Exame IN

Aumento de capital? O barulho que derrubou a Hapvida na bolsa

Uma nota – e um remendo – do Itaú BBA trouxe volatilidade para os papéis da operadora de saúde, que chegaram a liderar as quedas do Ibovespa

Hapvida: Dificuldades das Unimeds e desaceleração da Amil devem favorecer número de beneficiários (Leandro Fonseca/Exame)

Hapvida: Dificuldades das Unimeds e desaceleração da Amil devem favorecer número de beneficiários (Leandro Fonseca/Exame)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 20 de dezembro de 2023 às 15h57.

Última atualização em 20 de dezembro de 2023 às 16h57.

Uma nota divulgada ontem à noite pelo Itaú BBA trouxe volatilidade para as ações da Hapvida no pregão de hoje. Os papéis da operadora de saúde abriram em alta, mas chegaram a cair 7%, liderando as quedas do Ibovespa, com o segundo maior volume do índice.

Após um encontro com o atual CFO Mauricio Teixeira, que está de saída, e o diretor de mercado de capitais, Lucas Adib, que vai assumir seu lugar, o banco disparou uma mensagem aos clientes falando, entre outros assuntos, sobre os planos de desalavancagem da companhia.

“A empresa espera que a melhora operacional, combinada com a geração de caixa mais forte, deve levar a uma desalavancagem natural, potencialmente virando net cash nos próximos dois anos”.

O problema foi a frase seguinte: “No entanto, a empresa poderia acessar o mercado de capitais olhando um longo prazo em um foco para aumentar a verticalização, construindo hospitais flagship em SP e RJ, por exemplo.”

A possibilidade de um aumento de capital mexeu com o humor dos investidores – preocupados tanto com a possibilidade de o turnaround da companhia estar andando mais devagar que o esperado quanto com uma possível diluição.

Hoje à tarde, o BBA soltou uma nova nota esclarecendo a conversa:

“Temos recebido muitas mensagens de preocupação sobre nosso roadshow de HAPV e queremos deixar um ponto mais claro aqui, dada a performance fraca de hoje e as dúvidas.

A mensagem que a companhia passou ontem foi muito clara: não haverá follow-on com o objetivo de desalavancagem. Para eventuais necessidades de investimento que necessitem de capital além do que a companhia espera gerar fora do capex projetado, é natural que sejam avaliadas estruturas de financiamento que podem envolver sim aumento de capital. De toda forma, não está sendo trabalhado nenhum follow-on neste momento” (grifo dos analistas).

Desde então, as ações suavizaram a queda e passaram a ser negociadas com perda mais próxima de 2%.

“Acho muito difícil a empresa fazer qualquer tipo de capitalização com a ação valendo menos de R$ 5”, apontou um analista que acompanha de perto a empresa. Depois de atingir um piso no próximo aos R$ 2,20 em fevereiro, as ações da Hapvida vêm se recuperando, mas ainda acumulam baixa de 6% neste ano e negociadas a R$ 4,38.

Na nota divulgada ontem, o Itaú destacou ainda que a tendência de melhora sequencial na sinistralidade deve perder fôlego no quarto trimestre.

“Apesar da continuação dos reajustes de preços e as eficiências vindo das integrações recentes, o quarto trimestre deve ser mais realista. A melhora sequencial de MLR [sigla em inglês para sinistralidade] deve ser em uma magnitude menor do que em outros trimestres pós-pandemia”, disseram os analistas.

Outro ponto que vem pesando sobre a Hapvida é a venda dos ativos do United Health Group, que incluem a Amil e entraram na fase final, com previsão de conclusão ainda este mês.

O risco é que, se um investidor com bolso mais fundo entrar, pode ser mais agressivo em preço, levando a concorrência a perder share ou abrir mão de margens num cenário já pressionado pela inflação médica. Um gestor ouvido pelo EXAME In acredita que o cenário é pouco provável. “A Amil vem bastante agressiva em preço e tomando cliente da Hapvida no meio desse processo de venda, meio que numa estratégia de enfeitar a noiva”, afirma. “Mas a operação é muito deficitária e quem entrar vai ter de aumentar preço se quiser de fato ser rentável”.

Segundo ele, o pior cenário para a Hapvida seria que a Bain & Company levasse o ativo e repetisse o playbook da NotreDame Intermédica, que se fundiu à Hapvida no começo do ano passado. Na disputa pela Amil, a Bain está repetindo a dobradinha com Irlau Machado, responsável por transformar a Intermédica em uma das empresas mais rentáveis do setor.

Após a fusão com a Hapvida, Machado deixou o comando da nova empresa, que dividia com Jorge Pinheiro, em novembro do ano passado.

Acompanhe tudo sobre:MercadosEmpresasSaúdeHapvida

Mais de Exame IN

Finalmente, uma boa notícia para a Braskem. Agora vai?

O contrato que pode movimentar o mundo do streaming – e seus impactos para o Brasil

Nestlé aposta em autoprodução de energia no Brasil em parceria com a Enel

Fim do jejum? Cosan dá a largada para IPO da Moove nos Estados Unidos