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Azul chega a acordo com 90% dos arrendadores e aumento de capital pode acontecer ainda em outubro

Negociação com donos de aeronaves é crucial para aprovação de oferta privada de até US$ 400 milhões por bondholders, apurou INSIGHT

 (Luiz Souza/NurPhoto/Getty Images)

(Luiz Souza/NurPhoto/Getty Images)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 25 de setembro de 2024 às 18h56.

Última atualização em 26 de setembro de 2024 às 17h21.

Etapa essencial para tirar o aumento de capital privado do papel, a negociação da Azul com os arrendadores de aeronaves está próxima de ser concluída, apurou o INSIGHT.

A expectativa de pessoas próximas às negociações é de que a operação para trazer recursos extras aconteça até o fim de outubro, contrariando parte do mercado mais cética e que acredita em uma oferta privada só entre abril e maio de 2025.

Um acordo com os lessores – como são chamados os arrendadores no jargão do setor – é crucial para que a companhia aérea ganhe o aval dos bondholders para a nova injeção de capital.

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Negociação com arrendadores avança para viabilizar aumento de capital da Azul

“Ninguém quer dar novo dinheiro para pagar dívidas do passado. Os bondholders estão construtivos [sobre a empresa], mas o que querem é colocar novo dinheiro para capitalizar a empresa. para crescimento futuro”, diz uma fonte ouvida pelo INSIGHT.

A companhia aérea quer levantar entre US$ 300 milhões e US$ 400 milhões com seus credores financeiros, usando a Azul Cargo, sua empresa de logística, como garantia – de forma similar às negociações feitas no ano passado com a Tudo Azul, do programa de fidelidade, como garantia. A Azul Cargo é avaliada em US$ 800 milhões.

No último mês, a empresa fechou acordo com 90% dos arrendadores e deve chegar a 100% ainda nos próximos dias, segundo pessoa ouvida pelo INSIGHT.

O objetivo é converter em ações os cerca de US$ 600 milhões de dívida com os donos das aeronaves. Os arrendadores passariam a deter entre 20% e 22% do capital social da Azul, num valor estimado de R$ 30 por ação, bem acima do preço de tela atual, de R$ 5,10.

Além do avanço na negociação com arrendadores, outros bons ventos parecem soprar para a Azul. Diante da possibilidade de privatização da TAP, a companhia está cobrando cerca de R$ 1 bilhão emprestados à companhia aérea portuguesa em 2016.

Outra fonte de otimismo é a recente aprovação das linhas de crédito para aéreas garantidas pelo Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac). Executivos do setor afirmam que tanto integrantes do governo quanto o próprio presidente do BNDES, Aloísio Mercadante, garantiram que os recursos – algo em torno de R$ 5 bilhões – devem estar disponíveis ainda neste ano para as companhias aéreas.

Em 2023, a companhia já havia negociado com os lessores para converter a dívida em equity. Os credores receberiam ações preferenciais ao valor de R$ 36 cada, numa negociação que alongou os prazos dos vencimentos da companhia.

Naquele momento, os papéis da Azul eram negociados a mais de R$ 20. A conversão começaria em janeiro de 2025 e se estenderia por três anos, com a Azul pagando a diferença em caixa ou mesmo em mais ações.

Isso assustou o mercado, com receio de diluição ou queima de caixa, e levou ao derretimento do valor da ação. Em 12 meses, o papel acumula quase 65% de queda. Esse contexto fez a Azul voltar à mesa de negociação, a fim de evitar uma diluição muito maior da base acionária.

O cenário de desvalorização do papel se somou a um ambiente ainda complexo operacionalmente para todo o setor de aviação, também exemplificado pelo pedido de Chapter 11 da Gol.

Desafios financeiros e operacionais pressionam resultados da companhia aérea

Embora a margem da Azul tenha voltado a níveis pré-pandemia, ainda há atraso na entrega de aeronaves (a Azul tem frota com aeronaves Embraer e Airbus), além da pressão nos custos por causa do valor do combustível de aviação e do uso prolongado de motores mais antigos, que exigem maior manutenção.

O fechamento do aeroporto de Porto Alegre após as chuvas no Rio Grande do Sul também pesou, já que o destino tem participação representativa nas operações, em torno de 10% da malha da companhia.

A negociação em 2023 também aconteceu em meio a um ambiente mais otimista. A empresa previa crescer o dobro do que está reportando ao longo deste ano, diz uma pessoa próxima à Azul. No primeiro semestre de 2024, a receita líquida ficou estável R$ 8,8 bilhões e o Ebitda cresceu 17%, para R$ 1,24 bilhão.

No entanto, a depreciação do real tem sido o maior ofensor dos números da companhia. Esse fator somado a elevados juros, pagamentos de aluguéis e investimentos que a Azul deve realizar, resulta em geração de fluxo de caixa livre negativo.

O Ebitda estimado para o segundo semestre deste ano ficará em torno de R$ 3,3 bilhões a R$ 3,6 bilhões, enquanto os pagamentos de arrendamentos e juros, juntamente com investimentos, devem somar R$ 4,1 bilhões, segundo as projeções da Fitch, que rebaixou a nota de crédito da empresa nesta terça-feira, de ‘B-’ para ‘CCC’. Um dia antes, a Moody’s também havia cortado a nota de crédito da Azul.

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