Exame IN

Avaliação de R$ 11,3 bi do C6 Bank desafia mercado e vira assunto do dia

Capitalização avaliou banco novato de Marcelo Kalim quase igual ao Pan e apenas 50% abaixo do Inter

C6 Bank: carteira de crédito salta para R$ 4 bilhões em poucos meses (C6Bank/Divulgação)

C6 Bank: carteira de crédito salta para R$ 4 bilhões em poucos meses (C6Bank/Divulgação)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 2 de dezembro de 2020 às 23h40.

Última atualização em 3 de dezembro de 2020 às 16h45.

O assunto do dia no mercado financeiro brasileiro foi a avalição de 11,3 bilhões de reais atribuída ao C6 Bank, fundado por Marcelo Kalim, mais um grupo de sócios. Esse foi o valor usado como parâmetro para a capitalização de 1,3 bilhão de reais anunciada esta quarta-feira, dia 2. O mercado ficou de queixo caído porque o C6 só foi lançado comercialmente em agosto do ano passado.

Em pouco mais de um ano, portanto, tornou-se um negócio de dois dígitos de bilhão. Só que não. Todos que passaram perto da operação, cujo agente financeiro foi o Credit Suisse, contam que os investidores, que estão bastante animados, compraram um projeto de futuro e uma aposta de crescimento bastante agressiva.

O dinheiro novo veio de 40 investidores nacionais não revelados — basicamente famílias, na forma de aportes diretos de pessoas físicas e indiretos, por meio de family offices (as gestoras particulares de fortunas).

O ânimo  dos investidores com a operação é porque para eles que deram o dinheiro é crédito garantido: retorno de CDI + 6%, no mínimo. Trata-se de uma dívida que a holding de Kalim assumiu. Essa holding pegou os recursos na forma de dívida e aportou, na formal de capital, no C6.  Os papéis, contudo, são conversíveis. Isso permite, ao mesmo tempo, que os sócios fundadores do banco não precisem repagar o compromisso, de um lado, e para quem deu, um ganho extra com a abertura de capital futura do banco. Por isso, o aporte já chegou com discurso de IPO para dentro de doze meses. O retorno de todo mundo, portanto, vai depender da execução do banco nesse período e de o mercado estar aberto e líquido daqui um ano. Mas, no valor teórico dos 11,3 bilhões de reais, trata-se de um ganho da ordem de 30%.

O banco de Kalim, ex-sócio do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), fará uma aposta grande em crédito consignado. Essa direção é dada como líquida e certa no setor. E não quer chegar para brincar, segundo apurou o EXAME IN.  Além disso, o negócio tem o charme das fintechs que os investidores adoram, pois tem uma plataforma de varejo digital igualmente agressiva, combinando contas, cartões, supermercado de investimentos e market-place de produtos financeiros. Nem tudo está pronto e em estado da arte, mas está nos planos.

Para analisar o C6, que ninguém ainda compreendeu completamente, o mercado olha para dois outros bancos listados na bolsa — não há um benchmark de capital aberto perfeito. O primeiro é o Banco Inter, que é avaliado em 19 bilhões de reais na B3. A comparação se deve ao caráter digital da operação e ao estágio de desenvolvimento. O segundo é o Banco Pan, cujo controle é dividido entre o BTG Pactual e a Caixa, que vale pouco mais de 12 bilhões. O motivo da atenção é o foco planejado do C6 em crédito consignado. O Pan é totalmente dedicado ao crédito para a pessoa física.

A grande questão é que Inter e Pan são maiores do que o C6, em termos de resultados, e oferecem histórico maior. Mesmo assim — taí o motivo da admiração —, o banco de Kalim já chega pronto para rivalizar em termos de avaliação e com planos para uma oferta pública inicial (IPO) entre fim de 2021 e o começo de 2022 — dentro de um ano, aproximadamente. "Se formos olhar o que se paga lá fora pelas novidades do setor financeiro, não seria tão caro. Os múltiplos internacionais estão estratosféricos", disse uma fonte especializada no setor. "Mas, sim, aqui no Brasil, o valor chama atenção."

Tudo indica que o C6 pisou forte no acelerador entre o fim de junho e agora. Nas declarações oficiais, o banco afirmou ter 5,3 bilhões de reais de ativos totais, uma carteira de crédito de 4 bilhões de reais e uma base de clientes de 4 milhões de pessoas. Em junho, com base no balanço disponível no site do próprio banco, a carteira de crédito era de 257 milhões de reais e a base de clientes era a metade — 2 milhões de CPFs (para comparação, o Banco Inter registrou captação de 1,3 milhão de novos clientes no terceiro trimestre). O patrimônio líquido estava em 459 milhões de reais.

Em julho, o C6 passou por uma capitalização de 525 milhões de reais, fruto de uma emissão de debêntures. O Bradesco foi quem deu a garantia firme para a venda dos títulos, atrelados a uma participação de 15%. Mesmo com a aceleração do negócio e a aquisição da Ficsa, dedicada ao mercado de crédito consignado, trata-se de uma expansão quase monumental em tão poucos meses.

Para uma comparação imperfeita de números: o Banco Inter tem mais de 7 milhões de clientes totais, 4,2 milhões ativos. O balanço de setembro apontava 7,3 bilhões de reais na carteira de crédito e 16,5 bilhões de ativos totais. Já o Pan, tinha 5,7 milhões de contas ativas e uma carteira de crédito de 25,3 bilhões de reais e 35 bilhões de reais em ativos totais. O futuro, de fato, não tem preço.

Acompanhe tudo sobre:BancosAçõesBanco PANIPOsPrivate equityCrédito consignadobanco-interc6-bank

Mais de Exame IN

Fim do 'shutdown' não resolve apagão de dados, diz Meera Pandit, do JP Morgan

Avon podia ter salvado Natura do tombo, mas ainda não estava pronta

BTG Pactual bate novos recordes no 3º trimestre e lucra R$ 4,5 bilhões

Nem Cook, nem Musk: como Huang, da Nvidia, virou o maior aliado de Trump