Meio: objetivo é investir em conteúdo em vídeos, parte gratuitos e parte por assinatura, contam Pedro Doria e Vitor Conceição (Bruno Antonucci/Divulgação)
Diretor de redação da Exame
Publicado em 23 de abril de 2024 às 16h05.
Última atualização em 23 de abril de 2024 às 17h14.
O Canal Meio S.A., criado em 2016 pelo jornalista Pedro Doria, anunciou nesta terça-feira sua terceira rodada de investimentos, liderada pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Fraga passa a ser sócio minoritário e conselheiro. Em comunicado divulgado pela empresa, ele afirmou que o veículo é "sinônimo de qualidade e confiabilidade de fatos e boas análises. Não vivo sem".
O fundador do Gávea se une no Meio a um time relevante de investidores, como Silvio Genesini, ex-CEO da Oracle e ex-sócio da Accenture no Brasil, Jayme Garfinkel, acionista controlador da seguradora Porto, Marcelo Trindade, ex-presidente da CVM, e Haakon Lorentzen, presidente do conselho da Lorinvest.
Com o novo aporte, o Meio pretende investir em vídeos para reforçar sua oferta de conteúdo "freemium", com parte gratuita e parte paga via assinatura. A equipe deve passar de cerca de 30 para cerca de 70 pessoas. Atualmente, a companhia tem 70% de sua receita proveniente de assinaturas de R$ 150 por ano, 20% de anúncios e 10% de cursos sobre temas como política e comunicação com a imprensa.
"Nosso principal objetivo sempre foi recriar no ambiente digital o tradicional hábito de as pessoas colocarem a informação em suas rotinas", diz Vitor Conceição, cofundador e CEO do meio. "Começamos com uma newsletter, mas estamos expandindo. Agora, com maior oferta de vídeos, queremos reforçar essa missão, com entrevistas, comentários e documentários". A ideia é criar uma plataforma de streaming para atrair novos assinantes e ampliar a base de anunciantes.
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Segundo Conceição, a startup nasceu com o zeitgeist do mundo digital, com linguagem e oferta de produtos sob medida para uma nova forma de consumir conteúdo. "Numa época em que os jornais ainda falavam sobre novelas, nós começamos a falar de Netflix", diz. "A imprensa tradicional faz um ótimo trabalho, mas temos uma visão de negócio diferente, mais ágil e mais próxima da de mercados como o de tecnologia".
Uma das inspirações são as pesquisas de Clayton Christensen, histórico professor de inovação em Harvard que mostravam como startups disruptavam mercados ao oferecer produtos muito mais baratos e inicialmente com qualidade abaixo daquela dos líderes. Com o tempo, o custo segue menor, mas a qualidade passa a ser competitiva. Esta curva de inovação é o que o Meio sempre buscou a fazer na competição com os incumbentes: oferecer um produto ágil, bem-feito, sem excessos, e que caiba nas rotinas.
Outro pilar da startup, e que está por trás da estratégia de atração de investimentos, é o que os fundadores chamam de defesa da democracia num ambiente polarizado. "Todos os nossos investidores têm como objetivo o retorno financeiro, mas também veem valor no jornalismo como pilar da democracia", diz Conceição.
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"Temos veículos bolsonaristas, veículos petistas, veículos lavajatistas e cada vez mais veículos olhando de fora. Isso me preocupa muito", diz Pedro Doria. "Então entendemos nosso papel, neste momento de crise da democracia, de trabalhar para que este conceito mais tradicional de imprensa siga relevante. Por isso é preciso reinventar como contamos nossas histórias para a cultura digital".
Doria e Conceição se conheceram em 1995, quando trabalharam juntos num dos primeiros projetos digitais do Globo. Vinte anos depois, com Doria de saída do Globo e Conceição voltando de Oxford, decidiram se unir para empreender no desafiador mercado de mídia. O objetivo segue o mesmo de 8 anos atrás: ganhar dinheiro e construir relevância jornalística. Os desafios, de lá pra cá, não ficaram menores.