Neeleman vendeu a maioria de suas ações preferenciais (Paulo Whitaker/Reuters)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 18 de abril de 2020 às 09h20.

“Não quero falar a cada hora uma coisa. Quero chegar com uma solução clara sobre o que dá para pagar e quando.” É assim que o vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Azul, Alexandre Malfitani, explicou ao EXAME IN o mutirão de especialistas que a companhia contratou para lidar com as consequências da paralisação das atividades.

As empresas aéreas brasileiras estão operando com menos de 10% de sua capacidade, neste momento, para voos domésticos. Os internacionais estão totalmente suspensos. “Estamos no auge da incerteza. Só sabemos que em algum momento do curto prazo voltaremos a operar. Mas ninguém sabe exatamente quando e nem com que velocidade as coisas vão voltar à normalidade”, afirmou.

Por isso, disse ele na entrevista, a companhia quer estar preparada para tudo. “Nosso dever, nesse momento, é colocar a companhia para hibernar.” A Azul anunciou na quinta pela manhã a contratação de dois grandes escritórios de advocacia - Thomaz Bastos, Waisberg, Kurzweil (TWK) Advogados e Pinheiro Neto - para lidar com compromissos e vencimentos, mais a Galeazzi & Associados para reorganizar o negócio e ainda a Plane View Partners, especializada no relacionamento com fabricantes e empresas de arrendamento de aeronaves.

O objetivo é, assim que houver alguma clareza de cenário, desenvolver um plano para ser levado aos credores, com um cronograma “realista” de pagamentos, explicou o executivo. Entre as medidas mais drásticas adotadas pela empresa também está colocar boa parte dos funcionários em licença não remunerada. Por enquanto, de acordo com o vice-presidente financeiro, não é possível dizer que tamanho o negócio ficará e quais os objetivos finais da Azul.

Malfitani contou que, assim como outras empresas do setor, suspendeu os pagamentos dos contratos de arrendamento de aeronaves. O balanço da companhia de dezembro registrava 15 bilhões de reais em compromissos, sendo 11,1 bilhões de reais relacionados à leasing. A Azul tinha, então, 6 bilhões em caixa – dos quase 3,1 bilhões de reais livres de fato para uso.

O executivo afirmou que a situação atingiu todo setor e não há temor de perder aviões para os arrendadores, os “lessores”, como são chamados no jargão do setor. “Não há um temor específico em relação à Azul. O lessor vai tirar a aeronave de mim e entregar para quem operar? Onde tem alguém operando hoje? Ele prefere deixar comigo, para quando o mercado retomar.”

A Azul, assim como Gol e Latam, aguarda a definição de um pacote de auxílio ao setor, que está sendo desenvolvido pelo BNDES e contará com atuação em parceria dos grandes bancos comerciais, Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil, e fundos especializados. O plano do governo é organizar um mecanismo que coloque 3 bilhões de reais à disposição de cada uma das companhias em instrumentos de dívida (debêntures) e ações (bônus de subscrição).

 

A meta, ressaltou o executivo, é preparar a Azul, com todas as frentes que estiverem disponíveis, para o novo cenário de forma que possa voltar a gerar caixa. Quando questionado a respeito da execução de garantias de um empréstimo do fundador e controlador David Neeleman, que resultou na venda da maioria de suas ações preferenciais, Malfitani afirmou que o compromisso do empresário não mudou. “O melhor que ele pode fazer, que todos nós podemos fazer, é tornar a Azul rentável novamente. A empresa é muito mais do que um emprego para nós que estamos desde a fundação.”

Sem dar detalhes, Malfitani disse que a Azul será capaz de ajustar seu tamanho ao que for necessário de acordo com a realidade do mercado e com o equilíbrio de suas contas. “Continuamos acreditando no potencial do mercado brasileiro. Aqui, enquanto o PIB cresceu 1,5%, o setor teve expansão de 7,5%. A alavancagem com a economia é muito alta.”

A pandemia do coronavírus que colocou os aviões no chão e trancou em casa metade do planeta, atingiu a companhia em fase de expansão. A receita subiu 26% no ano passado e passou de 11,4 bilhões de reais, quando consolidada a operação de cargas – passando pela primeira vez da dezena de bilhão. A Azul recebeu 13 novos aviões no último trimestre de 2019, acreditando na expansão do setor neste ano. Não houve tempo sequer de iniciar a retorno desse investimento.

Acompanhe tudo sobre:companhias-aereasCrise econômicaAzulCoronavírus

Mais de Exame IN

Fim do 'shutdown' não resolve apagão de dados, diz Meera Pandit, do JP Morgan

Avon podia ter salvado Natura do tombo, mas ainda não estava pronta

BTG Pactual bate novos recordes no 3º trimestre e lucra R$ 4,5 bilhões

Nem Cook, nem Musk: como Huang, da Nvidia, virou o maior aliado de Trump