Auren: operação cresce e abre espaço para M&As (CESP/Divulgação)
Repórter Exame IN
Publicado em 31 de outubro de 2023 às 22h25.
Última atualização em 10 de janeiro de 2024 às 12h22.
Um efeito contábil trouxe a última linha do balanço da Auren Energia para o vermelho. A companhia teve prejuízo de R$ 838,1 milhões nos três meses encerrados em setembro, em decorrência do reconhecimento de imposto de renda e de PIS/Cofins em R$ 578 milhões. Sem esse efeito, a empresa teria apresentado lucro de R$ 200 milhões no período.
O pagamento de impostos está relacionado à operação de securitização da indenização que a empresa tinha a receber ao longo das próximas décadas do governo federal pelo fim antecipado da concessão da hidrelétrica Três Irmãos, que pertencia à Cesp desde quando era uma estatal paulista. Como resultado, entraram R$ 4,2 bilhões no caixa da companhia.
“Fizemos consulta com a Receita a respeito da obrigatoriedade de pagamento, por ser uma indenização, e fomos informados de que teríamos de pagar. Vamos discutir isso na Justiça, mas já decidimos reconhecer o pagamento de impostos neste trimestre”, afirma Fábio Zanfelice, CEO da Auren Energia.
Enquanto isso, do lado operacional, a geração hidrelétrica apresentou aumento de 17% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, para 900,9 MW médios, em função da disponibilidade hídrica.
Na geração eólica, houve aumento de 13,9%, em função da entrada em operação dos complexos eólicos Ventos do Piauí II e III. Em bases de ativos comparáveis, ou seja, considerando apenas aqueles que estão operando há pelo menos um ano, houve redução de 10,2% – em razão da menor quantidade de ventos apurada na região desde 2011.
Como reflexo do aumento da geração, o Ebitda ajustado foi de R$ 453 milhões no período, crescimento de 46,4% em relação ao mesmo período do ano passado. A margem Ebitda cresceu 7,7 pontos percentuais, puxada principalmente por resultados da comercializadora — que apresentou, sozinha, Ebitda de R$ 55,7 milhões, ante resultado negativo em 2022.
“Mesmo com um dos piores meses de agosto de que temos registro, conseguimos gerar crescimento na comparação anual. Isso reforça nossa resiliência e o potencial da nossa diversificação”, afirma o CEO.
Em meio à abertura de mercado — e à proliferação de ofertas em comercializadoras — a estratégia da Auren é a de ter um portfólio, mais uma vez, diversificado, para manter a liderança no ranking da CCEE. “O que funciona é ampliar a rede de parceiros para que você consiga estar em qualquer lugar do país e apresentar ao cliente toda a gama de produtos. Temos esse portfólio e temos o contato com os agentes que fazem gestão de energia para os clientes”, afirma o CEO.
De olho no crescimento futuro, a companhia deve colocar em operação o parque solar Sol do Jaíba no início do ano que vem e, em paralelo, também trabalha na construção de um projeto híbrido, inédito no Brasil, o Sol do Piauí — que deve entrar em operação nas próximas semanas. Somando o investimento em ambos, houve um desembolso de R$ 654 milhões nesse trimestre, dentro do orçamento previsto.
Com a antecipação dos recursos da indenização de Três Irmãos, o indicador de dívida líquida/Ebitda passou de 2 vezes em setembro do ano passado para 0,7 vez neste ano.
Hoje, a companhia tem uma posição de caixa de R$ 4,9 bilhões. “Estamos em uma situação muito confortável, que possibilita o nosso crescimento”, afirma o CEO.
Nesse caminho, a via inorgânica não está descartada. Não há nenhum processo na iminência de sair, por enquanto, mas o executivo afirma que a companhia “tem olhado muitas oportunidades”.
Outra alternativa analisada pela companhia é a entrada em outros segmentos em que não está presente hoje, como transmissão. A Auren chegou a participar do leilão de transmissão que aconteceu em junho, mas, em meio aos deságios oferecidos pelos concorrentes, não levou nenhum lote.
Há ainda mais um leilão, a ser realizado em dezembro, que conecta Minas Gerais, Goiás e São Paulo, para o qual o governo espera movimentar R$ 21,7 bilhões em investimentos. Neste, a Auren — por enquanto — ainda não tem interesse em participar. E, ainda em curto prazo, há outro leilão, a ser realizado em março de 2024, que segue sob análise.
“Na nossa visão, transmissão tem uma relação de retorno menor, mas com um risco menor, casaria bem no portfólio. Mas também temos como disciplina financeira não fazer aquisições abaixo do que os acionistas esperam. Gostamos de transmissão, mas precisamos ter retorno”, diz o CEO.
Enquanto nenhuma operação sai, a Auren continua distribuindo retorno aos acionistas. Depois de distribuir R$ 1,5 bilhão em dividendos extraordinários em 2022, já sinalizou que deve seguir o mesmo caminho este ano.